Antônio.
- A senhorita Amanda teve um traumatismo cranioencefálico primário, porém de gravidade moderada. Também teve uma lesão significativa no ombro e cotovelo devido ao capotamento do carro.
- CAPOTAMENTO? Como assim capotamento? — falei com as mãos na cabeça enquanto Larissa gritava desesperada em um choro profundo e doloroso.
- O resgate e a polícia vão passar mais informações aos senhores daqui a pouco, seguindo com as informações, a lesão no ombro vai precisar ser cirúrgica, porém a cirurgia não pode ser iniciada ainda por dois motivos:
1º Uma das consequências do traumatismo da paciente foi o aumento da pressão intracraniana, então inicialmente vamos ter que manter ela na UTI até que essa pressão se normalize.
2º Esse hospital infelizmente não possui a infraestrutura necessária para esse time de cirurgia aqui, então vai ser necessário transferi-la a um hospital com a estrutura adequada.
O quadro da paciente hoje é estável, porém, até que a pressão intracraniana se estabilize, é cuidado dobrado em relação ao quadro dela. Como trata-se de uma paciente jovem e sem historio de doenças anteriores, o prognóstico é que tudo se normalize dentro de no máximo 24h, por isso ela continuará na UTI durante esse período, alguma dúvida? — ele por fim terminou de explicar o quadro clínico da loira.As palavras dele saíram como socos diretos na boca do meu estômago, socos mais fortes do que qualquer outro que já tomei na minha vida de lutador.
Fred era o único que parecia estar raciocinando direito naquele momento. Então assumiu a frente das conversas com o médico enquanto eu estava prestes a ter uma crise de pânico, Larissa chorava copiosamente e Rodrigo seguia parado em estado de choque.
- Doutor, então não seria melhor já fazer a transferência dela pra um hospital qualificado pra fazer a cirurgia o quanto antes? — Fred argumentou.
- Seria o ideal, porém como a pressão intracraniana dela está instável, ela precisa ficar aqui até que se estabilize. Recomendo e acredito que até amanhã ela já esteja em um hospital com mais estrutura pra cuidar do caso dela da maneira mais abrangente possível.
- E isso é perigoso, Dr? — consegui abrir minha boca pela primeira vez.
- Não vou negar a vocês que é quando se há uma variável na pressão intracraniana é sempre preocupante, as próximas horas serão determinantes, porém trata-se por sorte de uma alteração muito pequena, então o prognóstico é que se estabeleça até amanhã.
- E ela pode ter alguma sequela? — Larissa disse ainda chorando muito.
- Quando se tem um traumatismo sempre há probabilidade, nos primeiros exames de imagem que realizamos não deu nenhuma alteração significativa, como eu falei as próximas horas serão determinantes pro quadro da senhorita, só saberemos de fato depois que ela acordar.
- E podemos vê-la? — falei ao mesmo tempo de Rodrigo.
- Não, como ela está na UTI, as visitas são extremamente controladas e restritas, o próximo
horário de visita será apenas amanhã às 9h. — passei minhas mãos nos cabelos como forma de desespero — Com licença, preciso voltar para fazer mais alguns exames complementares na senhorita Amanda.- Muito obrigada, Doutor. Qualquer novidade por favor, nos avise. — disse Fred, apertando as mãos do médico.
- Serão avisados. Até mais. — disse ele passando pela porta e adentrando ao corredor branco.
As palavras dele de que as próximas horas de Amanda seriam determinantes rondavam a minha cabeça igual a um peão.
Quando sai da minha redoma de pensamentos conturbados vi Fred no celular a todo momento andando pra lá e pra cá enquanto conversava na recepção do hospital, fui até ele querendo saber o que tava acontecendo, quando ouvi que a conversa no telefone era sobre a transferência de Amanda para outro hospital mais qualificado.
- Droga, isso é muito dinheiro! — ele resmungava.
Dinheiro não seria o problema que deixaria Amanda sem o melhor tratamento possível.
- Eu pago, qualquer coisa, qualquer valor, só preciso que ela fique bem, transfere ela pro melhor hospital que tiver Fredinho, por favor. — falei antes que ele pudesse desligar o telefone.
Ele assentiu, respirou aliviado, passou a mão na cabeça e continuou os telefonemas.
As próximas horas passaram tão devagar que pareciam dias, meses, anos...
Aconselhei Fred a levar Larissa pra casa, mas ela se recusou, dizendo que só sairia daquele hospital depois de ver Amanda. Rodrigo foi embora assim que amanheceu pra conseguir trabalhar, mas voltaria pra visita da tarde.
Foram horas e mais horas de angústia, insônia, lágrimas e muita oração.
Já passavam das 9:20h quando o médico responsável por Amanda saiu novamente daquela porta em nossa frente.
- Doutor, alguma novidade? — Larissa iniciou.
- Sim! Amanda Meirelles segue na UTI sendo monitorada o tempo inteiro, mas a boa notícia é que a pressão intracraniana foi estabilizada e ela já pode ser transferida.
- Graças a Deus! — foi como um coral onde nós 3 respiramos com um certo alívio.
- Podemos ver ela? — Fred continuou.
- Claro, vi que vocês já estão com os crachás de intensificação, então vamos, lembrando que as visitas de UTI duram apenas 30 minutos.
Entrar naquele quarto e ver Amanda desacordada foi como se tivessem arrancado meu coração do peito, meu corpo esqueceu como se faziam as funções básicas como respirar e piscar.
Ela estava com o rosto bastante machucado, com os olhos roxos, os lábios um pouco inchados e com um pequeno corte no lábio superior. A cabeça estava com algumas bandagens, assim como um dos braços que estava totalmente imobilizado devido às lesões.
Ela ainda assim, parecia um anjo. O meu anjo!
Assim que Larissa botou os olhos nela deitada naquele estado se debruçou em cima da amiga e chorou copiosamente:
- A culpa foi minha! Ela está aí por minha culpa, me perdoa amiga, por favor! Me perdoa, Amandex.
Naquele percebi que todo aquele choro de Larissa era além de preocupação com a melhor amiga, era também uma culpa enorme que invadia a sua alma e o seu coração.
Sua reação surpreendeu tanto a mim, quanto a Fred. Eu sei que ela estava desesperada em ver Amanda na UTI, mas assumir a culpa?
O que foi que aconteceu naquela noite?
Por que Larissa seria culpada?
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SandCastles - DocShoe
RomanceAntônio é um renomado lutador que acaba de se curar de um câncer e está tentando readaptar a vida sem restrições. Amanda é uma estudante de medicina sonhadora, doce romântica e completamente apaixonada pelo seu melhor amigo de infância: Rodrigo. Ser...