Narrado por Sloan
É bom ver Elie sorrindo. Ela come o macarrão de Amélia com tanta felicidade que parece nunca ter comido massa em toda a sua vida, mas eu sei que não é só por isso que ela está animada. Pelo que percebi, a sua mãe e ela se resolveram (ou quase isso), e isso a deixa mais feliz do que ela nota, além de que eu estou de volta em sua vida e está tudo bem agora. Eu estou prestes a sorrir, mas sinto um peso estranho sobre mim e meu olhar encontra o de Nico, o que me faz lembrar que não, não está tudo bem agora — na verdade, provavelmente está tudo pior.
— Com licença, eu já volto. — o meu melhor amigo diz antes de se levantar de mesa de jantar e ir até o corredor, o sigo — O que você vai fazer? — ele se vira para mim e arfa.
— Eu não sei.
— Estar com a Elie pode estar te afetando, Sloan, não se esqueça de que tem algo entre vocês que te enfraquece. Eu nunca fui fã do plano idiota da Rose, mas estar longe dela tinha o seu lado positivo.
— Eu não vou deixá-la de novo.
— Eu sei, e não deve, mas deixe os seus pés no chão. Tudo ao nosso redor ainda está cooperando para o fim de vocês, o fim dela, e nós não podemos afrouxar e fingir que o seu pai não está nos vigiando.
— É só hoje. É o aniversário dela e nós a devemos isso. Só um dia normal, como se ela não tivesse algo tão pesado nas costas.
— Para ela, então. Não se deixe esquecer do destino de vocês também.
Assinto, sentindo um gosto amargo na boca.
— Olha, eu sei que você também quer uma vida normal, mas por enquanto não podemos dar mole.
— Como eu posso sentir falta de algo que nunca tive?
Nicolas engole em seco, dando de ombros.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, e então ele olha ao redor antes de me fazer uma pergunta que eu estive tentando evitar.
— Você vai contar para ela?
— Só se eu precisar. — ele balança a cabeça.
— Eu não sei se é o certo, mas é o que eu faria.
Nico volta para a mesa com os outros e eu me sinto sufocado por tanta pressão. Entro no banheiro que fica no corredor e paro em frente a pia. A minha respiração está descompassada e o peito apertado.
Fecho os olhos e arfo, tentando me acalmar, mas quando os abro e encaro o espelho, vejo que estão pretos como o céu lá fora. Me sinto leve, como se estivesse há tempo demais com uma roupa pesada sobre mim.
A única luz que reflete no espelho é a que vem da lua lá fora, iluminando um lado do meu corpo e fazendo sombra no outro. Meu cabelo está desarrumado, esquecido, enquanto a minha boca tenta controlar a minha respiração. Por fim, as veias sobressaltadas ao redor dos meus olhos, como se de lá viesse o preto que agora cobre minhas escleras — um recado que grita que essa parte feia de mim vem do sangue que corre nelas.
Eu quero sair por essa porta com os meus olhos tão escuros quanto quando eu realmente sou eu mesmo, sem ter que me controlar e nem me forçar a gostar de todos que estão lá fora. Porque a realidade é essa: eu não gosto. Eu quero avançar em Rose e acabar com ela por complicar mais as coisas, como se tudo já não fosse uma merda grande o suficiente. Quero matar Victor porque sei que ele no fundo quer me matar para dar um fim em tudo nisso — afinal, às vezes até eu quero. Sinto vontade de atacar Nico porque ele me repreende quando eu já sei que estou errado, e não me deixa esquecer por nem um segundo do que há ao meu redor. Amélia merece sofrer por ter deixado a amiga à beira da locura, assim como eu mereço. E até Elie... Ela não deveria ter tanto efeito sobre mim, me tirando do controle e me puxando para ele ao mesmo tempo.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...