Narrado por Elie
Nós fizemos uma maratona de filmes natalinos por todas as plataformas de streaming possíveis, e eu me lembro de ir dormir quando o dia estava amanhecendo; simplesmente apaguei sob um balde de pipoca, cheia de brownie e sorvete. Elisa e eu rimos muito debaixo das cobertas da sua cama, em uma noite tranquila que me fez sentir como se uma parte vazia do meu coração estivesse sendo preenchida aos poucos, e não houvesse nenhum mal que pudesse nos alcançar lá fora.
Às nove da manhã, acordei com o meu celular vibrando debaixo do meu travesseiro. Noto que dormi coberta por uma colcha mais grossa do que a de quando peguei no sono.
— Elie. — a voz de Sloan me chama do outro lado da linha, mas a interrompo.
— Bom dia para você também. — digo baixo. Ouço a sua respiração ser atrapalhada por um sorriso, e sorrio de olhos fechados.
— Hoje é o último dia de inscrições da faculdade. Tinha um post-it no espelho do banheiro. — sinto o peso ser colocado nos meus ombros logo de manhã — E eu preciso que você vá comigo até a loja de materiais de construção, e depois ao apartamento.
— Está bem, vou só escovar os dentes e já saio daqui. — ele desliga sem se despedir. Olho para o lado e vejo Elisa despertando, enroscada em um travesseiro. Sinto vontade de reclamar do jeito grosseiro de Sloan com ela, mas me contenho. Vejo-a se levantar e amarrar o cabelo em um coque.
Nós trocamos dois bons dias preguiçosos.
— Tenho uma escova que você pode usar. Quer tomar um banho antes de ir? — nego com um aceno de cabeça e vou lavar o rosto e os dentes — Está frio lá fora. — de canto de olho, a vejo olhando pela persiana da cozinha antes de abrir a geladeira e encher um copo com água. Ela deixa o copo em cima da mesa para que eu beba e vai para o seu quarto, a um metro de distância da cozinha, para voltar com uma blusa de frio depois, a estendendo em minha direção.
Eu sempre pensei que na minha relação com Rose havia carinho, mas que desde pequena fui independente no quesito de me cuidar, só que agora, vendo a preocupação de Elisa com coisas como a quantidade de água que bebo e o frio, fazem com que eu me sinta até desconfortável — não tenho o costume de deixar alguém cuidar de mim assim.
Nós nos despedimos com um abraço demorado, no qual eu com certeza poderia morar para sempre, e marcamos de repetir a nossa maratona de filmes no fim de semana. Quando chego ao estacionamento, lá está Sloan, escorado na moto segurando um capacete que provavelmente não usou.
— Elisa. — Sloan a cumprimenta com um aceno sutil — Tudo bem para você levar a minha moto depois? Meu avô me disse que você gostava de pilotar.
— Sim, mas talvez eu a devolva um pouquinho diferente, meio arranhada, talvez. — ela sorri e ele lança o seu melhor sorriso forçado, sem saber como demonstrar qualquer tipo de reação que não a indiferença — Me liguem caso precisarem, certo? Nós nos vemos de noite.
— Elisa quer testar algumas coisas comigo e Nico. — digo para a fera, que concorda.
Nós nos despedimos e eu vou até o banco do motorista com Sloan ao meu encalço. Me traz certa nostalgia ao vê-lo sentado no meu banco do passageiro, parecendo pequeno demais para ele.
— O que exatamente vamos fazer nessa loja?
— Comprar azulejos. Também tem algumas coisas de decoração, acho que você vai gostar. Ontem pintamos as paredes e descobri que gostei de ver uma casa tomando forma.
Por um breve segundo, consigo imaginar um futuro onde Sloan eu nos tornamos pessoas bem-sucedidas, o seu semblante queimado de sol ao chegar em casa após um dia de trabalho, como um renomado engenheiro — e eu viva, não importa como.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...