O problema era comigo... 😐

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Antônio.

Desde de que a minha última e definitiva conversa com Amanda aconteceu, venho pensando muito sobre tudo o que ela me disse e tenho tentado trabalhar nisso internamente.

Com os passar dos dias as coisas foram ficando cada vez mais claras pra mim e eu pude entender suas atitudes de uma forma bem menos abstrata, menos julgadora e passei a admira-la ainda mais, se é que isto era possível, percebendo ainda mais o tamanho de sua força e empatia, além da sensibilidade que ela teve comigo.

Enquanto eu refletia sobre tudo o que foi dito, eu consegui entender um pouco sobre o porque de eu até então não conseguir verbalizar tão bem sobre os acontecimentos da minha história frustrada com Maria Julia.

E a verdade é que mais uma vez Amanda tinha razão.

Eu não conseguia falar sobre isso porque esse assunto infelizmente ainda É uma ferida que não foi cicatrizada internamente por mim.

É uma ferida que eu procurei ocultar pensando que talvez se eu não mexesse nela, ela simplesmente desapareceria. Mas a real é que ela apesar que escondida ainda estava lá, aberta e extremamente dolorida.

E mais do que isso, essa ferida ainda sangrava todas as vezes que alguém ou até mesmo eu a tocasse, então era isso que eu evitava fazer, mexer nela.

Depois daquele jantar em Miami, eu finalmente pude pelo menos saber os motivos que levaram Maria Julia a ir embora e por mais que hoje eu saiba esses motivos, eu ainda não consigo entender o que a levou a ter uma atitude tão insensível e egoísta em se colocar como a única prioridade em meio a tudo o que tínhamos construído em anos de relacionamento e em meio a tudo o que eu estava prestes a passar com o diagnóstico leucêmico que havia acabado de receber.

Era impossível não sentir que a culpa foi minha em não conseguir ser a pessoa que ela almejou para a vida dela.

Era impossível também não pensar que me dediquei e me doei o máximo que eu poderia na época e que mesmo assim, o meu máximo não foi o suficiente para que ela escolhesse ficar mesmo sabendo da barra que eu viria a enfrentar SOZINHO com o tratamento oncológico que eu iria dar início.

Talvez tudo isso fosse apenas a ponta do iceberg, mas se eu pudesse definir em uma única palavra o quão importante pra mim foi conseguir colocar isso pra fora na terapia, eu escolheria a palavra LIBERTADOR.

Eu vinha avançando passinho por passinho em conseguir cada vez mais falar sobre isso, sem surtar, sem me culpar, sem me calar ou sem fugir e eu me sentia muito feliz em pensar na pequena vitória que isso significava.

Nesse período, tive várias reuniões on-line com a equipe da PFL, porque dessa vez eu decidi fazer minha preparação física e técnica pra próxima luta quase que inteira aqui no Brasil, já que esse foi o único jeito que eu encontrei de unir as minhas duas maiores prioridades no momento: minha a luta e Luna, visto que nas atuais circunstâncias, Amanda estava zero disposta a ir para os EUA de novo e eu zero disposto a ter que ficar longe da minha filha.

Fazer a minha preparação aqui daria um pouco mais de trabalho pois as regras da PFL são bem rigorosas em relação a parte médica e as colheitas aleatórias de urina para o exame antidoping que eles faziam para ter certeza que nada ilegal tava sendo consumido ou injetado pelos atletas antes das lutas oficiais. E eu estando e fazendo a minha preparação inteira aqui, as coisas seriam um pouco diferentes nessa preparação pré luta.

Além de tudo, eu considerava um pouco arriscado ficar todo esse período de preparação aqui no Brasil, já que o material humano dos lutadores na American Top Team era bem superior ao encontrado aqui, mas era um risco calculado e eu estava pronto para correr esse risco.

SandCastles - DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora