Capítulo vinte e cinco

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  Minutos atrás eu faria qualquer coisa para ter a certeza de que não estou ficando louca, mas agora que tive essa confirmação, percebo o quanto estava errada.

  Eu me assusto quando ele toca o meu rosto com raiva e me puxa para perto. Eu automaticamente abro os olhos e tento me afastar.

  — Odeio que não me olhem nos olhos. — diz, enquanto me força a ficar cara a cara com ele.

  — Achei que monstros se sentissem desafiados por isso. — cuspo, mas não sei de onde vem essa coragem. Ele me solta e dá um passo para trás, o sorriso sombrio se alargando.

  — Eu devia me sentir ofendido por isso? — não respondo, apenas olho para o corpo perto de nós, provavelmente sem vida, e me dói perceber que daqui a pouco serei reduzida a isso: algo desfalecido jogado em algum canto — Eu já te achava parecida com ela, e agora acabei de perceber que vocês têm mais em comum do que pensava. Às vezes é irônico o quanto esse mundo é pequeno, não é? Você é você e ela é quem ela é.

  Arthur gesticula e me encara como se realmente esperasse uma resposta, como se eu entendesse sobre o que ele está falando.

  — De que merda você está falando?

  — Uau. Então é verdade que algumas pessoas se tornam ácidas quando estão perto da morte... — depois de segundos em silêncio, ele se pronuncia de novo — Você realmente não sabe do que eu estou falando, não é?

  Voltar a olhá-lo é doloroso, mas eu o faço.

  — Você vai me matar?

  Arthur suspira, esquecendo o assunto anterior, pega uma mecha de cabelo que estava grudada em minha testa.

  — Não, querida, eu vou fazer pior do que isso.

  — O... O que você...

  — Bom, de início eu vou te fazer sofrer, e depois vou te deixar louca... — ele sussurra no pé do meu ouvido, a sua voz rouca faz com que eu sinta mais medo do que antes — ... e então, quando o Sloan não aguentar mais te ver daquele jeito, eu vou te deixar pior. Você vai tentar se matar, vai tentar acabar com isso, mas só vai morrer quando o seu filho fizer nove anos e eu quem vou ser o honrado a te dar um fim, mas é claro que isso vai ser da forma mais lenta e dolorosa possível, na frente do culpado de toda essa merda: a fera fraca que você chama de sua.

  Eu arrepio dos pés à cabeça. Minha garganta está fechada, a minha cabeça lateja enquanto tenta bolar um plano, mas não chego a lugar nenhum.

  — Você não é tão bonita quanto ela era, mas ainda se parecem. Os olhos, a cor da pele, a boca... — a chuva aos poucos diminui, o que me deixa com mais medo. Não quero ver com clareza os seus olhos ou seus traços que me lembram Sloan.

  Ele está falando sobre a mãe de Sloan? Por que diabos eu me pareceria com ela?

  Arthur aproxima a sua mão do meu pescoço, os dedos longos o cobrem quase que por completo, e quando ele me aperta levemente, eu dou um pulo e finalmente penso em algo: enrolá-lo até que ele apareça.

  — Por que eu me pareço com ela? — seus olhos, que estudavam as minhas artérias, se voltam para os meus, um tanto quanto curiosos.

  — Porque a vida é irônica.

  Quando os pingos gelados param de nos molhar e eu consigo sentir a blusa grudada no meu corpo, sinto a sua respiração quente batendo no meu nariz. Fecho os olhos e os aperto com força.

  — Olhe para mim, pequena Elisa. — não respondo, desistindo da ideia que tive e mal segui. Ele aperta o meu queixo com força e sua respiração se torna mais pesada — Desobediência também me irrita...

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora