— Preciso que me diga uma coisa antes de prosseguirmos com isso. — digo, baixo. Basta dobrar uma esquina e lá estará a casa de Amelia.
— O quê? — os olhos lentamente voltam ao normal, começando pelas veias marcadas na pele e depois pelos cantos, até que suas pupilas absorvam a anormalidade de volta.
— O que você é? Um vampiro? Um demônio?
— Você acha que eu sou um vampiro? — repete, com um sorriso minúsculo.
— Não daqueles brilhantes e metidos, mas... — ele me interrompe.
— É óbvio que isso não existe, Elie. — Sloan diz como se nunca tivesse ouvido algo tão imbecil, e nós voltamos a andar em direção à casa da minha amiga. Eu puxo a minha touca para baixo quando passamos perto de uma casa protegida por câmeras.
— Você não negou que é um demônio.
— Uma vez tentaram me afogar com água benta, mas não deu muito certo. E já perdi as contas das vezes em que tentaram me acertar com sal grosso, mas isso só presta na carne.
— Então o que você é, Sloan?
— Eu te pedi uma semana para explicar.
— Eu sei, mas você tem olhos pretos, caramba. Não percebe o quanto isso é estranho?
— Está começando a me ofender, Elie. Eu não falei mal do seu cabelo. — arregalo os olhos e estou a ponto de xingá-lo, quando vejo uma luz se acender na casa de Amelia, que está do outro lado da rua. Eu me jogo atrás de uma árvore fina e baixa.
— Sloan, onde você se meteu? — sussurro alto. Ouço o barulho abafado de uma campainha sendo tocada e arregalo os olhos, olhando de soslaio para a porta da casa. Sloan está lá, parado, com as mãos nos bolsos. Ele vira a sua cabeça para mim e me chama com um aceno de cabeça. Arfo, sentindo o meu disfarce sendo jogado no lixo.
Eu ando até o meu ex-cúmplice, pensando em mil formas de repreendê-lo, quando vejo o pai de Amelia abrir a porta, vestindo um pijama azul e uma cara deslavada.
— Elie? — ele se surpreende, mas então ergue uma sobrancelha e cruza os braços, provavelmente supondo que já sei de tudo — O que você quer comigo a essa hora? — ele lança um olhar avaliador para Sloan — Acabei de chegar em casa depois de uma viagem cansativa, se você não se importar, eu quero ir dormir.
— Não se preocupe, ... — ele me olha, sugestivo.
— Richard.
— ... Richard. Nós não vamos tomar muito do seu tempo. Eu só vim te dizer que se você ousar olhar de lado para alguma mulher, eu vou atrás de você. — Sloan diz isso com uma leveza assustadora, eu não entendo de onde Richard tira coragem para gargalhar na cara dele e bater palmas.
— Você trouxe o seu namoradinho para me assustar, garota? Me lembra a sua mãe anos atrás. — o seu cabelo castanho está bagunçado, os olhos cobertos por olheiras, tão verdes que faziam Amelia reclamar de injustiça quando éramos crianças, ela queria tê-los herdado e agora eu agradeço por não se parecer nada com ele — Torça para que esse não te abandone também.
Eu dou um passo para trás, sem entender. Ele sempre foi educado, mesmo que reservado, comigo, e agora eu entendo o que Amelia teve que suportar por todos esses anos.
— Acho que você não entendeu o que eu acabei de dizer. — Sloan tira as mãos dos bolsos e o olha furioso, deixando qualquer tom de brincadeira de lado.
Dura menos de um segundo, mas já é o suficiente para me assustar absurdamente. Eu automaticamente pulo para longe dele e penso em chamar a polícia, mas engulo em seco e encaro Richard com uma sobrancelha erguida, como se soubesse que diabos está acontecendo aqui, ou o que Sloan é.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...