Capítulo dezenove

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  Quando eu acordo, é como se algo estivesse errado. Sinto minhas mãos suarem frio e meu estômago parece ter virado de gelo. Levanto da cama, engolindo o bolo que se formava nela, e percebo que o cheiro masculino que eu esperava sentir não está mais aqui. Está tudo em seu devido lugar, como se a vida lá fora estivesse em perfeita harmonia. É com esse pensamento — harmonia —, eu me lembro do que aconteceu com Sloan e sinto uma vontade enorme de checar se ele está bem.

  Pego o meu celular com a intenção de enviar uma mensagem para ele, mas então me lembro que nem tenho o seu número. É estranho, eu me sinto como uma idiota me sentindo tão próxima a uma pessoa que eu nem tenho salva na minha agenda, mas é como se nos conhecêssemos há várias vidas.

  Deixo o celular na cama e vou para o banheiro antes de esvaziar a bexiga e escovar os dentes. Prendo o cabelo num rabo de cavalo enquanto encaro o meu reflexo sem graça no espelho.

  Quando eu entro no corredor, vou às pressas até a sala porque ouço o som da TV ligada e automaticamente associo Sloan a ela; só que quando chego lá encontro Amélia e Nico, ela deitada em seu colo. Só de ver os seus machucados recentes, eu me lembro do seu pai e sinto o meu sangue ferver. Nico nota a minha presença.

  — Oi, Elie.

  — Oi. Cadê o Sloan? — me sento no sofá menor.

  Ele franze o cenho.

  — Eu não sei como essas coisas funcionam, mas ele já está bem de novo, né?

  — Não sei do que está falando. — ele coça a nuca e eu engulo em seco, sentindo que a minha paciência não está em seus melhores dias.

  — Isso de perder o controle acontece muito?

  — Quê?

  — Por que você não responde nenhuma das minhas perguntas? Que droga. — tento me controlar e coço a sobrancelha, batendo os pés no chão. Nico continua com o semblante confuso, então olha para a namorada como se buscasse ajuda.

  — Elie, do que você está falando? — a morena finalmente se pronuncia.

  — Eu quero saber sobre esses descontroles do Sloan, se são comuns, se ele se machuca, o que fazer... — o de olhos amarelados não me responde nem quando digo com todas as letras, e sinto que estou me segurando para não gritar com ele — Amélia, fala pra ele me responder! — praticamente grito e sinto meu rosto quente de raiva.

  — Ei, calma. — ela força um riso — Nico, acho melhor você ir. Mais tarde eu te ligo e nós combinamos melhor. — Nico assente e trocam um selinho antes de ele se despedir de forma receosa e ir.

  — Que droga está acontecendo, Amélia?

  — Eu que te pergunto. — revira os olhos — Quem diabos é Sloan?

  Forço uma gargalhada seca antes de a olhar furiosa.

  — Você só pode estar de brincadeira, né? Não tem graça. — ela me olha com uma careta esquisita, como se eu fosse um inseto.

  — Eu não sei de quem você está falando, juro. — ela anda até a cozinha e eu a sigo.

  — Me fala onde o Nico te disse que ele está.

  — Olha, Elie, eu te conto tudo o que o Nico me disse hoje, mas nada tem ligação com nenhum Sloan. — vê-la respirar fundo e abrir a geladeira de forma irritantemente calma, me deixa pior.

  — Amélia, eu tô perdendo a paciência. Que tipo de brincadeira ridícula e infantil é essa? — então ela suspira e finalmente me leva a sério.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora