Cassandra está sendo abraçada por Noah enquanto lágrimas lentas caem por seu rosto.
— Eu estava tentando gravar uma fita para que ele assistisse depois da minha morte. — ela desvia o olhar inchado.
Arfo. Seria mais fácil de resolver se fosse alguma ameaça física.
— Cassie... — sussurro, engolindo em seco.
Um silêncio incômodo se instala, até que a respiração profunda da ferinha nos meus braços corta a falta de som.
Eu percebo que durante todo esse tempo eu simplesmente me esqueci de procurar por uma solução para o que aflige Cassandra, inebriada pela vida tranquila que passamos a ter. Enquanto isso ela veio sofrendo todas as vezes que olhava para o filho e se lembrava de que seu tempo com ele tinha dia e hora para acabar; que ela não viveria as infinitas coisas que uma mãe quer viver com o filho.
Noah sente que esse é um papo para pessoas que estão diretamente ligadas a maldições e pega Sloan do meu colo, me lançando um olhar de pena antes de ir para o quarto com o bebê.
Quando ficamos sozinhas, me sento ao lado dela e me abaixo para pegar a fita caída no chão, porém ela também faz o mesmo e as nossas mãos se tocam, e eu noto os machucados nos cantos de suas unhas, com as cutículas feridas de forma que estão até escuras por conta do sangue. Franzo o cenho, preocupada, e me pergunto como ela vem conseguindo cozinhar com essas feridas nos dedos.
— Isso não dói?
— Não o suficiente. — seus olhos inchados mostram a agonia que ela vem sentindo – Uma vez eu li que a depressão é o excesso do passado, o estresse é o excesso do presente e ansiedade é o do futuro. O que é se você sofre os três?
— Tenta lidar com uma coisa de cada vez. — digo o óbvio. Sou péssima com palavras.
— Eu sei o que você vai dizer, que vai procurar uma solução e vamos resolver isso, mas eu não consigo... — suas palavras se perdem no frio da madrugada.
— Vou ajudar você com o vídeo. — eu limpo uma lágrima do canto dos seus olhos e ela assente, tentando forçar um sorriso, porém sem conseguir.
~~~*~~~
Nós comemorávamos o aniversário de Cassie, fazendo um piquenique no nosso próprio quintal, quando eu senti o primeiro sinal. Eu estava sentada ao lado de Sloan, dando bolo de chocolate para ele, que com os seus dois anos tinha chantilly como a sua opção de comida preferida no mundo. E então, de repente, eu me senti enjoada ao sentir o cheiro do cachorro-quente que Noah trazia.
Coloco Sloan na grama e seguro o vômito enquanto corro para dentro de casa. Eu me inclino sobre o vaso e um segundo depois as mãos de Cassandra estão erguendo o meu cabelo, me ajudando.
— O que está acontecendo? – me levanto e enxaguo a boca com enxaguante bucal antes de escovar os dentes. Molho o meu rosto e nuca com a água gelada, mas não me sinto melhor.
— Eu não sei, foi um mal-estar repentino.
— Eu estava reparando numa coisa... — ela cruza os braços e se encosta na porta enquanto me vê prender o cabelo.
— O quê?
— Quando foi o seu último ciclo? — franzo o cenho e, quando cai a ficha do que ela quer dizer, um frio gelado sobe pela minha espinha.
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A Fera
RomanceEle sempre esteve por perto. Sempre. Ele nunca parou de me observar, cuidando para que eu nunca ficasse em perigo, para que nada de mal acontecesse comigo. Se algo desse errado, simplesmente aparecia, me ajudava e, então, sumia outra vez. Ele me pr...