Capítulo quatorze

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 Victor, o meu pai, era lutador e me ensinou alguns movimentos e golpes caso algo me acontecesse, mas agora isso parece não me servir de nada, considerando o dobro do tamanho e força que Sloan tem, comparado a mim. Clamo mentalmente pedindo que ele tropece, desmaie, se arrependa... Nada acontece.

Quando paramos, sinto meu coração ficar acelerado — o que eu achava que era impossível. Não tenho mais lágrimas para derramar e as minhas mãos suam frio, além da dor latejante que sinto no braço direito (constante alvo da sua mão). Não abro os olhos, não quero ver uma mata escura e feia antes de morrer.

Eu achei que ele fosse me jogar em algum tipo de cova, mas dá exatamente dezesseis passos antes de me colocar no chão. Dessa vez, não é rude quando me diz para abrir os olhos; pelo contrário, parece empolgado, ansioso, mas mesmo assim não o obedeço, como se minhas pálpebras fossem grudadas por cola.

Eu não vou te machucar. — sussurra. Depois de um longo tempo estranhamente quieto, eu já estou mais calma e semicerro os olhos, esperando receber um soco. O que eu vejo não me lembraria nunca uma cova.

Um pequeno lago se estende em minha frente. O mato que o contorna está branco por causa da geada, e menos da metade da água está congelada. Um pouco à frente do lago há um banco antigo recentemente pintado, onde podem caber quatro ou cinco pessoas sem nenhuma dificuldade, ele está ao lado de uma grande árvore retorcida.

O vento bate na árvore e faz, de pouco a pouco, cair o gelo que forma um cobertor em cima dos seus galhos secos. O clima está gelado, e o lugar simples é iluminado por dois postes de tamanho médio e luz amarelada, também reformados há pouco tempo.

Olho Sloan, que parece receoso.

— O que é isso? Vai me matar aqui? — meu coração desacelerou aos poucos, mas continuo com medo.

Pelo menos é uma visão bonita antes de morrer.

— Não. Aqui é o meu lugar preferido, eu tentei deixá-lo mais bonito para você, mas não consegui te trazer aqui antes. Existem tantos lugares legais espalhados por aí e eu deveria achar estranho ele gostar de um lago parcialmente congelado, mas algo me diz que ele se tornará meu lugar favorito também.

— Então era aqui que você queria me trazer?

— Sim. — a sua mão se move, mas permaneço quieta. Com lentidão o suficiente para que eu não me assuste e saia correndo, ele pega a minha mão e me leva até o banco, que está quase livre de neve por causa da proteção que a árvore lhe dá. Sloan faz com que eu me sente no meio, mas me afasto para a outra ponta, por precaução.

— Não queria ter te assustado, eu acho.

— Tudo bem, eu acho. Fiquei com medo quando me lembrei do que você fez com aqueles homens. E você pareceu gostar de me ver assustada.

— Você fica bonita quando se assusta. ­— é o elogio mais estranho que eu já recebi, e ele não respondeu o que falei por último.

— Obrigada. — o olho, mas ele está encarando o lago, sem tentar se aproximar.

Ficamos em silêncio encarando a água congelada. Silêncio este que aprece confortável para ele, não para mim.

— Eu preciso te fazer algumas perguntas.

— Por favor, não agora. Quero fingir que não sou um monstro para você.

— Quando, então?

— Quando eu quiser responder.

Ele para de olhar para o lago e me fita com o semblante sério, mas não tenho coragem de fazer o mesmo.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora