SandCastles - DocShoe

Anjo! 😇

Antônio

Com o passar dos dias, me sentia cada vez melhor e readaptado em relação a minha antiga rotina de treinos.
Hoje tive mais um retorno médico pra ver se estava tudo bem com a minha recuperação e confesso que meu peito pulsava de felicidade ao receber notícias e respostas positivas do meu oncologista.

Assim resolvi intensificar ainda mais meus treinos, antes fazia somente um treino por dia e agora passaria a fazer dois, um de manhã e outro no início da noite.

O treino da manhã foi pesado, fiz uma junção entre treino aeróbico, judô, jiu-jítsu e ainda dei início a volta dos meus treinamentos de boxe com o professor Dórea. Estava exausto, mas estava muito feliz em recuperar a confiança.

Por volta das 17h voltei novamente a academia pra dar o meu segundo treino do dia, intensificando ainda mais a musculação a fim de recuperar ainda mais rapidamente a forma física ideal que tanto me assombrava nessas últimas semanas.
Encontrei Fredinho terminando sua série de treinos e ficamos batendo um longo papo sobre a vida e sobre nosso assunto favorito: mulheres!
Fredinho me contou que finalmente estava namorando e me perguntou como estava minha vida amorosa e sexual, contei a ele que estava sem cabeça pra qualquer tipo de relação — coisa que ele não pareceu acreditar — porém era a mais pura verdade, desde que fui diagnosticado com a leucemia não me permiti pensar em nada além da minha recuperação.

- Eu vi você conversando com a Amanda um dia desses — ele comentou, com um sorrisinho no canto da boca, típico do Fred quando tentava insinuar algo.
- Cara, eu mal fui curado e você já quer me enfiar em encrenca? — comentei rindo.
- Como assim encrenca? — ele respondeu parecendo não entender.
- A garota é namorada do mais novo queridinho do judô, faixa preta, possível campeão olímpico e você querendo me colocar no meio?
- A Amanda? Namorada? Do Rodrigo? — ele perguntou pausadamente, com o cenho franzido mas querendo gargalhar — não, cara. Acho que você entendeu errado. Eles não são namorados. São melhores amigos de infância da minha namorada, Larissa, os três são praticamente irmãos.

Juro que fiquei surpreso com as palavras de Fredinho já que eles pareciam tão próximos, mas o fato de nunca ter visto um beijo deles me fez cair a ficha de que com certeza deveria significar que talvez eles realmente não fossem um casal, era tão óbvio e fazia muito sentido, como não reparei? — me questionei.

Estar perto dos meus verdadeiros amigos como o Fredinho me ajudava muito a olhar pra frente e enxergar que eu poderia sim voltar a ser o campeão que sempre fui, a confiança deles em mim me motivava a querer voltar cada vez mais rápido.

E ao fim da nossa conversa, meu amigo seguiu seu caminho e eu voltei aos exercícios. A academia estava cada vez mais vazia, o que eu gostava, visto que confesso que não era confortável encarar toda a curiosidade e até os olhares de dó das pessoas que me reconheciam soltavam durante os meus treinos.

Depois de uma corrida de 50 minutos na esteira, comecei a me sentir um pouco mal, minha visão ficou um tanto quanto turva e meu coração estava extremamente acelerado, percebi que a exaustão havia me consumido e aos poucos fui diminuindo o ritmo da corrida, até que se tornou uma pequena caminhada na esteira e por fim a desliguei, terminando meu treino quando completou 60 minutos.

Sentei por alguns minutos no banco que tinha lá lado das bicicletas ergométricas e tomei um gole d'água a fim de esperar que meus batimentos cardíacos e minha visão se normalizasse, coisa que não aconteceu, então aos poucos fui me levantando e caminhando pra escada, pensando em ir pra casa o mais rápido possível.

Desci as escadas me apoiando no corrimão para evitar uma potencial queda, porém, quando estava prestes a firmar meu pé no chão, não enxerguei mais nada, tudo ficou preto...

(...)

Aos poucos fui recuperando a consciência, ouvia uma voz doce me chamando pelo nome e quando finalmente consegui abrir meus olhos, a primeira coisa que vi foi um rosto de um verdadeiro anjo, anjo que me encarava com os olhos mais expressivos que já vi na vida.