Capítulo trinta e cinco

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  Nós estamos todos sentados na sala: eu, Stewart, Jessie, a minha mãe e o casal. O clima está tenso e por algum motivo eu não consigo olhar para o rosto de Arthur.

— Se trata da criança. Ela é a chave para isso.

— Como? — Stewart pergunta para a minha mãe, mas algo me diz que ele já sabe a resposta.

— Se a criança não chegar aos nove anos completos, não há o seguimento da maldição. A nona primavera é a resposta. O Arthur continuará sendo uma fera, mas Cassie continuará viva.

— Mas como ninguém nunca pensou nisso? É óbvio demais. — Arthur pergunta.

— Outros já pensaram. O problema não é o que deve ser feito, mas como. Enquanto no ventre a criança é praticamente imortal, porque há a maldição presente nela e a maldição presente na mãe juntas.

— Então deve ser feito depois do nascimento. — Stewart conclui.

— Sim, alguém poderoso o suficiente talvez consiga.

— Alguém?

— Um descendente de Zarina.

— Você? — Arthur pergunta.

— Não, alguém melhor do que eu. — a minha mãe se vira para mim e então todos me olham — Elisa tem mais poder do que qualquer descendente que eu já conheci. Mas, ainda assim, eu não sei se ela conseguiria sozinha. Se eu ajudá-la as chances são maiores.

  Eu procuro algo para dizer, mas a minha preocupação se torna só uma: Cassandra. Os seus olhos estão lacrimejados, o olhar assustado. Completamente o oposto, seu namorado parece empolgado com a notícia.

  É como se Arthur não estivesse entendendo que estamos falando sobre matar um bebê inocente, um bebê dele e de Cassie. Ou melhor, ele parece não ligar, contanto que consiga o que quer.

  É início de madrugada e eu não consigo dormir. Da minha cama, consigo ouvir a minha amiga fungando enquanto chora; eu sinto o meu peito apertado, mas não sei o que fazer.

— Elisa? — ela sussurra em meio à escuridão do nosso quarto — Você está acordada, né?

— Sim.

— Eu e o Arthur brigamos.

— O que aconteceu? — me viro para a direção da sua voz.

— Você acha que eu estou errada em não querer matar um bebê? Um bebê meu?

— De qualquer forma, você estará escolhendo entre duas vidas.

  Ouço-a soluçar. Não imagino como deve ser ter uma decisão dessas em seus ombros.

— Você pode ter dúvidas e pensar, Cassie. Não existe uma decisão certa ou errada nessa situação.

— Eu não queria ter que escolher. — sua voz se torna mais aguda — Ou pelo menos não ter que escolher sozinha. Só que ele tem a mente tão fechada.

  Eu fico em silêncio, sem saber o que dizer.

— Ele não tem que...

— Eu sei, a decisão é minha. Mas eu queria que ele conversasse comigo, eu me sinto sozinha.

— Talvez ele já esteja mais aberto a conversas agora. Por que você não tenta falar com ele?

  Eu a conheço e sei que ela não conseguirá dormir sem que resolva isso antes.

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