Capítulo 1

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O dia começou ensolarado naquela manhã, o que para Isabella, significava ser um ótimo dia para sair de casa, para mais um de seus passeios no parque. Era lei, todo final de semana ela ia a um parque próximo ao pequeno apartamento que dividia com uma colega da faculdade. Era o contato mais direto com a natureza que uma cidade grande poderia permitir, e ela amava isso. Cresceu em uma cidade pequena cercada por natureza, então aquele lugar a fazia se lembrar de casa e de tudo que amava.

Como de rotina, ela saía de casa às oito da manhã, enfrentava uma pequena caminhada onde cumprimentava algumas pessoas pelo caminho, e um casal de velhinhos que moravam em uma casa ao lado de seu prédio, e sempre estavam sentados a beira da calçada aproveitando o sol frio da manhã em suas cadeiras de balanço. De tanto fazer aquele mesmo caminho, as pessoas da vizinhança já a conheciam, e dona Eva e o senhor Osvaldo já poderiam ser considerados amigos íntimos da garota, pois sempre que passava eles a faziam parar e sentar-se ao lado deles por um tempo, e baterem uma boa prosa, para só depois ela seguir em direção ao seu destino.

Aquele sábado não foi diferente, depois de despedir-se do casal de idosos gentis que a tratavam como uma neta, ela foi em direção ao seu lugar de costume, ao chegar se dirigiu à mesma árvore de sempre. Sentou-se na grama enquanto observava as pessoas que por alí estavam. Alguns pais brincando com seus filhos, alguns donos com seus cachorros, algumas pessoas se exercitando, outras lendo, e algumas apenas igual a ela, observando tudo ao seu redor e perdidos em seus pensamentos. Próximo ao horário do almoço, Isa decidiu por fim voltar para casa e terminar de organizar algumas coisas que faltavam para o início de suas aulas, na segunda-feira. E também poderia repassar algumas matérias, já que sabia que sua colega não estaria em casa como em todo final semana, então se levantou, bateu a poeira de sua roupa, e seguiu em direção a rua.

***

Não muito longe dali, encontrava-se Leandro, e seu irmão mais novo Guilherme, completamente perdidos e atrapalhados, já que sua mãe ordenou que ambos, fossem almoçar em casa aquele final de semana, e que passassem no mercado para comprar alguns ingredientes que faltavam. Como moravam no mesmo prédio, depois de uma pequena discussão, eles decidiram por fim, irem no mesmo carro com o mais velho dirigindo. Porém não contavam, que iriam demorar muito no mercado e iriam se perder no caminho.

- Cara, eu te falei que não era por aqui, agora sim a mamãe vai nos matar. Disse Leandro inconformado com as instruções erradas de Guilherme, que o havia feito ir por um caminho diferente do de costume alegando ser mais rápido.

- Relaxa, nós não estamos tão atrasados assim, e a culpa foi sua, eu mandei você entrar na outra rua. Respondeu recebendo um olhar zangado do irmão.

- Mandou porra nenhuma, eu te falei para irmos pelo lugar de sempre, você quem inventou pegar uma atalho, agora estamos atrasados e perdidos Guilherme.
Guilherme o olhou um pouco apreensivo, pois sabia que sua mãe odiava atrasos, e os estaria esperando pronta para dar uns beliscões. Mesmo os filhos já tendo 25 e 28 anos de idade. Dona Ana era fogo, e para ela não importava a idade, os filhos iam sempre ser castigados caso merecessem.
- Hummmm, entra na próxima a direita.
Disse recebendo um olhar desconfiado do irmão, que obedeceu sem perceber a placa de proibido entrar naquela rua.

Guilherme foi surpreendido por uma freada brusca do carro, que Leandro deu ao quase atropelar uma "menina" que atravessa a rua naquele momento, o grande cabelo escuro estava bagunçado lhe impedindo de ver o rosto.

- Droga! Disse ainda assustado pelo acidente que quase causou, e descendo do carro para ver se a "criança" estava bem.

- Você é cego seu maluco? Não está vendo a placa não? Disse Isabella tirando o cabelo do rosto completamente irritada pelo susto que acabara de levar. - Era só o que faltava, ser quase atropelada por um idiota, que além de cego é mudo também.
Disse ainda mais irritada pela falta de resposta do homem à sua frente, que a olhava espantado pela explosão de raiva da pequena mulher, que até então ele pensava ser uma menina, se bem que o rosto angelical dela o fazia ter dúvidas de sua idade.

- Calma moça. Disse quando finalmente recuperou as palavras. - Eu não queria atropelar você... Falou sendo cortado pelo pequeno furacão a sua frente.

- Não, claro que não, queria atropelar outra pessoa, uma criança, um idoso, até mesmo um animal indefeso, é isso que se faz quando ultrapassa um lugar proibido. Disse levantando a voz e apontando pra placa a sua frente. - Comprou sua carteira aonde em? Na China?
Guilherme observava tudo atento de dentro do carro, pois não se atreveu a irritar ainda mais a pequena mulher que conseguiu deixar seu irmão sem argumentos, o que era algo difícil de se fazer.

- Calma aí irritadinha, não, eu não vi a placa, e uma pirralha do seu tamanho não deve saber nem dirigir para vir falar dos outros. Disse também se irritando pela pergunta impertinente da garota.

-Pirralha seu nariz, eu já tenho 23 anos seu idiota, e para sua informação eu sim tirei minha carteira por vias legais, não comprei na China como você, e saio atropelando as pessoas por aí. Disse cuspindo fogo por ser chamada de pirralha por aquele brutamontes.

- Primeiro que eu não cheguei a atropelar você. Disse recebendo o olhar irônico da garota. - E outra, eu também não tenho culpa de ter uma maluca andando no meio da rua numa esquina, então você está tão errada quanto eu.

- Eu errada? EU ERRADA? Eu estava Atravessando uma rua de mão única, a qual estou vendo que está livre, como eu ia imaginar que um barbeiro mal educado iria simplesmente ignorar a placa e entrar onde não devia? Disse possessa de raiva. - Ah quer saber, não vou perder meu tempo com você, vê se volta pra alto escola Zé Mané. Disse e passou por ele empurrando seu ombro e batendo os pés no chão.
Leandro ainda estava embasbacado com o que acabara de acontecer, viu quando o pequeno ser se afastou e virou a esquina, então voltou para o carro encontrando o rosto risonho de seu irmão.

- Nem uma palavra Guilherme, ou eu esgano você. O irmão apenas soltou uma risada alta e se manteve quieto.

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