Indo o mais rápido possível até a casa do meu avô, eu finalmente consigo pensar em algo que não seja a Elie. Sinto vontade de gritar, de culpar alguém, mas a única pessoa que vem em minha mente sou eu mesmo, por não ter percebido que ele estava se arriscando demais ficando tão perto de Amélia. Eu devia ter o alertado.
O que acontece com Nico é que Zarina não fez apenas uma maldição. Houve outra, só que esta sendo direcionada à sua própria família e não se trata de mortes, mas justamente o contrário: seus descendentes permanecem imortais pelo tempo que quiserem, se alimentarem-se com "sangue" humano. Não é nada como nos livros de vampiros, mas sim como canibalismo.
É claro que ele decidiu não fazer isso e ser um ser humano comum porque, obviamente, a bruxa não tem nenhum parafuso no lugar e é completamente louca. O problema é que desde que a viu anos atrás, passou a nutrir um desejo insano por Amélia e pelo seu sangue, ele teria feito o que queria fazer com ela caso eu não o tivesse impedido — Elie ficaria arrasada e ele ficaria louco de vez.
Por um lado, tudo isso que envolve a imortalidade é positivo: Zarina pode estar viva e se a acharmos teremos uma chance de descobrir como acabar com a maldição, além de que o seu sangue poderia garantir uma vida sem fim para Nico.
— O que fizeram com ele? — pergunto enquanto entro na casa e seguro o celular no meu ouvido.
— Está preso... — o meu avô interrompe Jessica do outro lado da ligação que provavelmente está no viva-voz. Eu vim rápido demais e eles ainda estão na metade do caminho para cá.
— Está no porão de casa, ele não para de murmurar o nome de Amélia e de falar sobre se machucar. Pelo que entendi, mais cedo ele estava a ponto de perder o controle e a Elie chegou os interrompendo. — estou a ponto de desligar quando Stewart continua — E Sloan...
— O que foi?
— Eu acho que ele já fez isso alguma vez. — eu arfo e sinto a minha cabeça latejar.
Quando chego até onde Nico está, encontro a familiar porta preta que guarda o portão, ela está amassada e trancada por correntes e cadeados.
Eu empurro a porta de ferro depois de abrir todas as suas trancas, e me ponho dentro do lugar em menos de um segundo, fechado a porta atrás de mim. Está um pouco escuro e, agora, quieto. O meu amigo está em um canto do cômodo, sentado no chão, as costas apoiadas na parede e veste apenas uma calça clara, a blusa rasgada jogadas perto dos seus pés.
Quando Nico nota a minha presença, os olhos amarelados brilham atrás do antebraço, que tampa a sua boca e nariz, levo alguns segundos até notar que o que na verdade ele faz é rasgar a sua pele com os próprios dentes. Vou até ele e puxo-o da sua boca, rasgo a minha camisa antes de me ajoelhar ao seu lado.
— Olhe para mim. — ergo o seu rosto com uma mão e vejo os cantos da sua boca sujos de sangue. Seus olhos estão semicerrados e distantes, o peito acelerado — Nicolas, caralho, olha pra mim. — seu olhar finalmente encontra foco no meu rosto. Começo a enrolar a minha camisa no seu antebraço enquanto ouço a sua respiração.
— Sabe, cara... — murmura, mas continuo concentrado no pano agora sujo.
— Fala.
— Segundo a mitologia grega — reviro os olhos, é a mesma história que ele conta toda vez que se sente injustiçado —, os humanos, no começo, tinham duas cabeças, quatro braços e quatro pernas... — ele geme quando eu aperto o seu braço com firmeza, a sua voz está fraca e arrastada — ... e Zeus achou que eles tinham poder demais. O cara se sentiu ameaçado, sabe?
Assinto para Nico, ele fica em silêncio por alguns segundos.
— O quê? — fecha os olhos com força.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...