32 - Aquele da brava cavaleira

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Por volta da meia noite, recebo uma ligação do baba, avisando que meu pai entraria em cirurgia pela madrugada. Deveria durar pelo menos cinco horas para reestabelecer as funções hepáticas e outras lesões internas, eu não entendo muito disso, mas sei que os riscos são altos.

Eu quis na mesma hora correr para lá, mas o baba não permitiu, não haveria nada que eu pudesse fazer lá, eu sequer poderia ver o papai. Mas ficar aqui também de mãos atadas me faz sentir inútil e inquieta. Eu ando de um lado para o outro, limpo toda e qualquer manchinha que pareça sujeira, eu sujo um copo e o lavo no mesmo instante só para ter o que fazer.

– Você deveria tentar dormir um pouco.

Freen se aproxima de mim e começa a massagear meus ombros, quando estou de frente para a pia lavando uma vasilha que tirei do armário já limpa.

– Não posso dormir, se o baba ligar...

– Aí você atende – Ela me interrompe. – Deve demorar algumas horas ainda.

– Mas se algo der errado... – Sinto minha garganta se fechar e as lágrimas se acumularem novamente.

Ela me abraça pela cintura e apoia o queixo em meu ombro.

– Nada vai dar errado.

Deixo uma lágrima escapar e suspiro, estou tão cansada de chorar. Deixo-me apoiar nela, que me ampara sem reclamar.

– Vou te preparar um banho quente.

Ela se solta de mim e desaparece da cozinha, aproveito para limpar meu rosto outra vez e respirar fundo algumas vezes até conseguir me reestabelecer. Checo meu celular só por desencargo de consciência, caso baba me ligasse, faria um barulho infernal, seria impossível passar despercebido.

Quando sigo para o banheiro da suíte, a banheira já está quase cheia. Entramos juntas, não é a primeira vez que tomamos banho juntas, mas é a primeira vez depois de um tempo. Eu me recosto em seu peito e deixo minha cabeça pender para trás, apoiando-a em seu ombro, ela me abraça e acaricia meus braços.

– Seu aniversário passou e nem pudemos comemorar – Comento, tentando pensar em qualquer outra coisa que não fosse a cirurgia do papai.

– Eu não comemoro aniversários – Ela diz simplesmente.

– Por que não?

Freen dá de ombros. – Não gosto.

– Mas é o seu aniversário, o seu dia, a gente devia comemorar, comprar presentes – Insisto. – É uma data importante.

– É um dia comum, não tem nada para comemorar.

Suspiro derrotada. – Nunca comemorou seu aniversário? Com os seus amigos, com bolo e balões coloridos?

Ela nega com a cabeça, então me viro para olhá-la com incredulidade.

– A gente precisa mudar isso – Digo resignada.

Terminamos nosso banho no chuveiro e eu precisei emprestar alguma roupa para que Freen pudesse dormir, já que ela veio sem qualquer bagagem. Parecia ter vindo às pressas, como se tivesse largado tudo assim que viu minha mensagem. Que bom que ela viu.

Mas minhas roupas não parecem ficar tão confortáveis nela quanto as dela ficam em mim, por sorte eu tenho uma carta na manga.

Busco um moletom escuro no fundo do meu closet e entrego a ela.

– Isso é meu – Ela analisa.

– Não, meu amor, isso é meu – Rebato. – E eu estou só te emprestando agora, é bom me devolver depois.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora