Habilidades culinárias

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Acordo pela milésima vez com meu celular tocando. Mamãe já me ligou centenas de vezes e apesar de estar no silencioso, acordo a cada ligação. O que ela quer? Eu jurei que nunca mais entraria em contato com meus pais.

Todos esses anos morando com eles fez eu me sentir um brinquedo. Sei que são meus pais, mas se querem tanto falar comigo não deviam ter me tratado daquela forma. 

São 07:00 da manhã quando desperto novamente. Me levanto, pegando meu celular e indo até o banheiro para não incomodar Bill com o barulho. Talvez se eu atender, essa mulher vai parar de me atormentar.

- Diga - atendo, indo direito ao assunto.

- Filha? Oh... finalmente - mamãe choraminga - Eu estava com tanta saudade de ouvir sua voz. Estou muito orgulhosa de você, por ter conseguido realizar seu sonho...

- Hm - resmungo, indiferente - Fala o que você quer. Agora que sou famosa, tenho um cronograma para seguir.

- Ah sim, sim - ela suspira - Bom... seu pai está doente, muito doente. Ele quer te ver.

Paralizo. Meu pai está... doente? Meu coração se aperta por um instante, mas tento ignorar a sensação. Estava tudo bom demais para ser verdade.

- O-o que ele tem? - pergunto, tentando manter a postura.

- O médico não sabe ao certo. Talvez seja pancreatite por consequência do excesso de álcool.

- Excesso de álcool? - repito, confusa - Papai bebe desde quando?

- Não faz muito tempo que começou - sua voz falha - Ele ficou muito triste depois que você se mudou para Los Angeles. Quando voltamos da viagem, onde te visitamos, ele se entregou para a bebida porque sabia que a menininha dele nunca mais voltaria.

- Você... você só pode estar brincando - forço uma risada - Vocês nunca me ligaram, nunca. Agora que papai está morrendo, ele se arrepende.

- Ele não está morrendo - mamãe reponde, séria - Não te liganos antes porque você está muito ocupada agora, não queríamos te incomodar.

- Conta outra - cerro os punhos - quando eu estava no fundo do poço, ambos estavam nem aí para mim. Agora que sou reconhecida como cantora, que por sinal vocês achavam impossível, vem atrás de mim como se nada tivesse acontecido.

- Filha... nós erramos, eu sei - mamãe diz, gentilmente - Deixe-nos reparar o erro.

- Aposto que se eu não fosse famosa, você nem me ligaria - finalizo, desligando na cara dela.

Massageio as têmporas. Só podem está de sacanagem comigo. Respiro fundo, tentando me acalmar. Mamãe liga novamente, mas recuso a ligação.

Saio do banheiro ainda perplexa, vendo alguém sentado na cama me observando.

- Você escutou tudo, não foi? - questiono Bill, que assente.

- Sim, sem querer querendo - dá de ombros ele, fazendo sinal para que eu sente ao seu lado.

Deixe-me Te Amar - Bill Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora