Capítulo quarenta e dois

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Narrado por Elie

— Onde estão os outros? — eu mal consigo olhá-la, me sentindo enjoada e trêmula.

— Lá fora. — ela parece perdida, buscando pelo meu olhar e por algo que esperava de mim.

  Eu assinto e me viro para a saída.

— Escuta, Elie, eu...

— Não. — eu a interrompo — Eu não estou preparada para isso, não agora. Foram coisas demais para um dia só e eu só quero ir embora. Eu preciso ver Sloan. — estou destroçada, mas ele precisa de mim.

  Os meus olhos estão queimando, mas tento segurar. Não consigo encarar Elisa, porque eu só saberia procurar por semelhanças entre nós duas e surtaria.

  Ela assente e eu não espero por mais nada, apenas saio de dentro da barraca e olho ao meu redor. É madrugada e o parque agora está vazio. Um pouco ao longe, encontro Sloan sentado em um banco olhando para as suas mãos, tão aéreo que mal nota a minha aproximação.

  Limpo a garganta e ele levanta a cabeça para mim. Encontro olhos perdidos e confusos. É como se ele estivesse mais humano.

  Eu me sento ao seu lado e puxo-o para mim, enterrando a minha cabeça em seu peito. De início ele fica estático, sem saber como reagir, e quarenta e cinco segundos depois ele me envolve em seus braços e aperta o meu corpo contra o seu.

  O meu coração está acelerado, o mundo ao meu redor parece ser completamente novo, como se tudo que eu conhecesse antes de entrar na barraca de Elisa agora tivesse se tornado diferente, movido em câmera lenta. Eu sei que Sloan está sofrendo, só que acho que ele não sabe disso. Ele acabou de conhecer a própria mãe pelos olhos de Elisa, só para ver como a perdeu logo depois.

— Eu sinto muito, Sloan. — há um nó na minha garganta, eu estou sentindo a mesma coisa que ele, porque conheci Noah e o vi morrer diante dos olhos de outra pessoa. Dos olhos de Elisa, uma pessoa que sofreu mais do que qualquer um, e ela é a minha mãe biológica.

  Quando nós nos afastamos, ele me mostra o que ela entregou a ele.

— O que é isso? — pergunto, vendo o pen-drive que ele segura.

— Elisa me entregou o vídeo que a Cassandra deixou para mim.

  Nico e Amélia nos esperavam no carro, o caminho foi feito em silêncio e eu demorei a notar que Antony e Luce não estavam mais conosco. Quando chegamos em casa, Jessica me diz que a minha mãe ligou me procurando, mas se já era complicada a nossa relação antes, eu não sei como será a partir de agora.

  No caminho até o quarto mantive o olhar o mais baixo possível, porque cada canto dessa casa me leva de volta às lembranças de Elisa e a sensação disso é péssima.

  Nós entramos no quarto anos atrás era de Arthur e agora é do seu filho — ele também se sente levemente desconfortável, mas não demonstra.

  Me sento na cama e automaticamente imagino Elisa com Arthur aqui. A minha mãe com o pai de Sloan.

  Ele liga a TV e encaixa o pen-drive na entrada USB antes de ajeitar o vídeo. A escuridão da TV toma cor e forma e Cassandra aparece na tela grande. Sloan automaticamente pausa a filmagem, parado de costas para mim.

— Se você preferir, e posso deixá-lo sozinho.

— Não. Eu quero que você fique.

— Tem certeza? — ele assente.

— Eu não sei como fazer essas coisas, Elie. Não sei como... sentir. Preciso que alguém me ensine.

  Eu me levanto e vou até o seu lado, abraçando-o pela lateral do seu corpo. Eu nunca gostei muito de demonstrações de afeto, eu acho, como se me incomodassem ou algo do tipo, mas ultimamente me sinto tão mal que só quero sentir o abraço de Sloan o tempo todo.

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