Victor, o meu pai, era lutador e me ensinou alguns movimentos e golpes caso algo me acontecesse, mas agora isso parece não me servir de nada, considerando o dobro do tamanho e força que Sloan tem, comparado a mim. Clamo mentalmente pedindo que ele tropece, desmaie, se arrependa... Nada acontece.
Quando paramos, sinto meu coração ficar acelerado — o que eu achava que era impossível. Não tenho mais lágrimas para derramar e as minhas mãos suam frio, além da dor latejante que sinto no braço direito (constante alvo da sua mão). Não abro os olhos, não quero ver uma mata escura e feia antes de morrer.
Eu achei que ele fosse me jogar em algum tipo de cova, mas dá exatamente dezesseis passos antes de me colocar no chão. Dessa vez, não é rude quando me diz para abrir os olhos; pelo contrário, parece empolgado, ansioso, mas mesmo assim não o obedeço, como se minhas pálpebras fossem grudadas por cola.
— Eu não vou te machucar. — sussurra. Depois de um longo tempo estranhamente quieto, eu já estou mais calma e semicerro os olhos, esperando receber um soco. O que eu vejo não me lembraria nunca uma cova.
Um pequeno lago se estende em minha frente. O mato que o contorna está branco por causa da geada, e menos da metade da água está congelada. Um pouco à frente do lago há um banco antigo recentemente pintado, onde podem caber quatro ou cinco pessoas sem nenhuma dificuldade, ele está ao lado de uma grande árvore retorcida.
O vento bate na árvore e faz, de pouco a pouco, cair o gelo que forma um cobertor em cima dos seus galhos secos. O clima está gelado, e o lugar simples é iluminado por dois postes de tamanho médio e luz amarelada, também reformados há pouco tempo.
Olho Sloan, que parece receoso.
— O que é isso? Vai me matar aqui? — meu coração desacelerou aos poucos, mas continuo com medo.
Pelo menos é uma visão bonita antes de morrer.
— Não. Aqui é o meu lugar preferido, eu tentei deixá-lo mais bonito para você, mas não consegui te trazer aqui antes. Existem tantos lugares legais espalhados por aí e eu deveria achar estranho ele gostar de um lago parcialmente congelado, mas algo me diz que ele se tornará meu lugar favorito também.
— Então era aqui que você queria me trazer?
— Sim. — a sua mão se move, mas permaneço quieta. Com lentidão o suficiente para que eu não me assuste e saia correndo, ele pega a minha mão e me leva até o banco, que está quase livre de neve por causa da proteção que a árvore lhe dá. Sloan faz com que eu me sente no meio, mas me afasto para a outra ponta, por precaução.
— Não queria ter te assustado, eu acho.
— Tudo bem, eu acho. Fiquei com medo quando me lembrei do que você fez com aqueles homens. E você pareceu gostar de me ver assustada.
— Você fica bonita quando se assusta. — é o elogio mais estranho que eu já recebi, e ele não respondeu o que falei por último.
— Obrigada. — o olho, mas ele está encarando o lago, sem tentar se aproximar.
Ficamos em silêncio encarando a água congelada. Silêncio este que aprece confortável para ele, não para mim.
— Eu preciso te fazer algumas perguntas.
— Por favor, não agora. Quero fingir que não sou um monstro para você.
— Quando, então?
— Quando eu quiser responder.
Ele para de olhar para o lago e me fita com o semblante sério, mas não tenho coragem de fazer o mesmo.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...