Capítulo dezessete

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Eu me movo com lentidão, cansada demais, e dou dois passos antes de sentir Sloan me puxar e num movimento rápido me pegar no colo, segurando os meus ombros e os joelhos. A sua atitude é estranha, mas eu estou acostumando com o seu jeito. Não tento me afastar, não quero. Apenas encosto a minha cabeça no seu peito e encaro a cicatriz escura outra vez, que luta para alcançar a curva do seu pescoço.

O seu perfume se mistura com o meu, os sons das árvores com o barulho de Sloan caminhando. Quando nós chegamos perto do lago, nos sentamos no banco outra vez, lado a lado. A minha roupa está grudada no meu corpo e ele estende para mim o moletom que vestia por cima da camisa. O passo pelos meus braços e encosto a minha cabeça nele outra vez, com frio. Sloan passa um braço em torno de mim e me aperta. Dobro as minhas pernas e deixo os meus joelhos encostados nas coxas do de olhos azuis.

Eu devia parar de querer chorar, erguer a cabeça e me convencer de que isso tudo não é tão ruim quanto parece, mas parece que algo já está tomando conta de mim. Se existia uma possibilidade de ficar longe de Sloan, ela acabou de ser arruinada. Sinto que não posso ficar longe dele mais, algo me diz que isso seria bem pior.

Já existiram outras que sofreram tanto como eu, existem outros casais passando pelas mesmas coisas que nós, mas não consigo me sentir apenas a parte de um ciclo sem fim. Me apavora só pensar que eu morrerei e deixarei Sloan como Stewart, com os olhos tão tristes.

Quando percebo que pareço estar sozinha, ergo o olhar para ele. A sua cabeça está tombada para trás, os olhos fechados e o maxilar travado.

— Não desistirei de você. Não desista de mim. — beijo a sua bochecha levemente e afundo o rosto no seu pescoço, abraçando-o. Mal o conheço, eu acho, mas algo me diz que sempre existiu parte dele em mim. Me sinto controlada apenas por impulsos ultimamente, mas não quero que seja diferente.

Minha vida virou de cabeça para baixo, mas era tão, tão sem graça antes.

Prefiro não responder quando ele me aperta com mais força — quero deixar que o tempo faça isso por mim, por mais que ele não nos favoreça.

Nós ficamos em silêncio, observando o lago congelado, quando me lembro de Amélia e que ela pode estar passando por tudo isso também. Me culpo por não ter lembrado dela antes.

— Você me disse que o Nico é igual a você, não é?

— Não somos iguais. Existe mais sobre a maldição que você precisa saber.

— Certo. — o induzo a continuar, sabendo que não quero ouvir.

— Depois de por volta dos trinta anos, nós passamos a envelhecer mais devagar, para que a tortura seja prolongada. Até que um dia alguém vem e nós... simplesmente morremos.

— Como assim?

— Os descendentes de Zarina, a bruxa da maldição, existem e vivem atrás de nós. Eles nos caçam e o que fazem com nós depois disso é um segredo. Eles estão aqui para garantir que o ciclo não pare de se repetir.

— Por que são tão obcecados por algo que aconteceu há sabe-se lá quanto tempo atrás?

— Porque isso os favorece. Aos olhos deles, são sacrifícios que eles fazem por um bem maior. Nico é um, mas escolheu não seguir esse caminho e é constantemente castigado por isso.

Volto a deitar a minha cabeça no seu ombro, sem saber se me sinto aliviada ou não.

— Não sabemos muito. Com o passar do tempo, foram crescendo mitos, lendas... E não sabemos no que acreditar. Eu queria mesmo te explicar tudo, mas também é confuso para mim e o meu objetivo é entender tudo. Há boatos de que a maldição está perdendo a força.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora