2 - Aquele do torneio de cuspe

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Me atrapalho toda para escolher uma roupa para a reunião de hoje, não que eu tenha muitas opções, já que me preparei apenas para os seis dias então preciso me virar com o que tenho. Tenho sempre a opção de sair para comprar, mas como não conheço nada nessa cidade, não me atrevi a sair do hotel a menos que fosse para ir até a Idol Factory, até as refeições eu fiz no quarto.

– O que acha dessa roupa? – Pergunto ao meu pai que estava em uma chamada de vídeo comigo.

"– Está linda."

– Ah, você disse isso das outras três – Reclamo deixando escapar um suspiro. – Onde está o baba?

"– Está no plantão, chega em casa a noite."

– Droga, ele é um melhor ajudante – Brinco.

"– Aí, isso doeu! – Forçou uma expressão ofendida e então mudou de assunto. – Já conseguiu falar com ela? Como ela está? Continua sendo tão amável quanto antes? Não a vejo há anos."

– Ainda não, ontem foi bastante corrido, tinha muitas pessoas para falar. Mas não acho que ela continue sendo a mesma de quando tinha quinze anos.

Me contento em responder apenas isso, não me deixo estender nesse tópico. Não queria falar sobre a conversa que ouvi, até porque eu não tinha certeza do que ouvi.

"– Vocês vão se ver todos os dias, o momento vai surgir, não se preocupe com isso. E as pessoas podem até mudar um pouquinho, mas nunca a essência."

– Está certo, desde quando virou filósofo?

Rimos e eu precisei desligar ou me atrasaria, o carro do estúdio já devia estar a caminho para me buscar.

Desta vez, quando entrei na sala de reunião, ela não estava lá. A cadeira a qual ela ocupara à minha frente no dia anterior estava vazia, isso imediatamente me deixou desanimada. Mas precisei disfarçar rapidamente quando os outros vieram me cumprimentar.

Foi então que percebi que os lugares por mais que não fossem demarcados com nomes, tinham seus donos informalmente definidos. Do lado direito da cadeira de Freen, Heng Asavarid estava posicionado, do lado esquerdo uma outra atriz do elenco, Mind Sawaros. Sem a Freen ali para desviar minha atenção, consegui analisar melhor a dinâmica da equipe de apoio e o elenco. Assim como todos os lugares, aqui também possuíam grupinhos de pessoas que se davam melhor do que outros. Era óbvio, eles trabalham juntos há pelo menos três anos, eu sou a novata aqui. Com isso em mente, me permito apenas a observar.

Saint, juntamente com Greene, a outra produtora, e Wong, o diretor, deram inicio à reunião com algumas considerações primárias antes de efetivamente entregarem os roteiros para a leitura. Conforme os minutos iam se passando, aquela cadeira vazia parecia me assombrar cada vez mais, se ontem eu não conseguia parar de olhar naquela direção, hoje eu não consigo sequer mirá-la.

'Onde você está, Freen Sarocha?'

Quase como se pudesse ler meus pensamentos, a porta da sala se abriu dando entrada à mulher de rosto apático elegantemente maquiada, com seus cabelos escuros perfeitamente alinhados, vestindo uma camisa branca folgada com os botões superiores abertos e por dentro de uma calça preta de alfaiataria de cintura alta que valorizava imensamente o seu quadril, levava apoiado em seu braço um blazer curto que fazia par com a calça. Sobre scarpins caros, ela desfilou até sua cadeira.

Levo alguns segundos para me recuperar do torpor que o aroma de seu perfume cítrico amadeirado impregnado ao ambiente me causou, é claro, eu sei que ela está usando Light Blue da Dolce & Gabbana, é um de seus favoritos. Eu sei tudo sobre ela.

Balanço a cabeça para manter o foco e percebo que Mind está me olhando com uma sobrancelha levantada, eu não sei o que isso significa então apenas desvio meu olhar de volta para o diretor. Também noto que aparentemente eu fui a única a assistir a entrada triunfal de Freen, ninguém mais sequer olhou em sua direção ou fez questão de cumprimentá-la. Como se já estivessem acostumados com suas chegadas e saídas repentinas.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora