Seja feliz! 😑

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Antônio.

Amanda estava parecendo aérea desde ontem, a sensação é que algo a estava incomodando, algo estava a torturando, a sufocando.

Nossos caminhos de carro sempre tão conversativos e animados, foi substituído por um percurso inteiro do mais puro silêncio.

Chegando em sua casa, ela sentou-se no sofá com os olhos mais atônicos que já vi.

- Gatinho, a gente precisava conversar... — ela iniciou a conversa dando 2 tapinhas no sofá pedindo para que eu sentasse ao seu lado.

Ali tive a certeza que algo estava errado com ela.

- Tá tudo bem? — questionei assim que me sentei.

- Lembra da minha ida ao parque ontem? — ela me olhou profundamente

- Ahan! — balancei a cabeça positivamente.

- Eu... Bem, eu fui encontrar Rodrigo.

Encontrar Rodrigo? Porque ela iria encontrar Rodrigo e porque caralho não me contou?

Esses eram os pensamentos que rondavam minha cabeça naquele momento, mas nada falei, só continuei a olhar pra ela para que ela prosseguisse com a linha de raciocínio.

- E... Ai, não sei bem como falar isso pra você, mas ele meio que se declarou pra mim. — ela disse desviando o olhar de mim e automaticamente olhando pra baixo.

- ELE O QUE??????? — indaguei indignado — como alguém meio que se declara Amanda? Ou ele se declarou ou não se declarou.

- Na verdade, ele se declarou.

- Eu sabia!!!!! Eu falei pra você que isso ia dar merda, eu sabia que a Daniela não ia alucinar com uma história dessa absolutamente do nada. E eu avisei você Amanda, eu avisei... — disse com um tom de voz acima do normal.

A reação dela foi de continuar olhando pra baixo.

- E você pretendia me contar isso quando??? Tá explicado o porque do silêncio ontem, tá explicado o porque da sua "dor de cabeça"...

- Calma aí — ela falou levantando o olhar — eu realmente estava com dor de cabeça e sobre o meu silêncio, eu só não sabia o que dizer, eu ia te falar, mas achei que...

- Você achou que omitir mais uma informação de mim sobre o Rodrigo ia ser maravilhoso né? Isso que você achou. — falei interrompendo sua fala com uma grosseria que nem eu mesmo achei que fosse capaz de ter com ela.

- Não, eu só achei que não fosse o momento. — ela respondeu, me deixando ainda mais nervoso.

- NÃO ERA O MOMENTO???? Como assim não era o momento Amanda? Se tinha um momento certo pra você me dizer uma porra dessa, o momento era aquele. Eu sou seu namorado caralho!

- Antônio — a voz dela estava trêmula — tinha a festa do pijama com a Maria, eu só não queria estragar o momento.

- HAHAHAHAHAHAHAHAHA — gargalhei de forma irônica — você não queria estragar o momento? Preferiu estragar nosso relacionamento omitindo mais uma coisa, é isso? A porra de uma festa do pijama poderia ficar pra outro dia, mas não, você mais uma vez preferiu mentir pra mim do que abrir o jogo logo.

- Eu não menti pra você — ela disse deixando lagrimas rolarem pelo rosto.

Percebi que talvez estivesse passando do ponto com ela sendo grosso e aumentando o tom de voz é definitivamente ela não merecia isso, então me calei e procurei me acalmar antes de dizer a próxima frase.

- Não mentiu mas omitiu, de novo... Você prometeu que não ia fazer isso de novo e fez. Tudo que diz respeito ao Rodrigo, você sempre acaba arrumando desculpas pra me deixar de fora, ou pra se esquivar, eu falei pra você que não queria ser usado de estepe.

- Você não está sendo usado Antônio, eu acho isso uma injustiça tremenda comigo e desculpa, mas não vou aceitar ser injustiçada desse jeito, eu disse a ele que... — eu a interrompi novamente.

- Amanda, sinceramente, acho melhor eu ir embora, não to com cabeça pra conversar agora e provavelmente vou acabar falando um tanto de merda que vai acabar machucando a você e consequentemente a mim também.

- Mas Antônio, eu...

- Amanda, por favor, respeita esse meu pedido. Eu tô falando isso pro seu bem, eu sei que tô gritando com você é isso já é uma coisa que eu vou me condenar pra sempre por estar fazendo, eu só não quero piorar as coisas. — falei passando a mão pelos cabelos — eu vou embora, depois a gente conversa.

Enquanto dava passos sentido a porta, não pude de fazer uma última pergunta a ela:

- Amanda, vocês se... vocês se beijaram?

- O QUE???? Que porra de pergunta é essa? Claro que não. — ela respondeu rapidamente e praticamente gritando.

- Então é isso, tchau! Seja feliz.

Andei rapidamente até a porta e bati ela com uma força desproporcional.

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Amanda.

Seja feliz? O que ele quis dizer com seja feliz?

Ele estava terminando comigo?

Isso foi um término?

A vontade que eu tinha no momento era correr atrás dele para tentarmos conversar, mas a sensação que eu tinha era que meus pés estavam presos no chão como se fossem raizes, eu não conseguia mexer um único músculo do meu corpo.

Meu coração começou a acelerar, minha mão e meu rosto suavam frio, comecei a sentir um leve desconforto pra respirar, era como se faltasse ar na atmosfera, como se o meu pulmão tivesse colapsado.

Ótimo! Já não bastasse meu namorado terminando comigo, ainda estava tendo uma crise de ansiedade...

Respirei fundo, usando todos os exercícios mentais que aprendi na terapia em todos esses anos a fim de tentar controlar a crise, até que finalmente consegui me levantar do sofá, apesar de ainda não estar livre da ansiedade.

A minhas válvula de escape favorita para crises desse tipo era tomar banho no escuro e apesar da claridade estar batendo no banheiro devido ao horário, ainda sim segui o meu ritual que me trazia uma calmaria.

Liguei o chuveiro, deixei a banheira encher, apaguei a luz do banheiro e entrei nela, passei horas e mais horas dentro da banheira chorando de forma incontrolável. Deixando sair todo aquele sentimento ruim de dentro de mim, como se as águas daquela banheira pudessem lavar a alma e lavar consequentemente todas feridas, dores e todas as mágoas.

Era inevitável me sentir injustiçada naquela situação, por mais que talvez eu tivesse errado mais uma vez o timing de falar com ele, eu pensei que estivesse fazendo o melhor pro momento, o melhor pra nós.

Aquele momento na banheira foi de extrema importância não só para me acalmar, mas principalmente para alinhar algumas coisas na minha cabeça, definitivamente eu precisava me conectar comigo mesma pra poder digerir todos os acontecimentos recentes.

Enquanto o homem que eu sempre sonhei em me casar se declarava pra mim, paralelamente o homem que eu quero me casar terminava comigo...

Ironias da vida.
Ironias da vida de Amanda.

Me recompus como pude, coloquei um pijama, mesmo sendo início de tarde e me deitei na cama.

Nada me tiraria dali, nada.
A dor precisava ser sentida e eu estava prestes a encara-lá de peito aberto.

SandCastles - DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora