Amanda.
Antônio ter me escondido que iria embora em alguns meses me magoou de uma forma que não consigo nem explicar.
Ah, mas também tem que ser muito boba pra acreditar que tudo ia dar certo dessa vez né Amanda? É, eu sou boba.
Estou dando graças a Deus pelo dia corrido aqui no hospital, porque assim ocupo minha cabeça e acabo não tendo muito tempo pra pensar em tudo o que eu ouvi hoje.
Mas era só aparecer um intervalinho entre um paciente e outro que a minha cabeça retornava ao pensamento que rondava a minha cabeça durante toda a tarde: Ele vai embora e não vai voltar! Ele vai embora... Embora! Antônio vai embora...
Isso me assustava, assustava muito! Eu não tinha noção do quão realmente estava apegada nele até sofrer por antecipação por uma partida que só vai ocorrer daqui a alguns meses.
É, pelo jeito eu realmente estava gostando dele, até mais do que o esperado e talvez por isso esteja tão magoada com a omissão de informações, eu tinha o direto de saber, não tinha?
Entre um paciente e outro, um pensamento e outro, dia acabou passando voando e quando percebi já era o fim do meu expediente no hospital. Fui dirigindo pra casa quase que no piloto automático, quando tomei um banho e me deitei, tentando desligar o corpo e principalmente a cabeça desse e dormir, mas minha cabeça começou a martelar tudo de novo sem parar e eu achei que talvez o ideal naquele momento fosse espairecer antes que eu enlouquecesse.
Troquei de roupa e segui rumo à academia para descontar minha frustração na musculação, como amanhã seria sexta e eu não trabalharia, poderia tranquilamente fazer mais um treino hoje.
Chegando no local, eu coloquei meu fone de ouvido ainda na catraca de entrada e entrei sem olhar para os lados e sem conversar com absolutamente ninguém, eu só queria treinar até que meu cansaço físico seja tão grande quanto o meu cansaço mental e assim eu consiga dormir tranquilamente assim que pisasse os pés em casa.
Assim que subi os degraus, pude sentir dois olhares atentos direcionados a mim, um de Rodrigo e o outro de Antônio. Sabia que corria o risco de encontrar Antônio aqui em seu 2º treino, mas encontrar Rodrigo foi uma surpresa.
Os dois me olharam com olhares opostos, enquanto o loiro me olhava com felicidade, o moreno me olhava com os olhos mais tristes possíveis.
Acenei aos dois e comecei o meu treino totalmente focada.
Quando resolvi fazer minha série de agachamentos percebi que a barra estava com 80kg de cada lado e não é muito difícil perceber que eu não tenho corpo, estatura e muito menos força pra pegar 160kg, então fui sozinha tentar tirar aqueles pesos de lá pra colocar um peso menor, o que obviamente não deu certo, não consegui mover mais do que 2cm daqueles pesos.
- Deixa que eu te ajudo — ouvi a voz dos dois ao mesmo tempo, o que me assustou, mas me deixou com um pouquinho de vontade de rir ao mesmo tempo porque eles pareceram um coral de tão sincronizados.
- Obrigada meninos! — Antônio tirou os pesos do lado esquerdo e Rodrigo do lado direito e assim pude colocar o peso correto pra conseguir fazer minha série sem maiores problemas.
Assim que comecei meu tempo na bicicleta ergométrica, pude observar Antônio correr na esteira, era impressionante ver sua dedicação pra estar em sua melhor forma novamente.
Ainda o observando, me peguei dando um sorriso de canto de boca de forma quase que automática ao me lembrar dos olhos dele brilhando mais do que estrelas cadentes ao me mostrar o mini museu em sua casa, me peguei lembrando também da emoção dele em me contar que sonha em voltar a lutar e que não tinha nada que ele desejasse mais do que ser campeão mundial novamente.
No meio dessas lembranças me veio a clareza de que talvez eu estivesse sendo MUITO egoísta em reagir daquela maneira ao que ele tinha me contado.
Como pude ser tão indelicada em fazer tudo isso se tornar algo sobre mim e não sobre ele voltar a realizar seu maior sonho?
Como pude ser tão insensível ao ponto de não comemorar com ele o fato que ele em alguns meses ele vai voltar a lutar?
Cara, Amanda, qual o seu problema?
Quando sai do transe — que eu procuro acreditar ser um surto de lucidez — procurei Antônio em volta e percebi que ele não estava mais ali.
- Droga! — desci da bicicleta ergométrica rapidamente e sai em busca dele — tomara que ele ainda não tenha ido embora, pensei.
Desci as escadas rapidamente, quando ouço a voz de Rodrigo.
- Princesa, tudo bem? Te percebi meio dispersa hoje. Quer sair e fazer alguma coisa? — ele me perguntou de forma carinhosa.
- Rod, perdão! Hoje não dá, preciso ir. — sai rapidamente mas ainda sim olhando para os lados e pedindo a Deus para que ele ainda estivesse por ali.
Olhei em todos os cantos da academia e ele não estava mais em lugar nenhum!
BURRA!
Mil vezes burra!Desisti de procurá-lo e fui para o estacionamento já me dando como derrotada e pronta pra ir embora, quando o vi pronto para dar partida dentro de seu carro e provavelmente ir pra casa.
Dei passos rápidos a fim de alcançá-lo antes do carro começar a andar e em um surto de coragem, abri a porta do passageiro rapidamente e me sentei no banco quase que dando um pulo pra dentro do carro.
Amandinha? Tá tudo bem? — ele me perguntou parecendo muito surpreso ao me ver ali.
- Oi Antônio, a gente precisa conversar! — falei olhando profundamente em seus lindos olhos de jabuticaba.
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SandCastles - DocShoe
RomanceAntônio é um renomado lutador que acaba de se curar de um câncer e está tentando readaptar a vida sem restrições. Amanda é uma estudante de medicina sonhadora, doce romântica e completamente apaixonada pelo seu melhor amigo de infância: Rodrigo. Ser...