SandCastles - DocShoe

Tempo! ⏳

Antônio.

Tem sido um processo difícil pra eu entender que o meu relacionamento com Amanda tinha realmente chegado ao fim.

E era extremamente doloroso vê-la tão perto fisicamente, mas ao mesmo tempo sentir-la tão distante emocionalmente de mim.

No fundo, talvez até aquele momento eu ainda tivesse esperanças de que quando a maré baixasse, a correnteza ia acabar diminuindo, consequentemente o nosso barco ia acalmar e poderíamos nos entender...

Mas o que eu não esperava era que quando a maré finalmente desse uma trégua, nossos barcos já estariam em direções tão opostas.

A nossa parceira que era nossa maior característica como um casal, hoje só volta a aparecer quando diz respeito as coisas de Luna, coisas sobre os exames dela, quartinho, enxoval e todas as outras milhares que coisas que envolvem ter um bebê...

A verdade nua e crua é que agora não éramos nada além de "os pais de Luna", infelizmente...

Ninguém sabe do futuro e por mais que me doa dizer e admitir, HOJE eu enxergo essa situação um tanto quanto fria como definitiva entre nós dois.

E porra, chegar a essa conclusão foi mais doloroso que qualquer pancada que já levei nessa vida de lutador, porque dentro do ringue tratava-se de uma dor física.

Mas em relação a ela era diferente, essa dor era emocional, era sentimental e esse tipo de dor não tem merthiolate e analgésico que resolva.

A única coisa capaz de curar é o TEMPO!

Eu sempre fui um cara bem relacionado, sempre fui cercado de amigos que fiz pela vida e nunca tive dificuldades pra me enturmar, então isso sempre acabou facilitando muito as coisas pra mim, sempre fui cercado de pessoas que conseguiam me tirar de qualquer tipo de fossa...

Grampola, um grande amigo de infância, me chamava de Camaleão alegando que assim como esses animais, eu sempre me camuflava nos lugares e acabava me misturando com as pessoas e olha, pensando bem é a mais pura verdade...

Esse meu jeito um tanto quanto "dado" sempre me fez fazer amizades de uma maneira muito fácil e espontânea em todos os lugares que passei na vida. Até mesmo no mundo da luta, onde as pessoas são mais fechadas devido aos esteriótipos que um lutador de MMA normalmente tem.

Mas desde o dia que eu descobri a maldita leucemia esse meu jeito precisou ser mudado, o meu tratamento exigia muito de mim e também me causou uma queda gigantesca de imunidade, então eu precisei abrir mão de muitas coisas que eu amava fazer, tive que abrir mão de conviver diariamente várias pessoas e passei a ficar muito mais tempo em casa.

E não é que eu gostei desse novo estilo de vida? Hoje em dia eu troco qualquer balada por um filminho em casa na companhia de um balde de pipoca.

Tanto que mesmo depois de me curar, continuei nesse mesmo estilo de vida mais quietinho e logo depois conheci Amanda e me apaixonei perdidamente por ela, o que me deixou ainda mais caseiro.

Uma das minhas coisas favoritas era não fazer nada na companhia de Amanda, eu amava ficar olhando pro teto enquanto conversava sobre qualquer coisa com ela.

Mas depois de tanto tempo assim, talvez estivesse na hora de eu voltar a me permitir a viver.

João Vicente que sempre foi meu companheiro nessa "vida de solteiro" estava me levando aos lugares a fim de me trazer de volta a "ativa". Então nesse último mês, voltei a sair, voltei a me divertir e principalmente voltei a me reconhecer.

Talvez fosse isso que Amanda, Fred e sei lá mais quantas pessoas vinham tentando me dizer durante esses últimos tempos, eu precisava voltar a ser eu.

Eu tinha me tornado alguém carrancudo, mal humorado e totalmente reativo. Eu tinha me tornado um ciumento possessivo, intolerante e até agressivo. Eu tinha me tornado alguém que eu não reconhecia e pior do que isso, eu tinha me tornado alguém que eu não me orgulhava, mas acho que finalmente me encontrei em meio as minhas próprias versões.