18 - Aquele em que eu vejo você

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Alerta! A autora confessou que chorou ao escrever esse capítulo, e eu chorei quando li. Então estejam avisados 😭❤


***


Estamos no set, para gravar mais uma daquelas cenas em que o cenário é esvaziado e ficam o mínimo de pessoas possíveis, só as mais necessárias. Estou vestindo, por baixo de um roupão do estúdio, apenas um conjunto de lingerie rendado vermelho carmesim. Os climatizadores estão ligados, sinto frio e me aqueço como posso. Freen está usando um roupão igual ao meu sobre um conjunto de lingerie preto.

O diretor está há alguns minutos conversando com ambas, nos explicando como a cena deve ficar e quais serão os ângulos filmados. É uma cena difícil, não somente pela natureza intensa da cena, ou pela nossa pouca roupa, mas por precisar ser gravada em vários takes diferentes. Isso significa que mesmo que fique bom, ainda precisamos repeti-la várias vezes para que possa ser registrado todos os ângulos.

Me sinto novamente insegura e nervosa com essa cena em específico, não consigo prestar atenção em uma só palavra do que Wong diz, vejo sua boca se movimentando, mas meus ouvidos estão atentos apenas ao som do meu coração batendo forte.

Desde o dia do nosso jantar no deck da piscina, Freen tem mantido seu humor esquivo e reativo também em casa e não somente no estúdio como antes. Algo parece incomodá-la profundamente, não é como se eu não tivesse perguntado um milhão de vezes, mas conseguir qualquer resposta dela é uma tarefa quase impossível.

Ela tem essa casca impenetrável que a protege do mundo, o que eu consigo entender desde que tenho convivido com ela. Talvez se ela não tivesse esse sistema de autoproteção tão fortificado, provavelmente não aguentaria a pressão do dia a dia. Mas na maior parte do tempo, eu só queria conseguir olhar do lado de dentro por alguns segundos apenas.

Quando suas amigas me contaram sobre sua conta real no instagram, tive a sensação de poder olhar através de uma pequena fresta. Poder ver o mundo através de seu olhar sensível com certeza foi algo que me fascinou, mas ao contrário do que eu pensava quanto mais eu rolava pelas publicações, mais enigmática ela parecia.

Que mundo sombrio e confuso parece ser a mente de Freen Sarocha, como uma grande fortaleza cercada por muralhas imensas, cercas eletrificadas, rios de crocodilos, rodeadas de animais carnívoros, árvores amaldiçoadas, trolls e feitiços de proteção.

Vamos para nossas posições, eu não faço ideia do que estou fazendo, não consigo ouvir nada além do som do meu coração, não consigo sentir nada além da temperatura quente que seu rosto tem sob o toque de minhas mãos, não consigo ver nada além de seus lindos olhos à minha frente.

Freen está sentada sobre a cama, com uma de suas pernas dobrada e a outra esticada, eu me ajoelho à sua frente, assumindo uma posição um pouco mais alta em relação a sua. Vejo seu rosto de cima, enquanto seguro-o entre minhas mãos, ela me olha sem desviar, eu também estou presa em seu olhar. O tempo parece não existir aqui, talvez nada mais exista nesse momento.

Seus olhos castanhos brilham como uma noite estrelada no campo, onde a luz da cidade não tem o poder de ofuscar o céu, eu vejo tudo aqui. Eu vejo tudo neles, inclusive a mim mesma, sinto meus batimentos acelerarem. Eu vejo ela, em sua forma mais pura e indefesa, por trás de todos os muros.

Acaricio lentamente sua face, com carinho, com delicadeza, não me lembro mais do que se tratava essa cena, não me lembro do meu texto, não me lembro do roteiro, nem me lembro mais se está gravando ou ainda não, pois não ouvi o diretor dizer que estava rodando.

'Eu vejo você.'

Penso durante todo o tempo que estou presa em seu olhar, sob um feitiço poderoso que não consigo me libertar.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora