31 - Aquele em que voltamos a ver

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Voltamos a narração da Becky e a linha do tempo original, eu aconselho a quem está lendo, a não pular os capítulos e ler na sequência em que está, pra tudo fazer mais sentido. Mas vocês que sabem.


***


Tudo parece fora do lugar, estou perdida dentro da minha própria casa, me atrapalho em tudo que tento fazer. É como se minhas mãos não obedecessem aos meus comandos, eu tremo o tempo todo.

– Merda! – Eu esbravejo comigo mesma ao derrubar no chão uma panela que tentei tirar do armário.

Meus olhos se enchem de lágrimas novamente, mas respiro fundo tentando me acalmar, não posso só chorar o tempo todo.

– Você nunca tranca a porta – Ouço a voz atrás de mim. – Não é seguro.

Em primeiro momento sou pega de surpresa, sinto a onda de choque cruzar meu corpo. Mas em seguida eu começo a pensar que estou alucinando e não tenho coragem para me virar. Sinto meu corpo tremer novamente, crio coragem para me virar e lá está ela, não como eu me lembrava, mas ainda é ela, minha imaginação nunca foi tão boa assim.

Deixo as lágrimas saírem quando me atiro em seu pescoço, eu a abraço com força, como se ela fosse desaparecer a qualquer momento se eu a soltasse o mínimo que fosse. Seu cheiro está diferente, mas não me importo, meus braços parecem mais frouxos que o normal ao seu redor, como se sua circunferência fosse menor agora. Eu conheço a sensação de abraçar minha namorada, sei que está diferente. Ela me segura pela cintura.

– Você voltou – Deixo um soluço escapar.

Eu choro em seus braços, choro por vê-la de novo depois de tanto tempo, choro porque estou despedaçada, choro porque meu pai está no hospital e não sei se ele sairá.

– Eu voltei – Ela diz, sua voz também está diferente. – O que aconteceu?

– Meu pai estava voltando do estúdio, quando um carro desgovernado cruzou a preferencial em alta velocidade e acertou o carro dele – Eu tento explicar em meio aos soluços, o desespero me tomando de novo. – Ele está machucado, Freen, muito machucado.

Me afasto dela para olhá-la, toco o seu rosto mais fino que o normal, suas bochechas parecem ter desaparecido. Ela me analisa também, olha para cada parte de mim, menos para meus olhos.

– Aonde está o doutor Kurt? – Ela questiona ao olhar ao redor.

– Está no hospital também, enquanto o papai estiver na UTI eu não posso vê-lo, mas o baba por ser médico tem permissão para entrar – Explico.

Ela assente com a cabeça e então finalmente olha em meus olhos, meus olhos que estão molhados e vermelhos. Mas são os seus olhos que não brilham mais como milhões de estrelas, seus olhos estão opacos como na última vez que a vi, sem vida.

– Aonde você estava? – Eu sinto uma onda de raiva tomando conta de mim, e explodo. – Como pôde me abandonar naquela ilha e desaparecer por meses?

Ela abre a boca para responder, mas não a deixo falar.

– Eu te liguei sem parar todos os dias, te mandei um milhão de mensagens – Eu grito sem controle, porque estou triste, estou brava, estou desesperada. – Eu liguei para todo mundo, infernizei um monte de pessoas por sua causa. Você não me deu nenhuma explicação, me deixou sozinha no escuro...

– Eu não te deixei sozinha no escuro – Ela me interrompe, seus olhos se movimentam frenéticos.

– Deixou, sim – Rebato. – Foi exatamente o que você fez.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora