Imersão ⚓️

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Amanda.

(...)

- Amandex?????? O que... o que você tá fazendo aqui? — era a voz da Lari, minha melhor amiga.

- Voltei amiga, eu voltei! — respondi com um sorriso no rosto em meio às lagrimas.

Lari desceu as escadas numa rapidez inexplicável e logo me acolheu em meio aos seus braços e esse abraço me deu a sensação de estar totalmente protegida, como se nada no mundo fosse capaz de me atingir naquele momento, nem mesmo a tristeza.

- Você está bem? — ela perguntou ao ouvir meus soluços do choro que a essa altura já não estava mais preso na garganta — O que aconteceu, amiga? — a voz dela era maternal, era de cuidado, era de zelo, era de preocupação.

- Acabou tudo amiga. — limitei-me a dizer.

Essa frase foi o suficiente pra Larissa entender exatamente o que eu queria dizer e automaticamente apertar ainda mais os braços em volta do meu corpo.

Eu gostava de ser abraçada de um jeito bem forte e ela sabia bem disso, era como se a carga sensorial da pressão aplicada pelos braços dela ao meu entorno fossem capazes de me acalmar.

Depois de alguns minutos naquela posição tão confortável, sentamos no sofá e eu contei pra Lari absolutamente tudo o que tinha acontecido nesses últimos dias e ela, que sempre foi uma ótima ouvinte, mais uma vez me ouviu atentamente.

As poucas palavras que Lari conseguia proferir em meio a quantidade de informações que vinha recebendo eram xingamentos esporádicos e grunhidos de raiva.

Ela bateu as mãos em seu colo e eu sabia que aquilo significava que ela me faria um cafuné e rapidamente desci minha cabeça em direção ao seu colo.

- Sabe a sensação de deva ju? — perguntei a ela.

- Não, Amandex! Não, você não teve culpa na primeira vez e dessa vez tem menos culpa ainda. Tira isso da sua cabecinha, fica em paz. Você não é a errada da história.

Lari disse isso pois há alguns anos atrás conheci um indivíduo chamado Heitor, ele era lindo, educado, bom de papo e ainda por cima era médico do hospital onde eu estagiava na época.

Depois de algum tempo, algumas cantadas baratas e alguns flertes escancarados acabamos nos envolvendo romanticamente e sem dúvida nenhuma ele foi o mais próximo que cheguei de me apaixonar verdadeiramente por alguém enquanto ainda não conseguia esquecer Rodrigo ou até conhecer Antônio.

Mas esse encanto acabou exatamente no momento que eu descobri que ele tinha uma família, sim, ele era casado. Casado e ainda tinha filhos, mais precisamente dois filhos lindos que mais pareciam uma cópia perfeita dele.

Essa paixão extraconjungal me rendeu uma demissão por justa causa no hospital, uma consciência pesada por um longo tempo, uma família arruinada, algumas intermináveis discussões, umas 10 sessões de terapia e um trauma gigantesco e eterno.

Então tá explicado o porque da palavra "casamento" me causar arrepios da nuca até os pés.

E então, se antes eu já me fechava para totalmente para relacionamentos, depois de Heitor virei praticamente uma prisão sentimental, até conhecer ele, Antônio.

Mas eu não vou passar por isso de novo.

Não vou ver outra família ser arruinada diante dos meus olhos, ainda mais sabendo que a família arruinada dessa vez seria a minha própria.

Passei o resto da tarde ali deitada com Lari falando sobre a vida e falando sobre o meu assunto preferido e o único capaz de me tirar um sorriso espontâneo: minha Luna!

SandCastles - DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora