3 - Aquele da conversa na praia

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Olho para o chão derrotada, agora estou sentada sobre meus pés, não tive coragem nem de levantar. Já estamos em silêncio há muito tempo, sinto seu olhar em mim, mas não consigo olhá-la de volta ou dizer qualquer coisa.

– Por que está vestida assim? – Freen quebra o silêncio.

Só então percebo que mais uma vez eu feri seu código de vestimenta, ela está usando jeans folgados, tênis e um moletom preto com capuz. É tão frustrante que eu saiba tudo sobre ela e mesmo assim não consigo antecipar nenhum de seus movimentos.

Ela percebe que passei tempo demais olhando para meu vestido.

– Parece uma princesa de desenho animado, mas está frio aqui – Ela justifica e seu comentário me faz perder o fôlego.

Eu não respondo, não posso dizer que estou vestida assim para impressioná-la, o que mais uma vez não deu certo. Freen provavelmente agora me acha estranha e talvez vulgar.

Minhas roupas não são nada demais para o padrão da festa, os famosos são imprevisíveis, lá em cima tem gente vestida de todo e qualquer jeito, não parecia nada demais o meu vestido curto e caro. Mas aqui sozinha com ela, eu pareço esnobe e vulgar.

Olho para os lados, apenas a praia vazia, estamos sozinhas aqui. Na verdade, ela estava completamente só antes de eu aparecer.

– Por que está aqui sozinha? – Pergunto finalmente.

– Lá dentro está muito cheio – Ela dá de ombros.

– Sim, mas são seus amigos, certo?

Ela apenas nega com a cabeça brevemente, seu rosto não expressa nenhuma emoção, mas eu sinto tristeza com sua resposta.

– Por que você está aqui? – Me pergunta depois de mais um tempo em silêncio.

– Oh... – Engulo em seco. – Eu acho que só queria me apresentar.

– Já nos conhecemos.

Meu coração erra uma batida, então ela se lembra. Sinto meus batimentos tão acelerados que posso ouvi-los em minha cabeça.

– Você se lembra – Não consigo conter o largo sorriso.

– É claro – Freen franze a testa em confusão. – Foi ontem, como eu me esqueceria tão rápido?

Oh.

Sinto o sorriso morrer em meu rosto, junto com algo dentro de mim.

Freen Sarocha não se lembra de mim, ela não faz ideia de quem eu sou. Mas não posso culpa-la, a primeira e única vez que nos vimos já tem mais de dez anos, talvez até eu teria esquecido se ela não fosse tão importante para mim.

Coloco o cabelo que cai sobre meu rosto atrás de minha orelha esquerda e sinto a pequena elevação, uma cicatriz próxima à minha têmpora, escondida pelo início da faixa do cabelo logo acima da orelha. Com o tempo ela foi ficando menor até quase desaparecer, mas continua aqui, eu ainda posso sentir e ainda me lembro do dia que a consegui como se fosse hoje.

A lembrança e a decepção me fazem estremecer involuntariamente.

– Eu disse que estava frio pra essa roupa, você devia entrar – Ela diz ao perceber minha movimentação.

– Você não vai entrar?

Ela nega com a cabeça e volta a olhar para o mar.

– Tudo bem, eu posso ficar mais um pouco.

Esperei metade da minha vida pra vê-la de novo, por mais que esse não seja exatamente o momento como sonhei, não estou pronta para abrir mão.

A ouço bufar e rolar seus olhos antes de tirar seu moletom por sobre a cabeça, para em seguida estendê-lo para mim.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora