Capítulo vinte e oito

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  Me sento na cama em um pulo. O quarto está escuro, mas eu posso ouvir outra respiração aqui além da minha. Pisco, sentindo meus olhos pesados e a minha garganta seca, e me pergunto como mesmo eu vim parar aqui. Eu me lembro de ficar quase que inconsciente e ouvir sons de corpos se batendo e um homem gritando, e quando eu consegui olhar para os lados, a única coisa que consegui ver foi Sloan usando um bastão de choque de alguém.

  Aqueles caras tinham aquilo desde o início? Ainda bem que não usaram em mim.

  Eu forço a minha memória, e finalmente me recordo de quando fui pega pelos braços de Nico, enquanto Sloan descontava toda a sua raiva nos homens que tentaram me levar, literalmente, a força. O meu corpo está suado e minha respiração ofegante. Eu tive um pesadelo, onde aqueles caras conseguiam me levar para o hospital e faziam coisas terríveis comigo.

  Eu tiro o edredom grosso de cima do meu corpo e me levanto. Acendo a luminária ao meu lado e me assusto ao ver que a outra respiração que eu ouvia era de um cachorrinho branco. Deitado nos pés da cama, ele acorda quando eu ilumino o quarto e me olha com o rabinho balançando. Estranho, pensando que isso é algum tipo de sonho esquisito, mas, outra vez, tenho uma lembrança esquecida: Sloan estava com esse cachorro quando chegou e viu o que estava acontecendo.

  "Sloan está parado no fim da rua, a sua boca está entreaberta e a pele mais pálida, além do cabelo bagunçado. Os seus olhos estão furiosos, o preto ao redor deles nunca foi tão aterrorizante. Ele segurava um pequeno cachorro branco em seus braços, mas o solta no chão um segundo antes de vir andando em minha direção com passos apressados."

  Eu me abaixo para tocar no pelo macio do cão, mas ouço vozes do lado de fora do quarto e me aproximo da porta fechada para ouvi-las.

  — Então nós dizemos que isso é uma alucinação dela. — a minha mãe diz.

  — Você só pode estar de brincadeira, né? Você tem merda na cabeça? — Nico responde e a voz de Amélia o repreende.

  — Victor, o que você acha disso? Está do meu lado ou do deles?

  — Estou do lado da Elie. O que você acharia se fizessem isso com você, Rose? Você se envolveu comigo só para que eu te apoiasse quando essa hora chegasse? — ele demora um pouco para responder e abaixa o tom na última parte.

  — Eu não posso deixar esse monstro se aproximar da minha filha. — a minha mãe me faz arrepiar.

  — Está falando de si mesma ou de mim? — ouvir a voz dele me faz girar a maçaneta sem pensar duas vezes.

  Eu abro a porta e vejo todos reunidos no corredor, recebendo seus olhares. Victor está furioso, Amélia confusa, e Sloan está a ponto de pular no pescoço da minha mãe, mas eu não ligo para nada, só o encaro enquanto sinto o meu coração a mil e o meu corpo todo tremer.

  Fico estática, paralisada, e o seu olhar gruda no meu. Eu não sei o que fazer, quero perguntar o que está acontecendo ou aconteceu, quero brigar com ele e ao mesmo tempo abraçá-lo. Sinto que somos só nós dois no corredor.

  Sloan se desencosta da parede e parece a ponto de falar algo, mas se interrompe quando dá um passo em minha direção e me puxa para os seus braços. Ele me aperta, sufoca, mas eu não ligo. O calor dos seus braços, a pressão que eles fazem em mim, afasta para longe qualquer tremedeira ou receio, e eu passo a chorar como um bebê.

  Não me importo em abraçá-lo de volta, apenas me encolho enquanto sinto ele me passar a segurança que há dias eu não sentia.

  Todas as lágrimas que eu ultimamente me obriguei a segurar, escapam de forma desesperada de dentro de mim. Eu tento me controlar, tento falar algo, mas não consigo. Só depois de ele ter se afastado eu percebi o quanto ele fazia a diferença, até mesmo quando eu não conseguia vê-lo ou nem sabia da sua existência.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora