26 - Aquele em que só tem maluco

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Cheguei, cheguei, CHEGUEI!!! Antes tarde do que nunca.


***


– Agora você vai ter que me ouvir – Ele diz ao mesmo tempo em que acende as luzes.

Me sento sobre a cama arrumada e o encaro com irritação.

– Por que você não me deixa em paz? – Reclamo.

Heng me analisa por alguns instantes, como se buscasse coragem para dizer o que queria dizer.

– Por que é que você não atende a droga do seu celular?

Bufo. – Eu nem sei aonde ele está. Por que estava me ligando?

– Freen está doente – Ele diz de uma vez.

– Não está, não – Rebato rápido demais, mais como se fosse um desejo do que uma afirmação real.

Um alerta se acende em mim, e de repente estou completamente sóbria.

Ele suspira. – Ela sofre de transtorno de estresse pós-traumático, eu não sei te explicar muito bem como isso funciona, mas por causa disso ela desenvolveu milhares de paranoias e fobias.

Eu só consigo encará-lo sem reação, meu coração bate acelerado.

– O principal é que ela não deixa ninguém se aproximar dela, ela não deveria ficar sozinha, mas ela só se sente segura se estiver sozinha e nenhum de seus amigos sabe seu endereço de verdade – Ele explica de forma cansada, como se tudo que ele está falando lhe exigisse muito esforço para ser colocado para fora. – Fazemos contato constante para ter certeza de que ela está bem. Ela também precisa tomar remédios controlados e por isso não pode ingerir álcool, tem acessos de raiva, distúrbio alimentar, dores de cabeça...

Heng faz uma pausa para respirar, ele anda até a janela e a abre, como se precisasse realmente de ar. Então ele se volta para mim, consigo sentir seu olhar em mim, mas não consigo olhá-lo de volta, encaro o espaço vazio no chão.

– Por que está me contando isso agora? – Minha voz sai num murmúrio.

– Porque você precisa saber que ela é boa – Ele diz. – Ela costuma levar a fama de vilã na maioria das situações, mas ela não é.

Balanço a cabeça. – Eu sei que ela é boa.

– Não sabe, não – Ele rebate. – Você fugiu e teve seus motivos, eu entendo. Mas eu não posso ficar de braços cruzados vendo a única coisa boa que aconteceu na vida dela acabar. O motivo de toda essa confusão e o motivo pelo qual ela não pode te contar, é para me proteger.

Ele entra em um assunto que me irrita profundamente, me irrita que sempre entremos nesse assunto, mas nunca há respostas para as minhas perguntas.

– Por que? – Digo impaciente. – Você matou alguém, por acaso?

– Sim.

Meu cérebro leva mais de dois segundos para processar. – O que?

– Eu matei uma pessoa.

O choque me impede de dizer qualquer coisa ou pensar em qualquer coisa, meu cérebro congelou, eu o encaro com descrença. Parte de mim acredita que ele vai começar a rir e isso vai ser apenas uma piada, mas ele está sério demais.

– Eu vou te contar tudo que aconteceu, nos mínimos detalhes – Ele me olha com intensidade, me sinto pequena. – Você tem certeza que quer saber?

– Por que está fazendo isso? – Minha voz sai mais aguda do que de costume, estou assustada, mas não sinto medo dele.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora