34 - Aquele em que a música toca

3.5K 485 200
                                    

Foram longos dias até meu pai receber alta do hospital, agora estamos fazendo nossas malas para voltar às gravações. As amigas de Freen e Heng já haviam voltado para casa, mas eu me recusei a voltar até que tivesse certeza de que ele estava bem, Freen ficou esse tempo todo. Mesmo agora ainda não estou segura em voltar.

– Tem certeza de que não vão precisar da minha ajuda? – Questiono pela trigésima vez.

Papai tem necessitado da ajuda de uma cadeira de rodas e muletas para se locomover, ainda está se adaptando. Nem consigo imaginar perder uma perna.

– Garota, eu troquei suas fraldas – Baba bagunça meus cabelos propositalmente. – Acha que não dou conta de cuidar do meu marido?

– Não trocou, não – Rebato.

Ele pensa por um segundo.

– Tem razão – Concorda. – Mas eu poderia.

Nego com a cabeça.

Em nossa última noite aqui, baba decide fazer baklava mesmo não sendo uma quarta feira. Freen está animada com isso.

Meus pais não fizeram perguntas sobre o tempo que ela ficou desaparecida, se tem uma coisa que eles evitam é se envolver no que eles chamam de "coisas de mulheres". Então eles dão espaço, mas sei que em algum momento vamos conversar sobre isso. Também tem a questão do acidente e a recuperação do papai, nada além disso importa.

Apesar de estar bem, meu pai ainda estava bastante fraco e debilidade, depois de passar por três cirurgias, amputação, infecção. Mas ainda assim era um homem forte e resignado, tenho orgulho de ser filha dele.

Com baba fez a sobremesa, eu fico responsável pelo jantar, Freen me ajuda da forma que pode. Ela pica os ingredientes que vou usar para o talharim e lava cada colher que eu sujo antes mesmo que eu termine de usar.

Quando a comida está pronta, nos sentamos à mesa como uma família feliz, como uma família de verdade.

Freen e papai sempre entram em algum assunto sobre trabalhos anteriores, mesmo que eu também seja atriz, não tenho um décimo da experiencia que ela tem em sets de filmagem. E ele tem mais do que nossa idade só de carreira, eles conversando tão descontraidamente são exatamente aquilo que se espera de quem se conhece a vida toda. Eu a vejo tão leve e me sinto bem.

Baba me cutuca com o pé por debaixo da mesa para chamar minha atenção, olho para ele brevemente, e ele me lança um sinal limpando sua própria boca com o guardanapo.

– Está escorrendo aqui – Ele diz, piscando para mim com um só olho.

Devolvo um sorriso sarcástico para ele ao mesmo tempo em que o chuto fraco por debaixo da mesa.

– Ai! – Papai reclama, voltando sua atenção para mim.

– Desculpa – Me apresso em dizer. – Era para ser no baba.

Papai franze a testa para mim.

– Eu só tenho uma perna e você ainda consegue acertar?

Todos ficam em silêncio, Freen tem seus olhos arregalados voltados para mim.

Mas então ele ri, fazendo com que todos o acompanhem sem peso na consciência. Vai demorar até que eu consiga me acostumas, mas ele já parece mais do que conformado.

– Parem de levar isso tão a sério – Ele nos repreende. – Eu emagreci uns vinte quilos sem a perna, foi uma vantagem.

Eu quero rir, mas me controlo, minha consciente me diz que é um péssimo momento e dessa vez eu a escuto.

Duas Marcas - Freenbecky (GAP)Onde histórias criam vida. Descubra agora