1 - Aquele da primeira impressão

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Acordo realmente muito cedo no dia de hoje, muito mais do que precisava, não que eu precisasse acordar cedo de qualquer forma, mas estou tão nervosa por ser o dia em que me apresentarei à equipe de apoio e ao elenco. Faz pouco mais de três semanas que recebi a resposta afirmativa para o teste que fiz para interpretar 'Mon' na série Diversity, às vezes me sinto uma traidora dentro da minha própria casa por isso, mesmo que meu pai me apoie em tudo e de forma alguma foi contra minha decisão, ainda me culpo.

A verdade é que um dos meus pais é diretor numa grande companhia cinematográfica e quando, desde cedo, demonstrei interesse na carreira da atuação, ele foi meu maior incentivador e é meu atual maior fã mesmo que eu não tenha feito nenhum papel importante até aqui. Mas mesmo que ele seja esplendido no que faz, mesmo que a companhia a qual ele faz parte e é acionista seja uma das maiores do país, mesmo eu tendo a opção de trabalhar perto de casa, ainda assim tudo isso não é páreo para o que eu estou indo fazer. Ainda assim, tudo isso não me proporciona o principal, a companhia do meu pai não tem uma Freen Sarocha como atriz contratada.

Por esse motivo, e este apenas, é que estou de malas prontas para voar por duas horas e meia até uma cidade que nunca estive antes, me encontrar com pessoas que não conheço, ficar hospedada em um hotel cujo a cama não é a minha. Tudo isso para ter a chance de me reencontrar com a mulher por quem tenho sido obcecada há dez anos. Durante todo esse tempo eu tenho acompanhado sua carreira minuciosamente, tenho salvo em meu laptop todas as notícias que já saíram sobre ela, todas as entrevistas que ela deu, a sigo em todas as redes sociais e guardo um álbum com todas as capas de revistas com seu rosto.

Pode parecer um pouco estranho à primeira vista, mas não haveria como ser diferente, além de ser uma pessoa extremamente talentosa no que faz, considerada uma das melhores atrizes de sua geração, além de ser dona de uma beleza ímpar, de uma generosidade e simpatia imensa, ela salvou minha vida quando eu tinha apenas dez anos de idade. Eu devo tudo a ela, inclusive devoção.

Termino de checar minhas malas pela terceira vez, tenho tudo que vou precisar para os próximos seis dias, que será quando terei tempo livre para voltar para casa, de acordo com minha agenda de compromissos. Eu poderia me mudar definitivamente, já sou uma mulher adulta de vinte anos e provavelmente devia deixar a casa dos meus pais, mas essa hipótese ainda não foi cogitada por nenhum de nós. Acho que demorei tanto tempo para ter uma família que não pretendo me separar dela tão cedo, acredito que eles devem pensar da mesma forma sobre ter uma filha em casa.

Desço para tomar meu café da manhã quando o sol finalmente passou a iluminar todo o horizonte, encontro meu baba entrando pela porta da frente de nossa casa. O chamo assim por sua nacionalidade turca, mesmo que ele tenha fugido de lá há muito tempo, a Turquia não costuma ser um lugar amistoso com pessoas como ele, mesmo que ele seja um médico e um homem formidável.

– Caiu da cama, querida? – Me perguntou, divertido.

– Pode se dizer que sim – Vou até ele, que me cumprimenta com um beijo na testa. – Bom dia, baba.

Ele parecia cansado, chegando de um plantão de vinte e quatro horas no hospital. Mas ainda assim sorria para mim e não demonstrava interesse em subir para descansar.

– Nervosa? – Ele quis saber.

– Apavorada, mas de um jeito bom.

– Vou preparar seu café e a gente conversa um pouco.

– Não precisa se incomodar, baba – Tento tranquilizá-lo, gostaria que ele descansasse. – Eu consigo me virar.

– Mas eu faço questão.

Baba Osman já higienizava suas mãos na pia da cozinha para me preparar ovos mexidos com torrada, era sua especialidade de café da manhã. Ser criada por dois homens muito ocupados não exigiu que eu tivesse o paladar muito apurado, basicamente cada um deles sabia fazer um total de três pratos diferentes, o que nos dava a variedade de seis refeições diferentes por semana. Então delivery era nosso melhor aliado, por sorte eu aprendi a cozinhar eventualmente.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora