Capítulo 72 - Nova vida

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POV Luiza Campos

Enquanto me troco fico em completo silêncio no camarim porque hoje é aquele tipo de dia que preferia nem ter me apresentado. Queria muito que algum conhecido meu tivesse assistido ao espetáculo para me trazer impressões sobre a minha performance hoje. Sou uma dançarina profissional e me dedico muito para fazer tudo perfeitamente, mas tenho certeza de que hoje não consegui render porque a minha concentração estava muito prejudicada pela ida da Valentina pra Itália. A gente nunca está preparada para esse tipo de situação. Eu conversei muito com a minha psicóloga na sessão que rolou ontem, porque acredito que será um processo bastante difícil me desconectar emocionalmente daquela mulher linda, que me fez tão feliz durante esse último mês e que sem esforço nenhum entrou arrobando as portas do meu coração. Quando conversamos, durantes os dias em que ela esteve aqui em São Paulo comigo, falei algumas vezes, e até sugeri que a partir do momento que ela entrasse naquele avião é como se nossa história entrasse no modo "PAUSE". Mas será que isso é mesmo possível? Apertar o pause? Manter alguém dentro do nosso coração? É difícil admitir ou até pensar que acabou o que mal começamos. Pela primeira vez na minha vida eu me entreguei pra alguém sem me preocupar em planejar nada, sem pensar no futuro. Foquei em curtir e viver meu presente. Foi assim lá na Itália quando a convidei para me acompanhar na viagem pra Verona e foi assim quando ela voltou e apareceu do nada linda de morrer montada na sua moto. Eu amei experimentar com ela essa nova versão da Luiza mais despojada. Foi incrível me abrir, desabafar e não sufocar qualquer sentimento que eu tenha sentido por ela. Até porque isso seria praticamente impossível. Essa nossa história, apesar de breve, valeu cada segundo. Eu fui extremamente feliz com ela e igualmente sincera quando disse que ela vai em deixar marcas pra sempre em mim. Não seria nem a primeira e nem a última história de um amor passageiro, será?

A minha cabeça não para de pensar nela e isso é completamente normal. Parece que a cada hora que passa enquanto ela está dentro daquele avião mais distante a gente vai ficando do que vivemos aqui nesse último mês e chuto dizer que foi um dos melhores meses da minha vida. Não é fácil conciliar amor e trabalho em perfeita concretização, mas é exatamente assim que eu me senti durante esse tempo. Fico tão focada em arrumar as minhas coisas pra ir embora que não presto atenção em absolutamente nada que as meninas estão falando no camarim. Acabo de me trocar e me despeço das minhas colegas que ainda estavam se trocando e saio. Hoje não estou a fim de fazer mais nada. Vou até a minha mochila finalmente pegar meu celular e fico triste de pensar que não poderei falar com ela agora mesmo e só de pensar no fuso horário e no jeito que a Valentina é desconectada de celular, e principalmente de redes sociais, me vem a certeza de que dificilmente conseguiremos manter essa conexão forte que tomou parte da nossa rotina mesmo eu estando aqui e ela no Rio de Janeiro. E ainda teve o plus dela vir trabalhar por duas vezes durante esse tempo só pra poder ficar mais pertinho de mim. E tem um outro fator a ponderar também, o fato de que eu não sou uma pessoa conectada as redes também e não tenho paciência e nem gosto de ficar expondo muito a minha vida pra ninguém. Pensando um lado positivo disso tudo, dentro minha atual condição de ficar a um oceano de distância dela, o fato de eu ser dispersa desse mundinho de internet parece ser interessante.

Whatsapp, mensagem de voz...

(V) – Oiiii liguei pra escutar sua voz antes do avião subir...esqueci que você desliga o celular logo que chega no camarim pra se concentrar. Senti vontade de falar um último tchau e agradecer cada minutinho que tive do seu lado. Eu sempre vou amar o que tivemos, sempre! E eu... jamais...jamais vou te esquecer. Beijos!

Para no meio do corredor e escuto mais umas duas vezes a mensagem dela e pode parecer exagero eu pensar agora como se ela não fosse mais voltar para o Brasil um dia, mas na minha cabeça faz total sentindo que seja assim agora, sem expectativas futuras. Sei que pensei exatamente dessa forma quando nos despedimos lá na Itália e acabei sofrendo um tanto com isso. Só que agora o contexto é diferente e talvez funcione melhor porque eu tenho noção do tempo mínimo e certo que ela vai ficar e pra mim parece uma eternidade. Claro que não falei isso pra ela e fui totalmente sincera também quando mencionei sobre a intenção de mantermos contato. Não tenho a mínima ideia de como isso vai funcionar, mas é óbvio que vou querer saber dela. E mesmo que a gente tenha se declarado apaixonadas e trocado alguns "eu te amo", eu sei que uma vida nova a espera na Itália. E ela pode muito bem encontrar uma vida lá que a faça feliz. Depois de tudo que ela passou antes de me conhecer, isso me parece até completamente natural. Posso parecer conformada demais, mas eu sempre fui muito intuitiva e pé no chão ao mesmo tempo, até mesmo quando a gente estava lá na Itália, sentia que meu lance com a Valentina seria passageiro. Vai ver que eu tive uma premonição, sei lá. Comentei isso com a minha psicóloga, mas ela me rebateu dizendo que esse lance de intuição foi uma desculpa que arrumei para me proteger dessa distância que vai nos impedir por agora de nos relacionarmos. O bom foi que essa minha intuição não me fez ficar na defensiva quando dei de cara com ela na frente daquele bar linda em cima da sua moto, talvez só um pouquinho...rs mas logo ela me quebrou inteira assim que me beijou. E daquele momento até o nosso último abraço no aeroporto aqui só passei por um turbilhão de sentimentos bons. Acho que nunca fez eu me sentir amada como ela na cama e fora dela.

Será amor? (VALU)Onde histórias criam vida. Descubra agora