Você é? 🧐

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Amanda.

(...)

- Você... você... — Antônio parecia estar tomando coragem pra me perguntar algo — você estava solteira quando descobriu sobre o bebê?

Essa era uma pergunta um tanto quanto estranha vindo de alguém que terminou comigo a mais de 1 mês atrás...

Por que ele queria saber? O que isso mudaria?
Será que ele tá querendo saber disso por desconfiar da paternidade? Mas eu me ofereci pra fazer um teste de DNA no dia que cheguei, o que foi imediatamente negado por ele, por que essa pergunta agora?

Tomando conclusões precipitadas — como sempre — já fui logo cortando os meus pensamentos introduzindo esse assunto novamente

- Antônio, como eu te disse, estou a disposição se você quiser fazer um teste de DNA...

Eu me sentia mal em falar mais uma vez sobre isso, mas é que tenho alguns traumas passados em relação a abandonos e com certeza esse assunto ainda me despertava gatilhos fortes, então é impossível controlar esse tipo de pensamento e minha frase saiu quase que em modo automático, assim como a resposta dele:

- O QUE???????? Não, claro que não, por que você tá falando sobre DNA de novo Amanda? — falou parecendo irritado.

- Ué, você tá perguntando sobre minha solteirice antes da gravidez, imaginei que fosse...

- Imaginou errado — ele cortou minha fala antes que eu pudesse terminar de falar — isso não tem nada a ver com o bebê, eu nunca cogitei a possibilidade desse filho não ser meu, Amanda — essa afirmação com certeza tirou um peso das minhas costas — eu quero saber um pouco sobre você, desde que você chegou só falamos sobre o bebê...

- Porque é o que importa pra gente agora, não é mesmo? — questionei.

Tudo isso era um pouco estranho pra mim, não que seja incômodo, pois a companhia dele nunca era incomoda, mas falar sobre isso ainda me causava um certo temor.

Ele me olhou atentamente como se quisesse ver além dos meus olhos.

- É... — concordou parecendo não concordar.

Definitivamente não era um bom momento para falar sobre "nós", até porque o "nós" não existe mais a mais de 1 mês e não por escolha minha.

Ele é especial pra mim e agora com esse vínculo eterno que temos, ele vai ser especial pra sempre, mas as coisas mudaram e que hoje somos meros amigos e eu precisava me convencer disso, nem se eu tiver que auto afirmar isso pra mim mesma quantas vezes fosse necessária.

Nem todos os pra sempre, são realmente pra sempre, né Amanda? O único pra sempre palpável agora era o meu com o meu filho e era isso que importava pra mim.

Terminamos o jantar em silêncio, me ofereci pra lavar a louça, mas Antônio rapidamente negou e colocou todos os utensílios dentro da lava louças enquanto eu arrumava a mesa.

- Então é isso, acho que eu e o neném precisamos dormir, hoje o dia foi no mínimo... intenso — falei.

- Claro! Eu também preciso dormir já que amanhã cedo tenho treino.

Subimos as escadas rumo ao quarto

- Boa noite, Amandinha. Boa noite bebê! — disse enquanto se aproximava lentamente quase que pedindo permissão pra tocar na minha barriga.

- Boa noite papai! — respondi.

Nos despedimos e logo fui deitar, eu estava exausta. Completamente exausta. Tudo o que eu precisava era de uma bela cama e de um travesseiro fofinho.
Não demorou muito para que eu simplesmente apagasse.

Amanheci meio que fora de órbita, me questionando onde estava e só depois do meu cérebro faz um pequeno backup, eu raciocinei que ali era a casa de Antônio, ou melhor, a nossa casa, como ele gostava de enfatizar, mesmo que eu não me sentisse tão confortável assim ali.

Depois de fazer minha higiene matinal, ouvi um pequeno um barulho vindo do andar de baixo e logo fui até lá, me deparando com um Antônio sem camisa — inclusive, estava um puta gostoso, malditos hormônios — preparando algo no fogão.

- Bom dia! — falei baixinho pra não assusta-lo.

- Bom dia Amandinha, tô preparando o nosso café da manhã, daquele jeitinho que você gosta.

Fiquei surpresa dele ainda lembrar exatamente do jeito que eu gosto do café da manhã já que tem alguns detalhes específicos, o café morno e quase sem açúcar, pão tostados de uma forma extremamente crocante e com uma camada generosa de requeijão por cima, os ovos com a gema mole e um suco de maracujá bem concentrado.

- Estava tudo uma delícia, muito obrigada. — disse assim que tomei o último gole de suco.

- Eu preciso fazer meu treino agora de manhã, mas assim que eu terminar volto imediatamente pra casa. Vocês vão ficar bem? — ele falou assim que terminou de comer.

Eu dei uma generosa risada com o excesso de preocupação dele, o que poderia acontecer nesse período? No máximo um ou outro enjoo e umas 17 idas ao banheiro.

Eu sabia que a luta de Antônio estava cada dia mais próxima e eu sei o quão importante tudo isso é pra ele, a última coisa que eu quero é atrapalha-lo ou tirá-lo do foco nesse momento.

- Não precisa se preocupar comigo, pode treinar a vontade e ficar o tempo que for necessário na academia.

- Daqui a pouco estou em casa. Qualquer coisa você me liga? Precisa de algo antes de eu sair? Um remédio? Alguma coisa do mercado? Ou de alguma loja?

- Não, está tudo bem. — repeti pela milésima vez desde que cheguei aqui.

Era inevitável abrir um sorrisinho ao ver o quão ele realmente se importava com o bebê.

Antônio saiu pela porta e eu respirei fundo, ainda sem acreditar que eu estava em Miami com ele e grávida ainda por cima...

Muita bizarrice pra uma semana só — pensei comigo mesma.

Resolvi então fazer o almoço pro tempo passar um pouco mais depressa, ficar na casa de Antônio o dia todo e sozinha me deixaria doida.

Antônio gosta muito de risotto, pensei então em preparar um para quando ele voltasse, rapidamente fui revirar os armários pra ver se tinha todos os ingredientes necessários, quando vi que sim, subi até o meu quarto coloquei uma roupa confortável e assim comecei a preparar a comida enquanto ouvia Los Hermanos.

"Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim se pôde evitar
De tanto eu te falar
Você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão pra se perder
No abismo que é pensar e sentir"

Essa música me trazia um ar de nostalgia bem gostoso, então eu fui cantarolando ela até que ouvi o barulho da porta...

Ué, mas Antônio já voltou? Ele costumava a demorar mais nos treinos do Brasil — pensei comigo mesma.

Quando virei e fui em direção a sala, não era Antônio que estava lá e sim uma mulher...

Uma mulher morena, alta e com os olhos verdes mais bonitos que já vi.

Ela usava um jeans despojado de lavagem escura e uns recortes na altura dos joelhos e uma blusa preta de tricô básica, alem de uma sandália baixa nos pés e uma jaqueta de couro amarrada na altura da cintura, era realmente uma mulher muito bonita.

Quem quer que seja essa mulher, com certeza é íntima, visto que tem a senha da porta da casa de Antônio e tinha livre acesso a casa dele.

- Oi? Você é? — ela perguntou depois de levar um pequeno susto ao me ver ali.

- Amanda! — respondi rapidamente.

- Ah, você que é a Amanda? Ual, por essa eu realmente não esperava — ela disse ainda parada na porta — Oi Amanda, eu sou a Cecília...

SandCastles - DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora