Só vou dizer uma coisa, a dor dói.
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Já estamos aqui há dois dias, o tempo parece passar diferente na ilha, gosto de pensar que talvez tenha relação com as histórias de Jules Verne. Mas talvez seja só porque é realmente muito bom estar aqui, eu moraria nesse lugar, moraria aqui facilmente com Freen e me esqueceria que existe um mundo fora daqui. Ela também não parece sentir falta da loucura da cidade grande, penso nisso enquanto observo-a colher tomatinhos cereja da horta que fica nos fundos da casa.
– Bec – Ela me chama de longe para me mostrar um tomate maior do que o normal.
Ela o suspende no ar para que eu consiga ver, com um sorriso largo em seu rosto, como uma criança que descobre algo novo. É como se estivéssemos finalmente nos conhecendo, o mais íntimo de cada uma, sem qualquer máscara, sem interpretar nenhum personagem. E eu a acho adorável.
Preparo torradas com geleia para mim e corto melancia em cubos para Freen, já que ela não come torradas e nem geleia. A atriz mimada, na verdade é bem simples de se agradar, ela não come nenhuma variação de fruta, ela come apenas as frutas. Arrumo tudo em vasilhas com tampas e amarro-as juntas com um pano, descemos para a faixa de areia para assistirmos ao pôr do sol da praia.
Elegantemente, ela estende uma toalha para nos sentarmos, sentando-se primeiro para que eu me sente a sua frente e consiga apoiar minhas costas em seu corpo. O céu com poucas nuvens, exibindo uma linda aquarela com diversos tons de laranja, amarelo, lilás e azul. O som das ondas fracas quebrando próximas de nós, os pássaros se recolhendo nas árvores, o vento ao nosso redor. A sensação quente de seu corpo junto ao meu, seu cheiro misturado com a maresia. Se existe um paraíso, tenho certeza que é parecido com isso.
Sempre com delicadeza, ela me abraça pela cintura e apoia seu queixo em meu ombro, eu coloco meus braços sobre os seus e entrelaço nossos dedos, deixando minha cabeça perder para trás amparada por seu ombro. Nos esquecemos da comida que trouxemos por algum tempo, ficamos apenas abraçadas apreciando a vista e cada uma perdida em seus próprios pensamentos.
– Yellow – Ela diz, de repente quebrando o silêncio.
– O que? – Fico confusa.
– Minha música favorita – Complementa. – Yellow.
Sinto uma sensação de mornidão crescer dentro de mim, me lembro de ter feito essa pergunta a ela há muito tempo atrás, em uma de nossas primeiras conversas, mas ela se recusou a responder na época. Eu acreditava saber essa resposta também através do que lia nas revistas, mas agora já não me surpreende que isso também estivesse errado. Não me importo mais quando descubro algo novo sobre ela, não fico mais frustrada por estar enganada. Fico feliz e satisfeita por ter a oportunidade de conhecer e reconhecer uma pessoa ainda melhor do que eu idealizei por anos.
Aperto ainda mais meus braços ao redor dos seus e me aconchego mais em seu corpo quente e reconfortante.
– Obrigada por me contar – Digo sinceramente.
Tenho noção do quão difícil é para ela se abrir para qualquer pessoa, mas não consigo conter a sensação de alegria que me causa saber que ela não finge ser ninguém além dela mesma quando está comigo e que vai derrubando suas barreiras pouco a pouco, me deixando entrar.
Sua revelação faz com que muita coisa sobre ela faça mais sentido, as únicas coisas coloridas em sua casa são seu Porsche e seu sofá, curiosamente ambos são amarelos. Gosto de pensar que faço parte de suas coisas favoritas no mundo por ela ter me descrito uma vez como o sol.
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Duas Marcas - Freenbecky (GAP)
FanfictionE se GAP a história de Sam e Mon tivesse acontecido em um outro contexto? Rebecca era apenas uma criança que vivia em um orfanato, quando teve a chance de viver a melhor experiência de sua vida. Um estúdio local estava produzindo uma série sobre lar...