16 - Aquele do improviso

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Vocês pensaram que eu não ia rebolar minha bunda hoje, né?


***


Apesar de eu ter conseguido fazer com que Freen comesse o biscoito, ela continua mal-humorada. Não sei o motivo de sua irritação e tirar qualquer informação dessa mulher é uma tarefa muito difícil. Estamos no set para gravar uma de nossas cenas juntas, uma das cenas mais intensas de nosso roteiro.

Me sinto nervosa, como sempre quando preciso chegar muito perto dela, mas agora que ela está nesse humor terrível, me sinto ainda mais insegura. Estamos tentando gavar há alguns minutos, na terceira tentativa, o diretor percebe que os microfones não estão funcionando como deveriam. Então fazemos uma pausa técnica para verificar o equipamento.

Observo Freen andar até um dos cantos do set, onde havia deixado sua garrafa de água, quando ela se aproxima, os auxiliares de equipe se dispersam como se ela fosse radioativa ou algo do tipo. Sinto raiva, quero jogar água no rosto de cada um deles. Talvez esse seja o motivo dela ser tão reativa e mal-humorada quando está no estúdio, eu não poderia julgá-la.

Não consigo acreditar nem por um segundo naquela história maluca, sei que alguma coisa aconteceu, mas também sei que não foi aquilo que Non acredita que foi. Eu a conheço, sei que sim. Mesmo que a maior parte de tudo o que eu achava que sabia sobre ela seja mentira, eu sei exatamente quem é a pessoa que eu estou convivendo todos os dias.

A pessoa que come frutas no café da manhã, que odeia sucos e gelatinas, ou qualquer coisa que não faça sentido para sua cabecinha caótica e criativa. A pessoa que é obcecada por segurança e tem medo de trovões, a pessoa que acredita fielmente que um Mercedes blindado seja um carro discreto para se andar nas ruas, e que se ela estiver usando uma máscara descartável ninguém a reconheceria. A pessoa que está disposta a se atirar debaixo de um painel de aço para ajudar uma criança qualquer, que tira o próprio moletom para esquentar uma desconhecida qualquer usando um vestido curto.

Não importa o que tenha acontecido, se ela fez ou não fez o que dizem que ela fez, se ela tem o hábito de prejudicar a carreira das pessoas que estão ao seu redor ou não. Eu sei quem é essa pessoa aqui e agora. Mal-humorada, ranzinza, meio maluca, mas adorável.

Isso é tudo o que eu consigo pensar, em como ela é adorável.

– Você quer ensaiar nossa cena enquanto isso? – Pergunto empurrando-a levemente com o ombro ao me aproximar.

Freen me avalia com um olhar lateral, mas não responde.

– Por que não está falando comigo?

– Estou falando – Ela diz simplesmente.

– Então você quer repassar o texto comigo?

– Eu já sei o meu texto.

Rolo meus olhos, ela está sendo tão irritante.

Eu também sei o meu texto, o meu trabalho é decorar texto, mas ainda assim eu gostaria de repassá-lo de vez em quando. Principalmente essa cena que é tão intensa, eu não trabalhei com nada do tipo antes, me sinto insegura.

Sua postura defensiva e evasiva também me deixa mal-humorada, agora sou eu quem está irritada.

Mais alguns minutos e somos chamadas novamente para o cenário, que é o que foi montado para ser o escritório de Mon. Temos uma cena no sofá, onde começa com o texto especifico da cena e em seguida eu devo beijá-la, enquanto eu afrouxo sua camisa e ela a minha. Não é uma tarefa difícil, são roupas cenográficas, embora se pareça com uma camisa de botões, são fechadas com velcro como de uma stripper.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora