Silêncio! 🔇

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Antônio.

(...)

- Não, acho que você não me entendeu, eu quero ir embora pra MINHA casa, eu quero ir pro Brasil! — ela disse enquanto me olhava com os olhos mais irritados que já vi.

Os olhos de Amanda eram como um termômetro pra mim, ora verdes, ora meio amarelados e ora cor de avelã, mas hoje eles estavam praticamente vermelhos de tão furiosos e eu não poderia julgá-los por isso.

Por mais que eu entendesse em partes a revolta da minha mulher comigo em relação a tudo o que foi dito nas últimas horas, estar longe de Luna nesse momento não era uma hipótese a ser se quer cogitada, isso eu deixaria isso acontecer de maneira nenhuma.

Mais do que eu querer estar presente nesses momentos, eu precisava estar. Ver o desenvolvimento dela no ventre de Amanda era tão necessário na minha vida quanto respirar ou piscar os olhos, é imprescindível pra mim.

- Amanda, por favor... — eu implorei mais uma vez e imploraria quantas vezes fosse necessário — aqui a gente tem uma estrutura melhor, sua médica está aqui, as coisas da Luna estão aqui, tá tudo aqui...

- Não Antônio, dessa vez não. Eu vou pro Brasil e não há o que você fazer ou falar que vá mudar isso, está decido. — ela parecia estar totalmente certa disso, sua voz era imponente.

- Então eu vou também — pensei e falei automaticamente

- Você faz o que você quiser da sua vida, você é adulto e vacinado, eu sei que eu vou com ou sem você...

Eu sabia que não poderia ir tão rápido pro Brasil devido a todos os exames pós luta que eu tenho que fazer pra verificar qualquer tipo de lesão corporal e cerebral eram alguns dias obrigatórios de exames exigidos pela PFL, além disso, tinha o dooping também que precisaria ser feito durante 5 dias seguidos, então demoraria alguns dias antes que pudéssemos pegar o voo pro Brasil.

Amanda sentou-se na cama enquanto parecia estar tentando digerir ou engolir toda aquela situação.

- Amanda, eu só... — tentei mais uma vez.

- Antônio, agora quem pede por favor sou eu, eu estou totalmente exausta e esgotada. Não quero conversar, não quero ouvir mais nada, nem explicações, nem lamentações, nem absolutamente nada. Tudo o que precisava ser dito foi dito por nós dois mesmo que tardiamente, então por favor, respeita esse meu momento e me deixa quietinha no meu canto. — fui interrompido por ela.

Eu odeio vê-la assim, odeio mais ainda saber que ela estava assim por minha causa, a alegria de ter vencido a luta não existia mais, porque a sensação era de perda inerente.

E talvez eu tivesse perdido mesmo, não a luta e sim perdido a confiança da mulher que eu amo.

Já passavam das 7 da manhã quando a discussão diminuiu e Amanda deitou-se ao meu lado, virando-se de costas pra mim indo para a ponta da gigantesca cama de hotel, o que não era o habitual, já que ela ama ser a concha menor dormindo o mais agarrada possível.

A distância que era de centímetros, pareceu quilômetros. E não estou falando apenas da distância física, mas principalmente da distância emocional que existia ali, era como se um muro tivesse sido criado e uma guerra fria tivesse se iniciado entre nós dois.

Mesmo não tendo acesso a ver o rosto dela tenho certeza que assim como eu, ela demorou pra pegar no sono.

Acordei no dia seguinte e ela já não estava deitada, automaticamente dei um salto da cama procurando-a pelo quarto e apesar dela não estar ali, as malas dela estavam, o que significa que ela não fez nenhuma loucura.

SandCastles - DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora