4 - Aquele que começa bem e termina mal

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Os dias que se seguiram foram completamente sem emoção, ainda estamos no processo de leitura e adaptação de roteiro, estamos a semana toda presos nessa sala de reunião. O cronograma é que na próxima semana comecemos a prova de figurinos e ambientação.

Desde a festa não tive mais nenhuma interação direta com a Freen, ela ainda entra e sai da sala de reunião sem falar com ninguém, também não faz contato visual comigo e não me mandou mais mensagens. Estou desanimada.

Já outra pessoa do elenco parece me render atenção demais, meu quarto de hotel está cheio com presentes aleatórios para gatos, eu sequer tenho um gato.

Sinceramente não sei o que eu esperava, seria loucura eu pensar que nos tornaríamos melhores amigas inseparáveis na primeira semana, só porque vamos trabalhar na mesma série. Talvez eu tenha criado muita expectativa pra esse encontro, talvez eu tenha ficado frustrada demais por ela não se lembrar de mim, ou talvez eu só me sinta mais distante dela do que nunca.

Todos os dias ela tem uma atitude estranha e evasiva, mas hoje as coisas não parecem nada certas. Posso jurar que seu rosto está mais pálido que o normal, por diversas vezes eu a vi pressionar os olhos com as pontas dos dedos e massagear as próprias têmporas. Posso não ser médica como meu pai, mas eu a conheço, sei que tem algo de errado.

O tempo vai passando e eu presto menos atenção que o normal na leitura, estou preocupada com ela, por um momento tenho a impressão de que ela está ficando verde. Sua cabeça gira lentamente e então ela se levanta, mas não com firmeza, pede desculpas ao diretor e sai da sala.

Os demais não parecem dar importância, com a minha pouca experiência aqui já sei que mais da metade não se importa com ela, e a outra parte já está acostumada com suas saídas inesperadas. Mas não faço parte de nenhum desses grupos.

Olho para meu relógio de pulso, constatando que já fazem mais de dez minutos que ela saiu. Digo que preciso ir ao banheiro e saio também.

Vou até os dois banheiros externos que haviam dispostos naquele corredor e não a encontro, em seguida me atrevo a sair do prédio da série Diversity e andar até o estacionamento, reconheço de longe seu Porsche amarelo, então sei que ela não saiu.

'Onde você está?'

Penso comigo mesma enquanto caminho novamente pelo longo corredor forçando a maçaneta de porta em porta e olhando o interior das salas que estavam abertas. Como as gravações ainda não se iniciaram, o prédio tem estado muito vazio, praticamente toda a equipe está voltada para a montagem e manutenção dos cenários internos. Que ficam em outro pavilhão.

Quando chego à porta da sala da qual eu ouvi a discussão no meu primeiro dia aqui, sinto minhas esperanças se renovarem. Giro a maçaneta e a porta está destrancada, o interior da sala está escuro e aparentemente vazio, mas vejo uma luz acesa vindo da porta entreaberta do lavabo nos fundos da sala.

Entro e encosto a porta da mesma forma que estava antes, caminho até o lavabo e a cena que encontro me desestabiliza. Freen está sentada no chão do banheiro, debruçada sobre o vaso, com o rosto escondido em seus braços.

– Ei – Me aproximo rapidamente dela, tocando seus ombros gentilmente.

Freen estremece em surpresa com meu toque, então afasto minhas mãos e me agacho ao seu lado.

– O que houve?

– Por que você está aqui? – Ela questiona num resmungo, sua voz mal sendo ouvida.

Afasto seus cabelos que estão espalhados pelo seu rosto e passo-os por sobre seus ombros. Ela estava com os olhos fechados, mas me olha por um instante antes de fechá-los novamente.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora