A escolha

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- Vai ficar tudo bem - sussurro para Kath, que foi colocada na maca - Não solta minha mão.

Ela assente, mal conseguindo falar de tanta dor. Sua mão agarra a minha e a acarricio. Somos levados para a sala de parto, onde visto uma touca e um jaleco branco.

O bebê ainda não está totalmente pronto, de acordo com o médico. Kath é estimulada com massagens, mas nada acontece. A encorajo com palavras motivacionais, dizendo como seremos felizes de agora em diante. Com mais um integrante.

Para aliviar a dor e ajudar no trabalho de parto, a enfermeira aconselha Kath andar. Seguro em sua mão, a conduzindo pela sala. Sua pele está branca como leite.

- Respira amor - digo, gentilmente - Respira devagar.

Ela tenta, mas a dor é tão intensa que ela não para de gemer, a deixando sem ar. A enfermeira pede licença à mim, tomando meu lugar. Me sinto inútil, porém, é melhor deixar uma especialista cuidar disso.

Depois de alguns minutos, a enfermeira sai correndo, chamando a equipe. Eles ajudam Kath a subir na cama, ligando os aparelhos. A cacheada olha para mim por um instante e sou acometido por uma sensação horrível. O que... que é isso?

A enfermeira diz a Kath para fazer força. Minha esposa segura minha mão ao longo do processo. Tento não olhar para baixo. Há muito sangue. Muito sangue.

Kath inspira, expira e força. Inspira, expira e força. Noto um desconforto da equipe médica. O doutor cochicha algo para a enfermeira, que vem em minha direção logo após.

- Você terá que sair - ela diz, hesitante.

- O que? - franzo o cenho - Por que?

- Por favor, apenas saia - ela insiste, apontando para a saída.

- Não... eu não vou sair - digo, olhando para Kath - Não vou abandonar minha mulher.

- Sinto muito, mas o senhor não pode ficar mais aqui - a enfermeira diz.

- Eu já disse, não vou dei... - paro de falar, assim que a cacheada pega em minha mão.

Há algo entre nós, que nunca vi acontecerer com outras pessoas. Kath e eu nos entendemos apenas com o olhar, sem dizer uma só palavra. Tomei conhecimento de sua resposta ao meu pedido de casamento, sem ela falar. Compreendi quando estava grávida, só com sua expressão de surpresa...

Então, entendo quando ela me pede para sair, com seus lindos olhos castanhos. Tento negar, mas ela insiste com o olhar. Acabo cedendo, saindo da sala sem desviar o contanto visual com minha esposa.

E em meio a dor, Kath sorri.

Penso em voltar, mas a porta é fechada em minha cara. Ando de um lado para o outro, totalmente preocupado e inquieto. Vou até a sala de espera, onde todos estão reunidos. Eles se levantam assim que chego.

- O que... o que você está fazendo aqui, filho? - mamãe pergunta, franzindo o cenho - Não vá me dizer que o senhor abandonou a pobre Kathle...

- Não, não abandonei - a encaro, ainda em choque - Me pediram para sair da sala.

Jules, a senhora Roberts e minha mãe, se entreolham. A expressão de seus rostos me faz arrepiar e sinto o chão tremer.

- O que isso significa? - questiono-as, passando as mãos em meus cabelos platinados.

- Ah... - Jules tenta dizer, mas perde o equilíbrio e se senta.

- O que quer dizer?! - grito, estando a beira do desespero.

- Ela não está bem, Bill - Tom diz, notando o que está acontecendo - Por isso te tiraram de lá.

Solto um riso, negando com a cabeça. De repente, não escuto nada além de minha respiração e das batidas agitadas de meu coração.

- Não, não. Ela está bem, está viva - assinto, mais para mim mesmo do que para os outros - Eu vi, ela até sorriu...

- Vocês são a família da Kathleen Kaulitz, não? - uma enfermeira me interrompe - Posso falar com o marido dela?

- Estou aqui - digo, o mais rápido possível.

- Me acompanhe - fala ela, indo até o outro corredor.

Olho para trás, com todos angustiados. Sigo em frente, por eles, por ela e por ele. A mulher para onde não há ninguém, apenas um silêncio cortante.

- Senhor... - ela o quebra, tentando achar as palavras certas - Houve... houve uma certa dificuldade no parto e... sua mulher está tento uma hemorragia.

- Uma... hemorragia? - repito, me sentindo tonto de repente - E... e o meu filho?

- Ele está dentro dela ainda, esse é o problema - a mulher continua - É normal perder sangue, mas não tanto quanto ela está perdendo. Estamos tentando conter o sangramento, até achar o doador do tipo sanguíneo dela. Sei que optaram por parto normal, mas se quiser seu filho, teremos que fazer cesária.

- É claro que quero meu filho - digo, como se aquilo tivesse sido uma ofensa.

- Mas se você escolhê-lo, perderá a Kathleen.

- O-o que? Como assim... perderei Kath?

- Ou fazemos o processo para estancar a hemorragia e salvar a vida da sua esposa, mas seu filho morre. Ou fazemos a cesária de emergência e seu filho sobrevive, porém, com chances de perder sua esposa - ela reponde - Então, você escolhe ele ou ela? Seu filho ou sua esposa?

Cambaleio para trás, mal acreditando nas palavras que saem da boca dessa mulher. Escolher uma das pessoas que mais amo nesse mundo? Isso é impossível... Isso é uma tortura, é loucura.

Todo o ar de meus pulmões vão embora, restando apenas o aperto de meu coração.

- Se o senhor não se decidir logo, teremos que escolher por você. Normalmente é assim que acontece, mas resolvemos te dar a escolha - a enfermeira continua.

Sinto como se o mundo tivesse desabando, sentindo-me nas profundezas do desespero. Ou eu escolho a vida e a morte, ou a morte e a vida. Tento respirar normalmente se não não conseguirei pensar com clareza.

Então, imagino qual seria a decisão de Kathleen. Sei que se ela sobrevivesse, me odiaria por não ter salvo a vida do nosso filho. Mas se eu escolher nosso filho, perderei o amor da minha vida.

Essa é a pior pergunta que já me fizeram... Uma pergunta que preciso reponder. Uma pergunta que já tenho a resposta.

A enfermeira sai, assim que repondo, ficando apenas eu e minha consciência pesada.

Deixe-me Te Amar - Bill Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora