— Certo, então tenho uma coisa para te contar. — imagino que ela esteja tentando me animar ou me fazer esquecer do que aconteceu na mata, mas não consigo parar de pensar nas veias roxas saindo dos olhos de Sloan.
— O quê?
— O Lukas sumiu. — a olho com o cenho franzido.
— Como assim? — tento com todas as minhas forças focar no que ela diz, mas quando o seu amigo (ou seja lá o que somos) é uma fera e perde o controle sobre si, não é muito fácil prestar atenção no que dizem.
— Dois policiais bateram na sua porta hoje de manhã. Eles querem falar com você porque você foi a última pessoa a ter contato com ele.
Era só o que me faltava.
— Parece que ele mandou mensagens estranhas pra você.
— Não sei porque ele mandou aquilo. — depois disso, Amelia fica em silêncio.
Me jogo na minha cama ainda com a roupa úmida e sinto os meus músculos agradecerem. Pego o celular de Sloan e desbloqueio a tela, indo até a galeria. Existem várias pastas, cada uma nomeada com um número diferente, de um a dezoito. Os primeiros conjuntos de fotos são, na maioria das vezes, marcados por imagens onde Sloan está longe de mim, mas a câmera o pega num ângulo onde parecemos estar perto um do outro. Observo que na pasta 15 há apenas uma foto, a mesma que vi mais cedo.
Eu passo mais de uma hora vendo as fotos uma por uma, tentando me lembrar dos momentos, das fases, e sinto certa nostalgia mesmo não conseguindo me recordar de todos — algo me diz que Sloan conseguiria me dizer exatamente o que se passava em cada uma delas. É loucura descobrir que alguém esteve me observando (literalmente) desde o dia que nasci, mas algo lá no fundo faz com que eu me sinta ansiosa e excitada.
Bloqueio a tela do celular e fecho os olhos. Encaro a escuridão das minhas pálpebras e tento não me lembrar de olhos pretos, só que ouço a porta ser aberta um segundo depois de começar a cochilar, e rapidamente me sento. É ele. Ele vem em passos largos até mim e se ajoelha em minha frente antes de segurar o meu rosto com as duas mãos.
— Me perdoa, por favor. — os olhos agora normais parecem implorar. Automaticamente todas as lágrimas que não se manifestaram desde que ele disse "sai daqui" se tornam presentes e inundam os meus olhos. O puxo para um abraço, apertando os seus ombros com força.
Quando nos afastamos, Sloan pega o meu braço com delicadeza e olha a marca dos seus dedos.
— Porra. Você sabe que eu nunca faria isso com você de propósito, né?
— Acho que até o fim do ano você vai fazer uma marca permanente neles. — ele de início parece não gostar do que eu falei, mas depois me lança um meio sorriso — O que foi?
— Isso quer dizer que você não quer me deixar. — a fera afirma. Com o cabelo molhado e limpo, ele está cheirando a sabonete, vestindo roupas diferentes da última vez que o vi: uma camisa azul escura e calça de moletom cinza.
— Agora está tudo bem, não está? — não responde, mas a resposta é óbvia... Não.
— Por ficar tempo demais perto de você, eu te machuquei e quase fiz coisa pior. Eu acho melhor...
— Certo. Vamos passar por isso. — não o deixo terminar.
— Elie...
— Vou tomar banho. — me levanto e passo por ele, limpando os rastros deixados pelas lágrimas e fungando. Pego uma muda de roupa e toalha antes de ir para o banheiro e o deixo sozinho no meu quarto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...