39 - Aquele da família

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As reuniões com os advogados têm se tornado cada vez mais frequentes, conforme o processo segue correndo e o julgamento de Heng se aproxima. Desde que Freen decidiu retirar o processo que estava movendo contra Saint e o estúdio referentes às ameaças e chantagens que recebiam em cima do falso namoro fabricado pela indústria, ao mesmo tempo que a linha de defesa se tornou mais simples, também se tornou mais difícil.

O foco da linha da defensoria era apenas comprovar os fatos de que Heng agiu em legitima defesa na fatalidade que resultou na morte do diretor Sipat, mas a promotoria trabalharia pesado por isso ter sido escondido por tanto tempo, tantos anos. Usando da cartada de que se Heng era inocente, por que não se apresentou de imediato na delegacia? E como agora o processo envolvendo as ameaças do estúdio e Saint não existem mais, isso não é mais uma desculpa plausível por terem escondido a verdade.

Como eu disse anteriormente, o processo está mais simples e mais difícil ao mesmo tempo.

Sem contar que Freen ainda responderá por obstrução da justiça em seu próprio processo.

Nenhum de nós conseguiu se conformar com a decisão de Freen em retirar o processo, sei que ela deve ter seus motivos e que para ela esses motivos foram fortes o suficiente para tomar tal decisão. Sei que também em nenhum momento ela faria algo para prejudicar Heng, com quem tem enfrentado os piores momentos da carreira de mãos dadas, mas não consigo pensar em nada que seja forte o suficiente para explicar sua atitude.

Não que eu não tenha questionado a decisão, ou que cada um de nós não tenha lhe interrogado milhares de vezes. Mas a bela atriz permanece guardando suas razões apenas para si mesma.

Contudo, como uma ajuda extra, Mind se ofereceu para testemunhar em favor de Heng. Seu relato sobre o assédio de sofreu por parte do diretor Sipat, provavelmente na mesma época ou anterior à Freen, pode ser de grande valia no julgamento. É de grande coragem de sua parte se dispor a falar sobre isso publicamente, reviver um trauma de algo que havia enterrado.

A grande aposta mesmo da defensoria são as imagens das câmeras de segurança que foram fornecidas de forma amistosa por Saint, as gravações em sua totalidade e não somente o pequeno corte onde ocorreu a briga corporal e o disparo da arma. Mas todas elas, desde o momento em que Freen chega ao local e é subjugada pelo seu agressor.

Imagens estas que eu tive o desprazer de assistir, aquele monstro arrastando-a pelos corredores vazios e ameaçando-a incessantemente, até mesmo o exato momento em que ele a acerta no rosto com a lateral de seu revólver. Não consigo encontrar palavras para descrever o tamanho da raiva que eu senti ao assistir aquelas imagens, raiva essa que só vem crescendo desde o dia em que eu soube e quanto mais eu sei sobre tudo que aconteceu maior fica.

O fato de Saint estar colaborando com as investigações não o eximem de toda a culpa que ele tem, de todo sofrimento que ele causou à Freen e Heng. Freen pode parecer ter enterrado essa parte da história, mas eu não estou disposta a esquecer.

Contudo, mesmo que nossas preocupações estejam todas concentradas em apenas um assunto, a bela atriz maluca com que eu mantenho um relacionamento amoroso e estável, parece mais interessada em outro assunto.

– Nunca teve curiosidade em encontrar seus pais biológicos? – Freen me questiona.

Estamos sentadas sobre o tapete do chão do meu quarto, viemos passar o final de semana na casa dos meus pais. O lado bom de tudo já ter explodido na mídia é que agora não nos preocupamos mais com o teatrinho Freen e Heng, é claro que não nos assumimos publicamente como um casal e nem achamos que devemos, mas não nos preocupamos de sermos vistas juntas mais.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora