Narrado por Sloan
12 de julho
Mesmo com a distância, eu consigo ouvir o policial falando com Elie. Estou perto o suficiente para ouvi-los, mas longe demais para que suas vozes passem de sussurros para mim.
Agradeço mentalmente à minha garota de cabelos brancos por não ter falado sobre mim para o policial. Sinto vontade de correr até lá e contar que tudo isso é para o bem dela, ou talvez só implorar para que me desculpe por toda a merda que eu causei na vida dela em tão pouco tempo. Estou a ponto de desencostar do carro e desistir do plano horrível que começamos a colocar em prática hoje, quando sinto uma mão cobrir o meu ombro. Nico.
Eu fecho os olhos e me preparo para escutar um sermão, mas ele não diz nada.
— Eu sei. — digo, imaginando o que ele diria: que eu devo me manter longe.
— Não vou te julgar, eu te entendo, mas você pode ir fazer com que tudo isso acabe mais rápido se ajudar a Rose ao invés de ficar se torturando aqui. — assinto. Nós estamos no fim da rua dela, o carro de Nico estacionado aqui algumas árvores tampam a nossa localização em relação à casa dela, mas temos uma vista até privilegiada da porta e a entrada de lá.
— Eu sei, é que eu viro as costas e pareço perder o controle aos poucos.
— Porque você só pensa que tem que ficar longe dela. Tente pensar nos momentos bons que tiveram. Você nunca tinha nem sequer conversado de verdade com ela e agora ela te quer por perto. Vá pra casa e por favor, tente pensar nas coisas boas.
Eu não o respondo, apenas dou as costas para ele e começo a caminhar em direção à casa que dividimos. Decido olhar para lá uma última vez, e acaba coincidindo com o momento em que Elie aparece na janela do seu quarto e olha ao redor. Nico deve tê-la esquecido aberta quando foi apagar o seu celular. Ouço Nico limpar a garganta e o vejo negar com um aceno de cabeça.
Entro em casa e bato a porta com força. Assim que olho para o sofá, me lembro de quando ela esteve aqui. Eu olho para o meu celular e isso me traz outras lembranças, penso em ligar para ela e não dizer nada, só ouvir a sua voz e descobrir como ela está diante disso. O que me impede é que Nico propositalmente estragou o seu celular.
O que aconteceu é que, nessa madrugada, após Elie dormir, a sua mãe chegou em casa e ficou furiosa ao me encontrar na sala com Nico e Amélia. Rose gritou e eu quase a soquei por colocar em risco o sono da sua filha, que tinha passado por um dia absurdo e precisava descansar, mas é claro que isso não a impediu e ela surtou. Para mim, ela é louca, mas entendo o seu lado. Há anos ela descobriu sobre a maldição e que a filha fazia parte — além que foi justamente por isso que o seu marido, pai de Elie, as abandonou.
A descoberta de Rose aconteceu no mesmo dia em que descobriu que a Elie criança tinha cortado o seu cabelo por causa de bullying na escola. Naquele dia, eu me joguei de frente a uma parede até conseguir quebrar o meu braço e fui atrás da sua mãe dizendo que o meu pai tinha me batido e eu precisava de ajuda — a minha prioridade sempre foi o seu bem, em qualquer situação que fosse eu, escondido, fazia de tudo para que desse certo para ela. O meu plano deu muito, muito errado.
Eu fui levado ao hospital, lá os médicos tiveram de rasgar a minha blusa para que pudessem analisar os estragos no meu braço e eu fiquei exposto. Rose, de alguma forma, reconheceu a marca no meu ombro e a ligou com a maldição. Ela foi embora e eu fiquei nas mãos do serviço social, mas consegui despistá-los e fui até a casa de Elie outra vez, encontrei a sua mãe mexendo em papeis com diversas fotos e desenhos que mostravam marcas exatamente como a que carrego no meu peito por conta da maldição — uma cicatriz enorme com símbolos que eu nunca perguntei ao meu avô o que significavam.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...