Capítulo dezoito

20.6K 1.8K 217
                                    


— Certo, então tenho uma coisa para te contar. — imagino que ela esteja tentando me animar ou me fazer esquecer do que aconteceu na mata, mas não consigo parar de pensar nas veias roxas saindo dos olhos de Sloan.

— O quê?

— O Lukas sumiu. — a olho com o cenho franzido.

— Como assim? — tento com todas as minhas forças focar no que ela diz, mas quando o seu amigo (ou seja lá o que somos) é uma fera e perde o controle sobre si, não é muito fácil prestar atenção no que dizem.

— Dois policiais bateram na sua porta hoje de manhã. Eles querem falar com você porque você foi a última pessoa a ter contato com ele.

Era só o que me faltava.

— Parece que ele mandou mensagens estranhas pra você.

— Não sei porque ele mandou aquilo. — depois disso, Amelia fica em silêncio.

Me jogo na minha cama ainda com a roupa úmida e sinto os meus músculos agradecerem. Pego o celular de Sloan e desbloqueio a tela, indo até a galeria. Existem várias pastas, cada uma nomeada com um número diferente, de um a dezoito. Os primeiros conjuntos de fotos são, na maioria das vezes, marcados por imagens onde Sloan está longe de mim, mas a câmera o pega num ângulo onde parecemos estar perto um do outro. Observo que na pasta 15 há apenas uma foto, a mesma que vi mais cedo.

Eu passo mais de uma hora vendo as fotos uma por uma, tentando me lembrar dos momentos, das fases, e sinto certa nostalgia mesmo não conseguindo me recordar de todos — algo me diz que Sloan conseguiria me dizer exatamente o que se passava em cada uma delas. É loucura descobrir que alguém esteve me observando (literalmente) desde o dia que nasci, mas algo lá no fundo faz com que eu me sinta ansiosa e excitada.

Bloqueio a tela do celular e fecho os olhos. Encaro a escuridão das minhas pálpebras e tento não me lembrar de olhos pretos, só que ouço a porta ser aberta um segundo depois de começar a cochilar, e rapidamente me sento. É ele. Ele vem em passos largos até mim e se ajoelha em minha frente antes de segurar o meu rosto com as duas mãos.

— Me perdoa, por favor. — os olhos agora normais parecem implorar. Automaticamente todas as lágrimas que não se manifestaram desde que ele disse "sai daqui" se tornam presentes e inundam os meus olhos. O puxo para um abraço, apertando os seus ombros com força.

Quando nos afastamos, Sloan pega o meu braço com delicadeza e olha a marca dos seus dedos.

Porra. Você sabe que eu nunca faria isso com você de propósito, né?

— Acho que até o fim do ano você vai fazer uma marca permanente neles. — ele de início parece não gostar do que eu falei, mas depois me lança um meio sorriso — O que foi?

— Isso quer dizer que você não quer me deixar. — a fera afirma. Com o cabelo molhado e limpo, ele está cheirando a sabonete, vestindo roupas diferentes da última vez que o vi: uma camisa azul escura e calça de moletom cinza.

— Agora está tudo bem, não está? — não responde, mas a resposta é óbvia... Não.

— Por ficar tempo demais perto de você, eu te machuquei e quase fiz coisa pior. Eu acho melhor...

— Certo. Vamos passar por isso. — não o deixo terminar.

— Elie...

— Vou tomar banho. — me levanto e passo por ele, limpando os rastros deixados pelas lágrimas e fungando. Pego uma muda de roupa e toalha antes de ir para o banheiro e o deixo sozinho no meu quarto.

A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora