151

1K 108 24
                                    

Enzo Martins

    Mandei mensagem pro Felipe dizendo que ia chegar atrasado e ele falou que ia pra sala.

    Corri pra sala, porque não tem como ficar vacilando já que é o meu último ano

    Sentei no meu lugar de sempre ao lado do Felipe.

    Professor tava passando uns slides e isso me deixou mais tranquilo.

— Tu não sabe da maior. - Felipe falou baixo arrastando a cadeira dele pra perto de mim.

— Qual foi? - Perguntei arqueando a sobrancelha.

— As meninas ouviram a Jade falando com alguém por ligação. - Felipe respondeu abrindo o caderno pra disfarçar que tava conversando.

— E o que que tem? - Perguntei sem entender — Você não tá fazendo sentido.

— Elas ouviram a Jade falar do teu término com a Cecília. - Ele revelou e eu franzi a testa — Porra, foi maluquice. Parece que ela tava dizendo que algum plano ia dar certo.

— Que plano? - Perguntei negando com a cabeça achando um absurdo — É muito notório que a cada dia essa mina tá mais louca.

— Isso aí é óbvio. - Felipe concordou — Mas olha, olhos abertos com essa doente.

— Não quero chegar nem perto. - Falei voltando minha atenção pro professor.

    As aulas foram puxadas, então fiquei felizão quando o professor liberou pro intervalo.

    Felipe foi indo pra lanchonete enquanto eu fui até o meu carro buscar meu celular que acabei esquecendo na pressa.

    Quando eu tava indo até a lanchonete, vi a Cecília conversando com o Fábio.

    Dava pra ver nitidamente que o maluco tava babando nela.

    Meu sangue ferveu, óbvio. Mas apenas fiz o que ela me pediu ontem no meu quarto... deixei ela seguir com a vida dela.

    Desviei deles com a cara toda fechada e a Cecília me viu.

    Senti ela me alcançar, me puxando pelo braço.

— Não é nada disso que você tá pensando. - Se explicou e eu respirei fundo.

— Você não me deve satisfação, Cecília. - Fui sincero — Não encana com isso.

— Não é questão de te dar satisfação. - Ela argumentou — Só acho que não preciso deixar você achar algo que não é real.

— Valeu. - Agradeci querendo cortar o assunto e ela não me deixou passar — Que foi?

— Você tá estranho. - Falou me analisando.

— To normal. - Respondi — To só fazendo o que você me pediu ontem.

— O quê? - Perguntou confusa.

— Deixando você seguir com a sua vida. - Respondi e ela concordou suspirando.

    Passei por ela e fui direto na lanchonete comprar um café, porque hoje o dia vai ser pesado.

    Sentei com o Felipe e com a Amanda, que pareciam estar discutindo sobre algo.

— Porra, tá foda essas últimas semanas. - Falei olhando pros dois — Tá todo mundo brigando.

— É, tá foda mesmo. - Felipe concordou sério, tomando o suco dele.

    A Cecília sentou do meu lado, acredito que por força do hábito.

    É difícil separar algumas coisas quando você tem costume de fazer aquilo por três anos.

    A Amanda e a Cecília começaram a conversar sobre um evento que a faculdade tá fazendo.

— Os alunos que tão organizando? - Perguntei interessado.

— Sim, a Cecília tá na comissão. - Amanda respondeu.

— O Felipe também tá na comissão. - A Cecília falou e a Amanda olhou pro Felipe.

— Você nem me falou. - Ela questionou ele.

— Só se eu te enviasse uma carta. - Ele respondeu irônico — Você não respondeu minhas mensagens ontem.

    Ficou um climão na mesa e eu olhei as horas no meu relógio.

— Tchau, galera. - Falei levantando, pegando meu copo de café — Preciso tirar uma dúvida ainda com o professor.

— Vou contigo. - Felipe falou levantando e me acompanhando, sem se despedir da Amanda.

    Depois de estarmos longe das meninas, puxei um assunto.

— Essa briga de vocês dois tá indo muito longe, não acha? - Perguntei.

— Sério mesmo que tu quer falar isso pra mim? - Ele perguntou rindo nervoso — Você terminou com a Cecília por causa de um erro dela, cara.

— Um erro não porra, foram vários. - Me defendi puto — Tu sabe mais do que ninguém que ela tinha mania de omitir as coisas desde o início do namoro.

— Tá, eu sei. Tu tava na razão e pá, mas acho que deveria repensar a sua decisão. - Ele mudou o foco do assunto e eu ignorei.

    O restante das aulas passou mais rápido e eu fui direto pra clínica do meu pai.

   Decidi almoçar no restaurante que tem no térreo da clínica, que por sinal tava sinistro de bom.

   Felipe faz estágio em outra clínica do meu pai, ainda bem. Não ia conseguir conviver com ele o dia todo nem fudendo.

    Auxiliei meu pai com todos os pacientes de hoje e ele me liberou.

— Filho, esqueceu de colocar a aliança. - Falou olhando pra minha mão.

— Não esqueci não, é porque a gente terminou. - Contei pro meu pai respirando fundo.

— Não acredito. - Falou chocado — Filho, tem certeza disso? A Cecília é uma garota tão maravilhosa, vejo que ela desperta o melhor em você.

Nesses últimos anos meu pai mudou muito, nem parece o pai ausente de antes.

Ele criou um carinho muito grande pela Cecília e eu fico feliz com isso.

— É, ela é maravilhosa mesmo. - Concordei sorrindo de canto — Mas assim como tudo tem um início, chegou o fim.

— Se você tá ciente disso... - Concordou sem concordar.

    Assenti e saí da sala, mas voltei assim que lembrei de falar algo pra ele.

— Não sei se te contei, mas esbarrei com a minha mãe. - Contei com o maxilar travado.

    Ele parou tudo que tava fazendo e tirou o óculos, me olhando sério.

— Onde? - Perguntou levantando — Me conta direito.

— Fui no estágio da Cecília um dia desses e descobri que minha mãe supervisiona os estagiários. - Respondi e ele ficou pensando por alguns segundos.

— Me passa o endereço dessa clínica? - Pediu e eu assenti — Tenho uns assuntos pendentes pra tratar com a sua mãe.

Aquela PessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora