Capítulo vinte e um

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  Indo o mais rápido possível até a casa do meu avô, eu finalmente consigo pensar em algo que não seja a Elie. Sinto vontade de gritar, de culpar alguém, mas a única pessoa que vem em minha mente sou eu mesmo, por não ter percebido que ele estava se arriscando demais ficando tão perto de Amélia. Eu devia ter o alertado.

  O que acontece com Nico é que Zarina não fez apenas uma maldição. Houve outra, só que esta sendo direcionada à sua própria família e não se trata de mortes, mas justamente o contrário: seus descendentes permanecem imortais pelo tempo que quiserem, se alimentarem-se com "sangue" humano. Não é nada como nos livros de vampiros, mas sim como canibalismo.

  É claro que ele decidiu não fazer isso e ser um ser humano comum porque, obviamente, a bruxa não tem nenhum parafuso no lugar e é completamente louca. O problema é que desde que a viu anos atrás, passou a nutrir um desejo insano por Amélia e pelo seu sangue, ele teria feito o que queria fazer com ela caso eu não o tivesse impedido — Elie ficaria arrasada e ele ficaria louco de vez.

  Por um lado, tudo isso que envolve a imortalidade é positivo: Zarina pode estar viva e se a acharmos teremos uma chance de descobrir como acabar com a maldição, além de que o seu sangue poderia garantir uma vida sem fim para Nico.

  — O que fizeram com ele? — pergunto enquanto entro na casa e seguro o celular no meu ouvido.

  — Está preso... — o meu avô interrompe Jessica do outro lado da ligação que provavelmente está no viva-voz. Eu vim rápido demais e eles ainda estão na metade do caminho para cá.

  — Está no porão de casa, ele não para de murmurar o nome de Amélia e de falar sobre se machucar. Pelo que entendi, mais cedo ele estava a ponto de perder o controle e a Elie chegou os interrompendo. — estou a ponto de desligar quando Stewart continua — E Sloan...

  — O que foi?

  — Eu acho que ele já fez isso alguma vez. — eu arfo e sinto a minha cabeça latejar.

  Quando chego até onde Nico está, encontro a familiar porta preta que guarda o portão, ela está amassada e trancada por correntes e cadeados.

  Eu empurro a porta de ferro depois de abrir todas as suas trancas, e me ponho dentro do lugar em menos de um segundo, fechado a porta atrás de mim. Está um pouco escuro e, agora, quieto. O meu amigo está em um canto do cômodo, sentado no chão, as costas apoiadas na parede e veste apenas uma calça clara, a blusa rasgada jogadas perto dos seus pés.

  Quando Nico nota a minha presença, os olhos amarelados brilham atrás do antebraço, que tampa a sua boca e nariz, levo alguns segundos até notar que o que na verdade ele faz é rasgar a sua pele com os próprios dentes. Vou até ele e puxo-o da sua boca, rasgo a minha camisa antes de me ajoelhar ao seu lado.

  — Olhe para mim. — ergo o seu rosto com uma mão e vejo os cantos da sua boca sujos de sangue. Seus olhos estão semicerrados e distantes, o peito acelerado — Nicolas, caralho, olha pra mim. — seu olhar finalmente encontra foco no meu rosto. Começo a enrolar a minha camisa no seu antebraço enquanto ouço a sua respiração.

  — Sabe, cara... — murmura, mas continuo concentrado no pano agora sujo.

  — Fala.

  — Segundo a mitologia grega — reviro os olhos, é a mesma história que ele conta toda vez que se sente injustiçado —, os humanos, no começo, tinham duas cabeças, quatro braços e quatro pernas... — ele geme quando eu aperto o seu braço com firmeza, a sua voz está fraca e arrastada — ... e Zeus achou que eles tinham poder demais. O cara se sentiu ameaçado, sabe?

  Assinto para Nico, ele fica em silêncio por alguns segundos.

  — O quê? — fecha os olhos com força.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora