Capítulo quarenta

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  Estou sentada ao lado de Noah, a minha barriga está doendo de tanto rir, e ele acha graça da minha tentativa de não fazer barulho e acordar Cassandra. Ele está me contando de quando ele machucou o dedão no orfanato andando de bicicleta.

  Depois que consigo parar de rir, nós ficamos calados por um tempo, ouvindo apenas o silêncio da madrugada.

  — Noah? — ele se vira para mim no escuro. O fato dele não poder me ver faz com que eu me sinta menos desconfortável.

  — Oi?

  — Como você foi parar no orfanato?

  — Ah, a minha mãe me deixou lá quando eu era bebê.

  — Nossa, eu sinto muito.

  — Tudo bem, não tem como sentir falta de uma coisa que nunca tive, eu acho. — ele diz, mas não sei se é totalmente sincero.

  — Às vezes eu fico pensando se seria melhor se eu não tivesse conhecido o meu pai, se eu sofreria menos com a partida dele, sabe? —ele fica em silêncio — Nossa, acho que isso não foi legal. Eu não quis dizer que é mais fácil, me desculpe. — me sinto envergonhada.

  — Tudo bem. Bom... São dores diferentes, sabe? Não mais nem menos doloroso, só há a dor da saudade e a dor da solidão. Eu sempre senti receio de construir uma família e isso acontecer com meus filhos.

  Eu arfo, meio desconfortável. Mesmo com esse papo, não consigo me sentir triste ou pensar em coisas ruins. Não com ele ao meu lado.

  Sinto sua mão quente tocar a minha gelada e eu arrepio por inteiro. Todo o meu corpo parece ficar mais sensível, eu quero sentir qualquer mínimo movimento ou toque dele, como se o meu peito estivesse clamando por a sua aproximação, como se eu necessitasse disso.

  Eu tento não ser estranha e pedir para que ele me toque, mas a minha mão estremece embaixo da sua e ele toma isso como um sinal. De um jeito lento que chega a ser doloroso, Noah desliza as pontas dos dedos suavemente pelo pulso. Eu suspiro e só consigo pensar que quero mais disso, quero mais proximidade, mais da sua pele roçando na minha.

  Seus dedos vão subindo pelo meu antebraço, se arrastando até chegar no meu ombro. Ele aproxima o seu rosto quando sua mão chega no meu pescoço. A respiração quente de Noah acaricia o vão entre a minha orelha e pescoço. Eu arfo outra vez, o som sai baixinho porque tento prendê-lo na minha garganta.

  O loiro encaixa a sua mão na minha nuca em um carinho que faz com que eu feche os olhos, quando ele vira o meu rosto em sua direção, eu os abro e espero encarar a escuridão da madrugada, imaginando como seria poder ver o seu olhar firme sob mim.

  Sinto um beijo delicado no meu queixo, e tenho a sensação de que ele quer me torturar até que eu não aguente mais a vontade de ter a sua boca na minha. Os seus dedos deslizam outra vez pela minha nuca e ele se inclina levemente sobre mim. Num impulso, levo a minha mão até o seu rosto e puxo-o para mim. Preciso dele.

  Ele se aproxima mais e eu penso que vai beijar os meus lábios, mas sua boca encontra o meu maxilar e deposita dois beijos demorados ali.

  — Noah. — eu arfo.

  Ele murmura um "sim?" arrastado contra a minha pele e eu sinto meu corpo fervendo. Quando abro os olhos, uma luz avermelhada ilumina a sala, fraca demais para que eu consiga ver qualquer móvel, mas suficiente para que eu veja o seu rosto na minha frente, a pele levemente vermelha pela luz e o cabelo loiro parece ruivo com a iluminação. Noah percebe o que eu fiz, e se afasta a poucos milímetros de mim, apenas para colocar a mão na lateral da minha bochecha e observar os meus olhos, que agora estão cobertos por uma cor vermelha que chega a emitir certa luz. Ele não fica assustado ou enojado, pelo contrário, parece até extasiado pelo que vê.

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