19 - Aquele que não é uma comédia romântica

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Vocês estão prontas, crianças?

***

Já estamos há algum tempo em silêncio, eu ainda choro porque perdi o controle e quando começo a chorar demoro a parar. Freen ainda está sentada na cama segurando a bolsa de gelo com ambas as mãos enquanto encara o vazio no piso.

– Você não vai dizer nada? – Questiono depois de alguns minutos, quando toda a minha autoestima já havia se esvaído do meu corpo.

– Eu não sei o que dizer – Ela responde num tom quase inaudível.

– Diga qualquer coisa – Uso as mãos para enxugar as lágrimas que descem por meu rosto. – Você já atuou em comédias românticas antes.

Ela sobe o olhar para mim. – Quer que eu atue agora?

– Eu não sei, só diga alguma coisa – Peço. – Pelo menos pra que eu me sinta menos patética agora.

Freen se coloca em pé também, ela parece perdida e confusa.

– Você falou sério?

Assinto com a cabeça como resposta.

– Eu não tenho nada pra te oferecer – Ela volta a encarar o chão. – Tudo aqui é uma constante confusão, você vai ser infeliz.

– Eu não te pedi absolutamente nada – Suspiro. – Só que dissesse como se sente.

Ela me olha com aqueles olhos de um milhão de estrelas, e eu a vejo novamente.

– Bec, queria poder te dizer que desde que te vi naquele dia na praia usando um vestido Chanel e segurando um brinquedo de gato, eu não paro de pensar em você e em como o seu caos me fascina...

– Prada – Interrompo-a.

– O que?

– Meu vestido era Prada.

– O diabo veste Prada.

Balanço a cabeça. – Esquece, continue.

– Ok. Queria poder dizer que naquele dia em que você cuidou de mim no banheiro da Idol Factory, eu senti algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida, você me quebrou. Nunca ninguém havia feito algo por mim sem querer alguma coisa em troca, nunca ninguém massageou meus cabelos daquele jeito sem que tivesse uma câmera por perto – Vejo uma lágrima escapar de seus olhos. – Queria dizer que quando te vi chorar a morte do seu gato falso, de forma tão sentida, eu desejei ter ido no lugar dele.

– Eu chorei por sua causa – Digo irritada. – Porque você foi uma babaca comigo.

– Vai ficar me interrompendo? – Ela questiona também irritada.

– Não! – Respondo aumentando meu tom de voz.

– Queria dizer que quando você disse que tomaria laxante por minha causa, eu quis desesperadamente que você me amasse – A cada frase seu tom sobe algumas oitavas. – Porque eu te amei como nunca antes.

– Eu já te amava! – Grito com ela.

Por que é tão difícil que ela entenda as coisas?

– Para de me interromper! – Ela grita de volta. – Queria dizer que foi só depois que você veio morar aqui que eu me sinto realmente segura e em casa, que você foi a primeira a usar aquela cozinha da forma correta e quando o fez eu quis chorar como uma criança.

– Você nem comeu o meu mingau de aveia! – Reclamo.

– Porque eu sou intolerante a lactose! – Ela continua gritando. – Queria dizer que aqueles dias em que passei com seus pais foi a primeira vez que eu vi uma família de verdade, e eu adorei conhece-los tanto quanto adorava você.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora