Minutos atrás eu faria qualquer coisa para ter a certeza de que não estou ficando louca, mas agora que tive essa confirmação, percebo o quanto estava errada.
Eu me assusto quando ele toca o meu rosto com raiva e me puxa para perto. Eu automaticamente abro os olhos e tento me afastar.
— Odeio que não me olhem nos olhos. — diz, enquanto me força a ficar cara a cara com ele.
— Achei que monstros se sentissem desafiados por isso. — cuspo, mas não sei de onde vem essa coragem. Ele me solta e dá um passo para trás, o sorriso sombrio se alargando.
— Eu devia me sentir ofendido por isso? — não respondo, apenas olho para o corpo perto de nós, provavelmente sem vida, e me dói perceber que daqui a pouco serei reduzida a isso: algo desfalecido jogado em algum canto — Eu já te achava parecida com ela, e agora acabei de perceber que vocês têm mais em comum do que pensava. Às vezes é irônico o quanto esse mundo é pequeno, não é? Você é você e ela é quem ela é.
Arthur gesticula e me encara como se realmente esperasse uma resposta, como se eu entendesse sobre o que ele está falando.
— De que merda você está falando?
— Uau. Então é verdade que algumas pessoas se tornam ácidas quando estão perto da morte... — depois de segundos em silêncio, ele se pronuncia de novo — Você realmente não sabe do que eu estou falando, não é?
Voltar a olhá-lo é doloroso, mas eu o faço.
— Você vai me matar?
Arthur suspira, esquecendo o assunto anterior, pega uma mecha de cabelo que estava grudada em minha testa.
— Não, querida, eu vou fazer pior do que isso.
— O... O que você...
— Bom, de início eu vou te fazer sofrer, e depois vou te deixar louca... — ele sussurra no pé do meu ouvido, a sua voz rouca faz com que eu sinta mais medo do que antes — ... e então, quando o Sloan não aguentar mais te ver daquele jeito, eu vou te deixar pior. Você vai tentar se matar, vai tentar acabar com isso, mas só vai morrer quando o seu filho fizer nove anos e eu quem vou ser o honrado a te dar um fim, mas é claro que isso vai ser da forma mais lenta e dolorosa possível, na frente do culpado de toda essa merda: a fera fraca que você chama de sua.
Eu arrepio dos pés à cabeça. Minha garganta está fechada, a minha cabeça lateja enquanto tenta bolar um plano, mas não chego a lugar nenhum.
— Você não é tão bonita quanto ela era, mas ainda se parecem. Os olhos, a cor da pele, a boca... — a chuva aos poucos diminui, o que me deixa com mais medo. Não quero ver com clareza os seus olhos ou seus traços que me lembram Sloan.
Ele está falando sobre a mãe de Sloan? Por que diabos eu me pareceria com ela?
Arthur aproxima a sua mão do meu pescoço, os dedos longos o cobrem quase que por completo, e quando ele me aperta levemente, eu dou um pulo e finalmente penso em algo: enrolá-lo até que ele apareça.
— Por que eu me pareço com ela? — seus olhos, que estudavam as minhas artérias, se voltam para os meus, um tanto quanto curiosos.
— Porque a vida é irônica.
Quando os pingos gelados param de nos molhar e eu consigo sentir a blusa grudada no meu corpo, sinto a sua respiração quente batendo no meu nariz. Fecho os olhos e os aperto com força.
— Olhe para mim, pequena Elisa. — não respondo, desistindo da ideia que tive e mal segui. Ele aperta o meu queixo com força e sua respiração se torna mais pesada — Desobediência também me irrita...
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...