4 Quando tudo der errado

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Era muito difícil para mim viver em um lugar com tantas boas memórias e ao mesmo tempo com tantas memórias ruins, mas o quê eu mais detestava nisso tudo era a solidão.

Quando saía para ir ao supermercado, padaria ou algo do tipo , muitas vezes ouvia algumas vizinhas falarem:

-Pobre menina rica.

Por essas coisas não fazia muita questão de sair de casa sempre tinha que dar explicações sobre como estou ou sobre a morte dos meus pais; prefiro ficar em casa escrevendo, (na maioria das vezes meus personagens são companhia muito mais agradáveis do que as pessoas da vida real).

Mas havia apenas um vizinho que eu fazia questão de cumprimentar :seu nome é Jean ou Policial Leroy, ele havia se tornado um herói aqui em Nancy por ter impedido o estupro de uma adolescente.

Essa manhã quando sai de casa com a intenção de ir a padaria, Jean que estava de férias me convidou para tomar um café; por extinto quase falei não, mas pensei melhor: vivo reclamando que estou sozinha por que não tentar me distrair.

A verdade é que eu achava que era um insulto a memória de meus pais eu me divertir por isso ficava trancada em casa. Ficamos conversando na padaria por horas sobre o meu livro ( Parente não é gente) que Jean havia comprado , meu celular tocou e atendi rápido ao ver o prefixo; era alguém da Alemanha  informando me que minha avó havia falecido.

Era muito estranho fiquei sem chão, minha pressão baixou e eu quase desmaiei. Lembro que Jean repetia que iria chamar uma ambulância mas eu dizia :

-Não eu tenho que ir para Alemanha.

No mesmo momento da notícia as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, parecia que eu não tinha o direito de ser feliz, sempre que eu estava feliz acontecia alguma coisa. Jean me deu os pêsames e me levou até minha casa, mas o único pensamento que vinha em minha cabeça era : eu preciso comprar uma passagem de avião e alugar um helicóptero para não ter que ir de carro e ter que passar pela estrada onde meus pais morreram.

Jean se ofereceu para ir comigo , falei que não precisava, mas ele insistiu então falei que pagaria a passagem dele.

O enterro seria no dia seguinte as 17:00 então só levamos uma mala pequena cada um ( já que voltaríamos no dia seguinte ao enterro no vôo das 10:00 da manhã.

Fomos para o aeroporto de taxi e no caminho até o aeroporto não trocamos uma palavra.

Jean era loiro, olhos verdes , forte, alto; mas o que mais gostava nele era o fato dele saber respeitar meu silêncio; eu não estava mais acostumada a tanto falatórios , em geral eu ficava bem melhor com o silêncio apesar do excesso dele também me irritar algumas vezes.

Na metade do caminho começou a choviscar e em pouco tempo o que parecia uma simples chuva de verão se transformou em uma grande tempestade com relâmpagos , trovões, ventania é tudo que tinha direito. Foi exatamente nesse momento que tive a ideia do nome do livro que comecei escrever lá no aeroporto mesmo:

Quando tudo dá errado...

Ficamos por horas no aeroporto: tomamos 40 cafés, comemos 8 lanches, tomamos 8 refrigerante , compramos livros de caça-palavras e os fizemos por completo e agora eu estava sendo empurrada por Jean enquanto estava sentada no carrinho de colocar bagagens do aeroporto.

Já era por volta de 2 horas da madrugada, estávamos tentando dormir nos bancos do aeroporto: Jean sentado e eu deitada nos bancos usando com uma almofada de coração que havia comprado em uma lojinha para colocar minha cabeça.

- Por que está indo para Alemanha comigo? você nem conhecia minha avó,
tirando hoje nunca trocamos mais de dez palavras. Se pensa que vou herdar algo está muito enganado .

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