44 - Aquele do porão

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Seguro a mão de Freen enquanto caminhamos para fora do local, não temos mais medo de sermos vistas em público, a sensação de realização e alívio que sinto é inexplicável. Precisamos usar a saída dos fundos de qualquer forma, mas dessa vez não pelo medo de sermos fotografadas juntas, mas porque ainda somos figuras públicas e porque acabamos de sair da audiência que tem sido a notícia mais comentada da atualidade.

Seus amigos nos seguem de perto, falamos sobre coisas estúpidas e rimos como se tudo no mundo hoje tivesse mais graça, é como acordar de um longo e terrível pesadelo. Mas sinto o exato momento em que o corpo de Freen enrijece ao mesmo tempo em que ela para de andar, seu toque em minha mão agora é um pouco mais forte e duro do que antes, se dedão não acaricia mais minha mão. É quando voltou minha atenção para a mulher que está parada à nossa frente.

Eu não a reconheço, mas considerando o fato de que todos pararam de rir instintivamente e a encaram com as mesmas expressões paralisadas, percebo que sou a única ali que não sabe quem é essa mulher. Sua postura dura e até um pouco acuada me faz pensar que esse encontro também não é um prazer para ela. Leva alguns segundos de silencio constrangedor até que ela finalmente fale.

– Posso falar com você um minuto? – Ela se dirige à Freen, apesar de demonstrar descontentamento, seu tom não é agressivo.

– Não é uma boa ideia – é Heng quem responde.

Minha namorada lança um olhar que não entendo para ele e faz menção de soltar minha mão que está entrelaçada à sua, mas, inseguramente, eu a aperto um pouco mais.

– Não – sussurro para ela.

Mesmo eu não entendendo exatamente o que está acontecendo aqui, meus instintos me fazem concordar com Heng, isso não parece uma boa ideia, seja ela quem for.

– Tudo bem – Freen me oferece um sorriso fraco na tentativa de me tranquilizar.

Ela solta a minha mão, não que eu tenha facilitado para isso, e começa a caminhar junto da mulher para longe de nós. Fico parada com uma sensação ruim no estômago, independente de qual seja o assunto, aquela situação por algum motivo me causa uma ansiedade que não tenho comumente.

Olho para os amigos de Freen, que exibem uma expressão dura, aparentemente tão apreensivos quanto eu.

Percebendo minha silenciosa interrogação, Heng responde.

– É a viúva de Sipat.

Sua curta frase me acerta em cheio como um soco na boca do estômago, de forma automática, meu corpo se move em direção às duas mulheres. Mas ele me segura pelo braço num aperto firme.

– Solta – esbraveço tentando me liberar de sua enorme mão que dá a volta completa em meu bíceps.

Heng me olha com cautela. – Deixa, ela deve saber o que está fazendo.

– Não mesmo! – Ouvimos a voz de Saint atrás de nós.

Ele passa rapidamente por entre Tee e Kade, e caminha apressadamente indo em direção às duas mulheres que agora estão paradas ao lado de uma SUV cinza.

Essa nova intromissão afeta meus sentidos e meus pensamentos, agora sou incapaz de ter qualquer reação. Apenas observo os três conversando e gesticulando um para o outro.

Saint começou com uma postura agressiva quando se aproximou delas, mas logo em seguida seus ombros relaxaram, como se algo que a mulher lhe disse tivesse quebrado de imediato seu argumento, junto com algo dentro dele também.

Freen está com os braços cruzados e encara o chão na maior parte do tempo, olhando vez ou outra nos olhos da mulher que fala com ela. Me sinto impotente daqui, mas a mão de Heng ainda está ao redor do meu braço, mesmo que agora seus dedos estejam frouxos, apenas para eu saber que ele ainda está alerta.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora