64 Maitê

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Assim que descemos no pátio da maison Caron alguns guardas fizeram menção de vir até nós mas Angèle  Caron saiu do prédio fazendo um sinal e todos permaneceram em seus lugares.

A reação dos guardas foi um tanto estranho não pareciam estar assustado era como se já estivessem acostumado a ver esquisitices.

- Vamos ,  a poção já está quase pronta só falta apenas um fio do cabelo de Pierre Durand. - Angèle falou nos apressando.

Andamos rápido em direção ao prédio, pude perceber Pierre encolhendo as asas quando entramos tomando cuidado para não ter problema; o que é muito  difícil quando se tem o tamanho que ele tem .

Passando pelo corredor do térreo  , notei uma jovem me olhando fixamente , ela  parecia olhar para minha alma e isso me deixou constrangida.

A jovem era esguia, era de cor parda e tinha o cabelo crespo bem curto; usava um longo vestido preto e sua face não tinha emoções.

Apertei a mão de Pierre,mas aparentemente precisa muito mais força do que eu usei para  chamar atenção de uma Gárgula.

Quando  passamos na frente da jovem a mesma falou:

- Maya , deixe-os em paz , você sabe o que pode acontecer se ele tiver sua mortalidade de volta.

A jovem falava parecendo olhar através de mim .

- Desculpa não me chamo Maya , chamo-me Emma.

- Eu sei . - A jovem respondeu.

Pierre fez menção de perguntar algo mas Angèle falou:

- Maitê, já deveria está no porão, o feitiço já começou.

- Eu não posso, os espíritos não concordam com tudo isso.

- Se não for participar da cerimônia, vá para seu quarto.

A jovem assentiu com a cabeça e entrou no quarto.

Caminhamos por 10 minutos até Angèle abrir uma porta de madeira escura entalhada com os desenhos de uma meia lua e uma estrela. Descemos as escadas e antes que chegássemos no fim da mesma vimos cerca de 100 pessoas vestidas de branco e  algumas com um chapéu pontudo preto; também havia um grande pentagrama no meio daquela grande sala e um caldeirão bem no meio da estrela.

Angèle nos levou até  o caldeirão  com todos nos olhando e por alguns segundos um burburinho se fez presente.

- Peço o respeito e silêncio de todos. - Angèle falava enquanto uma pessoa me pegava pela mão e me levava até uma cadeira fora do pentagrama . - Hoje é um dia de festa para as bruxas de  Juvisy-sur-Orge e principalmente para as bruxas Caron. Esse é Pierre Durand que foi enfeitiçado por uma de nossas  ancestrais Sofie Caron , não Sofie Charlotte a grande . Sofie enfeitiçou Pierre Durand não só por  uma ordem do duque, ela eram ambiciosa e pediu em troca do feitiço o palacete que  hoje mora Alís de Leroy, o  Duque concordou; Sofie não contava que se apaixonaria pela pessoa que teria que enfeitiçar. Ao invés de fazer o feitiço ordenado pelo Duque, feitiço que manteria  preso vivo para sempre em uma estátua onde veria tudo o que acontecia porém não poderia se mexer falar ou qualquer coisa do tipo. Nossa  antepassada decidiu transformar Pierre Durand em uma gargula, que só viesse a vida nas luas cheias ela não contava que seria tão difícil  encontrar os ingredientes para fazer o contra feitiço. Sofie sabia que se não fizesse o feitiço Pierre Durand morreria pela mão do Duque de Leroy. O resto da história todo mundo já sabe, o Duque descobriu que Sofie não fez o quê ele havia ordenado, e a certeza se concretizou quando procuro a bruxa no palacete e a não encontrou, Sofie estava em Juvisy-sur-Orge lar  de origem das bruxas Caron. O Duque contou a história de outra maneira para o arcebispo da época que ordenou a queima da bruxa e a ida da Gárgula à Notre Dame. Depois disso as bruxas de Juvisy-sur-Orge sofreram represálias e espelharam-se pela França e algumas até saíram do país. Nossa escola , a maison Caron é tida como uma casa para loucos , mas hoje diminuiremos o nosso karma. Com a benevolência que iremos fazer para Pierre Durand e esperamos que todas essas coisas ruins que vêm acontecendo com a nossa família por séculos venha a diminuir.

Angèle pegou um fio do cabelo de Durand  e colocou dentro do caldeirão, o líquido cinza se tornou roxo a bruxa deixou que o liquido fervesse durante 13 minutos e um seguida pegou uma grande quantidade com uma concha enorme e falou para Pierre:

- Tem que beber toda a concha enquanto ainda está fervendo.  

Pierre tomou o líquido urrando entre um gole  e outro.

-Está funcionando. -Gritou Angèle. - Parte de sua humanidade e sensibilidade esta voltando, de outra forma não sentiria a poção fervente em sua garganta. 

Pierre e eu deixamos o porão com as pessoas festejando o sucesso da poção, mesmo sem provas reais de que a mesma teria dado certo.

- Porque festejam? Não há provas reais de que Pierre poderá ficar acordado quando o sol ou em outra  lua- Perguntei quando chegamos no pátio.

- Criança, a fé faz com quê por vezes  pílulas de farinha funcionem com remédio,   faz com que imposição  de mãos façam com que  pessoas doentes tenham melhoras, da mesma forma a falta de fé pode fazer com quê o mais poderoso remédio não surja efeito. A magia funciona a partir da fé. Palavras mágicas e ingredientes específicos não farão efeito se não conseguir visualizar do procedimento realizado e fé que isso possa se concretizar. O que faria se tivesse a certeza de que é a poção fez efeito e que Pierre poderia andar na luz do sol novamente, mesmo como Gárgula.

- Acho que iria para o alto da catedral assistir o sol nascer.

- Então faça isso Emma  querida, vá para o alto da catedral , haja como se já fosse verdade e assim será.  -  Sorri e abracei a velha bruxa em agradecimento, Pierre também agradeceu Angèle e alçamos  vôo.

...

Maitê chega silenciosamente enquanto Angèle ainda olhava a gargula no céu e fala:

- A senhora sabe que isso não terminará bem.

- Pierre já sofreu demais ,se eu puder dar pelo menos 1 minuto de felicidade para ele já me sinto bem melhor. Se não fosse dá vontade dele , eu não iria fazer o feitiço.

- Isso não é apenas vontade deles, Maya tornou-se um espírito obsessor  e quer viver  através de Emma o que não pode viver enquanto estava viva.

...

3 horas depois...

O sol finalmente estava nascendo sim eu já vi o sol nascer com Pierre ou pelo menos começar a nascer, porém agora não precisaríamos ter medo dele se tornar uma escultura enquanto estava no alto da torre. Eu esperava uma mudança física maior no meu amado,   talvez pelo menos ver a cor real de seus olhos, mas eles continuavam amarelos.

Conforme o sol nascia notei Durand um pouco preocupado e segurei sua mão, ele  sorriu e começamos a ver do alto da torre de Notre Dame Paris acordar, se é que dormia; conversamos coisas aleatórias sobre pessoas que viamos passar na rua  até que o alarme do meu celular tocou avisando que já eram 7:00 da manhã, me causando um pequeno infarto.

- Funcionou, o feitiço funcionou.  - Durand falou com os seus lábios a um centímetros dos meus.

Nós nos beijamos felizes , nosso beijo foi interrompido pelo sacerdote que apareceu na torre falando:

- Fico feliz que tudo tenha corrido  bem, mas alguns padres e a equipe de limpeza não tardam a chegar e estranhariam se a enorme Gárgula não estivesse no local habitual.

E essa foi a deixa para que eu fosse embora e Pierre voltasse ao seu modo estátua, mas agora sabia que poderiamos nos ver todas as noites independente da lua.

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