Amanda POV's on:Eu e o Antônio temos uma infinidade de coisas iguais, exatamente iguais. Manias, percepções, jeitos... incontáveis coisas. Mas também temos outra infinidade de coisas que nos diferem. Por exemplo, os primeiros dias do nosso término pra ele foi o fundo do poço. Antônio sumiu de tudo, foi desesperador, ele não atendia ligações apenas respondia o WhatsApp uma vez ou outra, acho que ele não queria que eu ouvisse sua voz embargada ou visse sua cara extremamente vermelha de choro. Quando queria notícias suas, ligava para o Mário ou Lê, amigo dele. Já eu nas primeiras semanas tentava levar a minha vida normalmente, foquei no meu trabalho, nos meus cursos, estava me atarefando até as madrugas, não queria ter tempo de pensar. Os primeiros dias deu mais ou menos certo, eu acho. Mas ao meu primeiro momento sozinha, eu desabei, talvez tenha chorando uns três dias seguidos e feito que nem o Antônio do início, sumido de tudo. A Bel e a Larissa tentavam de tudo para me animar, mas eu só queria desvair em lágrimas, naquele momento eu entendi que a ordem das reações não diminui a dor. A essa altura Antônio já havia voltando aos treinos, ele parecia melhor, ou pelo menos estava a fingir bem.
Tentei assimilar o término ao luto para melhor entender. Para cada pessoal o luto funciona de um jeito, sentimos de uma maneira pessoal e distinta. Uns antes outros depois, mas ninguém deixa de sentir. Não importa qual a sequência da dor, doía nos dois do mesmo jeito.
Na minha fase fundo do poço, Antônio fez o mesmo que eu no início, ligava, mandava mensagens, perguntava aos meus próximos como eu estava... Talvez essa seja nossa maior semelhança, apesar dos pesares sempre estaríamos a nos doar um para o outro. Nos amávamos acima de tudo. E era isso que importava.
Eu sentia falta dele, sentia falta de conversar, falta de seus áudios imensos, falta de responder seus inúmeros questionamentos médicos, saudade do meu querido hipocondríaco... falta de tudo. TUDO. Pensei que lidaria de forma mais fácil, mas eu só pensava nele o tempo inteiro. Não importava o que eu fizesse, tudo de bom ou ruim do meu dia eu me pegava abrindo o WhatsApp para contá-lo. Caía em mim, fechava o aplicativo tristonha. Perdi as contas de quantas vezes fiz isso no último mês, e que mês estranho...
Estranhíssimo uma presença absurda, e no fundo é uma falta. Talvez seja isso a saudade.
Saudade.
— Amandinha? — a voz de Larissa soou fazendo com que eu voltasse ao mundo real.
— O-oi? — disse arqueado um pouco a cabeça para trás para olhar a Larissa que estava a entrar no quarto.
— Trouxe uma água — ela disse colocando o copo com água na mesa a frente da cama — quer um pouco?
— Obrigada, já já eu tomo — disse respirando fundo.
— Tá melhor, amiga? — ela perguntou se sentando ao meu lado na cama e tocando minhas mãos — ainda tá gelada.
— Eu só estou muito ansiosa esses dias... uma puta ansiedade — disse colocando uma das mãos no peito e em seguida aferindo minha própria pulsação — foi só isso... já está passando.
— Por que tá assim? — Larissa se deitou ao meu lado ficando na mesma posição que eu. Eu estava com o tronco sobre a cama e e as pernas elevadas apoiadas na parede.
— Melhora a circulação, faz com que a aumente a pressão arterial — disse balançando os pés de um lado para o outro, fazendo com que chocasse um de meus pés com os da Larissa— tô tentando fazer minha pressão normalizar — a morena sorriu e começou a balançar os pés em sincronia com os meus.
— Pensei que em casos de crises de ansiedade a pressão ficasse alta — Larissa olhou o celular e depois olhou para mim.
— Na maioria dos casos sim... mas tem algumas pessoas que acontece diferente — respirei fundo — estranhamente a minha ficou baixa dessa vez.
— Ah sim — ela entrelaçou nossas mãos — amo quando você está assim toda médica, explicando as coisas... amo! — gargalhei balançando a cabeça algumas vezes — não tem que lidar com tudo sozinha, poderia me chamar ou chamar a Bel... Tem que aproveitar as companhias. Se fica ansiosa, grita a gente — ela sorriu — tem certeza que vai voltar para o Rio hoje, amiga? — confirmei com a cabeça e Larissa passou uma das mãos por meus cabelos — não acha melhor descansar um pouco? Ficar com companhia? Vai voltar sozinha dessa vez já que a Belzita não vai.
— Tenho gravação amanhã cedinho... — lhe dei um abraço levantando da cama — já passou, não vou ficar ansiosa de novo — juntei as mãos — com fé em Deus.
— Amém! — a morena rolou na cama ficado de bruços. Me olhou a tomar a água que ela tinha trago — isso tem alguma ligação com o Sapato? — não respondi, apenas terminei de tomar a água — tá sentindo falta dele? — continuei quieta — amiga desabafa, se guarda tudo, acaba se sentindo mal...
— Eu vou terminar de arrumar as malas... — sorri para a garota beijando seu rosto e em seguida saindo do quarto.
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intense feelings
RomanceTudo pode nos tocar a alma. Por um milésimos de segundos ou até nosso último segundo de vida. Depende da intensidade. #docshoe