Capítulo dezesseis

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As paredes são de cor creme, o piso branco e uma sala de TV enorme que tem um tapete preto estendido no centro, depois de uma televisão enorme suspensa na parede. Os sofás marrons são os maiores que já vi e há um quadro grande ao lado da escada que, visto de longe, parece ser todo preto.

— Jessica. — uma voz grossa chama alto — Por favor, se componha. — ela cruza os braços e acho que vai retrucar o dono da voz, mas respira fundo e sai. Quando ele chega no primeiro andar, me olha fixamente.

É um senhor que aparenta ter a mesma idade de Jessie. Ao se aproximar mais, percebo que os seus olhos brilham tanto quanto o lustre enorme que enfeita a entrada. São tão azuis quanto os de Sloan, além dos traços parecidos, como a boca e o nariz.

— Prazer em conhece-la, Elie, sou Stewart. O avô de Sloan.

Não sei se o mais estranho é que eles sabem o meu nome sem eu ter me apresentado, ou o fato dos dois terem nomes de personagens de desenhos que eu via quando era mais nova.

— O prazer é meu, senhor Stewart.

— Por favor, não precisa do senhor. — respondo com um sorriso, mas acho que a minha expressão grita que eu estou desesperada. Stewart se vira para o quadro que eu olhava segundos atrás — Eu também ficaria curioso no seu lugar. — o senhor anda até a pintura e nós o seguimos.

Está pintado de preto quase por completo e só olhando de perto eu consigo ver as outras cores de tinta. No centro estão pintados dois olhos, suas íris são idênticas às de Sloan, brilhando lá no fundo. Um sorriso presunçoso está espalhado pelo suposto rosto, como se tampado por uma sombra, mas ainda presente. Por fim, uma mão está estendida em minha direção, como se tentando me tocar, quase engolida pela escuridão. No canto inferior esquerdo, está escrito A Grande Fera. Eu prefiro chamá-la de homem-com-expressão-demoníaca. Algo no fundo da minha mente pede para que não seja o Sloan nesse quadro, um Sloan assustador que está se perdendo no escuro.

Atrás de mim, está Stewart. Ele tem a mesma altura do neto, seus cabelos são brancos e se estendem até abaixo das suas orelhas, tem a barba cheia e bem cuidada, que tampa seu pescoço, protegido pela gola alta da sua blusa preta e de mangas longas. A primeira coisa que notei quando o vi é que a genética da sua família é forte. Estar sozinha com os dois me faz tremer de medo, e eu queria que Jessica ainda estivesse aqui com nós, mesmo que chorando.

O meu coração está acelerado. Sloan é a Grande Fera?

— Ela é diferente das outras, Sloan, tem certeza que é a certa? — o senhor cruza os braços fortes.

— Sim. — me viro para ele, sem entender.

Outras?

Sloan começa a se pronunciar, mas Stewart o interrompe.

Como assim outras? Outras garotas que ele salvou de drogados? Outras namoradas? Meu coração se aperta. De repente sinto uma necessidade urgente de ir embora.

— Antes de explicar o que eu quis dizer, é preciso contar a você o motivo de ter sido traga até aqui.

Eu busco o olhar do mais novo, mas ele está olhando para o chão, de braços cruzados. Sloan parece desolado, ao contrário do seu avô, com o olhar firme, que me guia até o sofá e se senta numa poltrona em minha frente. Espero que o meu ex-herói se sente ao meu lado, mas ele vai para a outra ponta do sofá e descansa os cotovelos nos joelhos.

— Há muito tempo, um homem rico e poderoso tinha como hobby iludir mulheres e depois descartá-las... Um dia, ele foi em até uma festa, numa cidade distante da sua. Lá ele comeu, bebeu e dançou; até que se esbarrou com uma mulher maravilhosa. Depois de conhecê-la mais além, descobriu que além de bonita como uma deusa, era doce como o mel. A mulher era sinônimo de pureza, inocente como a mais criança mais jovem: perfeita para o que ele mais gostava de fazer. Ele a seduziu, fez juras de amor nos dias que se seguiram, e ela acreditou. Um dia, acordou sozinha na cama em que tinha acabado de perder a sua pureza. Foi uma surpresa apenas para ela. A mulher chorou até não aguentar mais, e depois de esperá-lo com uma fé cega durante nove dias, acabou se matando. O que o homem não sabia é que ela era filha de uma bruxa, esta que ficou sabendo da covardia do homem e lançou nele uma maldição.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora