Capítulo treze

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— Preciso que me diga uma coisa antes de prosseguirmos com isso. — digo, baixo. Basta dobrar uma esquina e lá estará a casa de Amelia.

— O quê? — os olhos lentamente voltam ao normal, começando pelas veias marcadas na pele e depois pelos cantos, até que suas pupilas absorvam a anormalidade de volta.

— O que você é? Um vampiro? Um demônio?

— Você acha que eu sou um vampiro? — repete, com um sorriso minúsculo.

— Não daqueles brilhantes e metidos, mas... — ele me interrompe.

— É óbvio que isso não existe, Elie. — Sloan diz como se nunca tivesse ouvido algo tão imbecil, e nós voltamos a andar em direção à casa da minha amiga. Eu puxo a minha touca para baixo quando passamos perto de uma casa protegida por câmeras.

— Você não negou que é um demônio.

— Uma vez tentaram me afogar com água benta, mas não deu muito certo. E já perdi as contas das vezes em que tentaram me acertar com sal grosso, mas isso só presta na carne.

— Então o que você é, Sloan?

— Eu te pedi uma semana para explicar.

— Eu sei, mas você tem olhos pretos, caramba. Não percebe o quanto isso é estranho?

— Está começando a me ofender, Elie. Eu não falei mal do seu cabelo. — arregalo os olhos e estou a ponto de xingá-lo, quando vejo uma luz se acender na casa de Amelia, que está do outro lado da rua. Eu me jogo atrás de uma árvore fina e baixa.

Sloan, onde você se meteu? — sussurro alto. Ouço o barulho abafado de uma campainha sendo tocada e arregalo os olhos, olhando de soslaio para a porta da casa. Sloan está lá, parado, com as mãos nos bolsos. Ele vira a sua cabeça para mim e me chama com um aceno de cabeça. Arfo, sentindo o meu disfarce sendo jogado no lixo.

Eu ando até o meu ex-cúmplice, pensando em mil formas de repreendê-lo, quando vejo o pai de Amelia abrir a porta, vestindo um pijama azul e uma cara deslavada.

— Elie? — ele se surpreende, mas então ergue uma sobrancelha e cruza os braços, provavelmente supondo que já sei de tudo — O que você quer comigo a essa hora? — ele lança um olhar avaliador para Sloan — Acabei de chegar em casa depois de uma viagem cansativa, se você não se importar, eu quero ir dormir.

— Não se preocupe, ... — ele me olha, sugestivo.

— Richard.

— ... Richard. Nós não vamos tomar muito do seu tempo. Eu só vim te dizer que se você ousar olhar de lado para alguma mulher, eu vou atrás de você. — Sloan diz isso com uma leveza assustadora, eu não entendo de onde Richard tira coragem para gargalhar na cara dele e bater palmas.

— Você trouxe o seu namoradinho para me assustar, garota? Me lembra a sua mãe anos atrás. — o seu cabelo castanho está bagunçado, os olhos cobertos por olheiras, tão verdes que faziam Amelia reclamar de injustiça quando éramos crianças, ela queria tê-los herdado e agora eu agradeço por não se parecer nada com ele — Torça para que esse não te abandone também.

Eu dou um passo para trás, sem entender. Ele sempre foi educado, mesmo que reservado, comigo, e agora eu entendo o que Amelia teve que suportar por todos esses anos.

— Acho que você não entendeu o que eu acabei de dizer. — Sloan tira as mãos dos bolsos e o olha furioso, deixando qualquer tom de brincadeira de lado.

Dura menos de um segundo, mas já é o suficiente para me assustar absurdamente. Eu automaticamente pulo para longe dele e penso em chamar a polícia, mas engulo em seco e encaro Richard com uma sobrancelha erguida, como se soubesse que diabos está acontecendo aqui, ou o que Sloan é.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora