SandCastles - DocShoe

Hospital 🏥

Antônio.

Quando o Fred finalmente falou o que tinha acontecido a sensação era que a minha alma tinha saído do meu corpo.

Fui pego por um desespero tão grande, mas tão grande que se igualou ao desespero que tive ao saber que estava com câncer.

Amanda, tinha sofrido um acidente.
A Amanda tinha sofrido um acidente.
Amanda
A minha Amanda.

Meu corpo tremia, minhas pernas bambeavam e minha garganta secou.

Eu por um momento achei que tivesse esquecido a língua portuguesa, talvez eu tivesse esquecido como me comunicar, dizem que o choque faz isso com as pessoas.

- Ond... onde ela está Fred? — estava tremendo tanto que minha voz acompanhava a tremedeira do corpo.

- No hospital cara, acabaram de ligar. Não sabemos o que aconteceu, mas estamos indo pra la.

- Freddddddd — gritei pra ele falar mais rápido já que fui tomado por uma adrenalina intensa.

- Papato, eu ainda não sei. Te dou notícias assim que eu tiver.

- Pra onde vocês tão indo? Qual hospital? — falei enquanto colocava um jeans.

- Quer que eu passe... - o cortei imediatamente.

- Eu só quero o nome da porra do hospital Fred — gritei.

- Irmão, calma! Respira. Você precisa respirar, a emergência ligou dizendo que estavam a caminho do Hospital Santo Antônio. Você acha que está bem pra dirigir? Você quer que eu vá te buscar?

Desliguei o telefone imediatamente após sua pergunta.

Eu não sei se eu estava bem pra dirigir, mas eu precisava chegar lá logo, apertei o botão do elevador interruptas vezes com a esperança de que assim ele chegasse mais rápido, cheguei ao estacionamento do prédio, respirei fundo liguei e o carro e fui.

No caminho fui conversando com Deus, conversando não, na verdade, eu estava implorando e suplicando para que ela estivesse bem.

Ela tinha que estar bem, não sei o que seria de mim se ela não estivesse bem. Tudo o que eu mais quero é protegê-la de qualquer coisa. Eu falhei nessa missão.

Por mais que meu consciente soubesse que a culpa não era minha, meu subconsciente me culpava a todo instante em forma de um infinito looping:

Se você não tivesse deixado ela ir
Se você tivesse a levado em casa
Se você não tivesse uma crise de ciúme
Se você não tivesse aperto a porta pra ela ir embora
Você falhou, falhou em sua missão

Cheguei ao hospital e fui correndo até o pronto-socorro, lá encontrei Larissa chorando e tremendo muito enquanto Fred parecia assinar alguns documentos, provavelmente documentos da emergência.

- Papato, como você chegou aqui tão ráp... — o cortei automaticamente

- Cadê ela? Ela tá bem? O que aconteceu? Cadê ela, Fred? — as palavras saiam da minha boca de forma tão rápida e inconstante que mal conseguia formular uma frase.

- Papato, fica calmo! Não sabemos informações ainda, só sabemos que o acidente foi sério, mas que ela já está aqui. Estamos esperando os médicos sairem pra dar mais informações. — ele falava pausadamente tentando passar calma tanto pra mim quanto pra sua namorada, que essa altura estava agachada no chão chorando, balançando a cabeça em forma de negação.

Os minutos seguintes pareciam uma eternidade, ao mesmo tempo em que eu desejava que o médico aparecesse com notícias, estava com o mais genuíno medo do tipo de notícia que viria dele.

Rodrigo chegou alguns minutos depois, com os olhos perdidos e marejados. Nada falava, somente se sentou ao lado de Larissa, a rodeou com os braços e falava palavras as quais eu não conseguia compreender ainda consumido pelo medo e pela angústia.

Ele levou o olhar em minha direção e naqueles olhos verdes vi um olhar julgador que estava me fuzilando, provavelmente me culpando, coisa que nem precisasse fazer, já que eu mesmo já estava me torturando o bastante, mas logo depois esse olhar fervoroso foi se transformando em um olhar de cumplicidade, Rodrigo estava com tanto medo quanto eu.

Aqueles intermináveis minutos tiveram fim quando vimos a porta do corredor abriu e de lá saiu um médico alto, de pele negra e com um jaleco um pouco sujo de algo que parecia ser sangue.

- Parentes de — olhou para a ficha — Amanda Meirelles, por favor?

Deus por favor meu Deus, por favor meu Deus, por favor... — era o que eu pensava no momento.

Nos levantamos os 4 ao mesmo tempo indo de encontro a ele.

- Como ela está? — Larissa perguntou em meio a soluços.

O olhar que ele direcionou a ela, falou bem mais do que mil palavras: Amanda não estava bem.