70- Invoca-me

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Era estranho, mas eu me peguei escrevendo o que havia acontecido: Pierre salvando a mulher, nossos voos por Paris e até o ataque de Jean a Pierre; não era nada formal, era mais como um diário do que com um segundo livro. Eu não tinha nenhum plano para uma continuação para o livro "Gárgula"; na verdade, eu tinha outros planos para minha vida. Estava gastando boa parte do dinheiro que havia juntado até então no meu novo projeto. Não posso nem quero me desfazer do meu apartamento na cidade Luz e ainda tive que vender a casa na Alemanha para me ajudar a comprar esta fazenda de trigo, pois não quero gastar toda a minha reserva.

Em meio a tudo isso, liguei a televisão de 29 polegadas da sala com móveis bem simples, pois ainda não tive tempo para comprar móveis para a casa da fazenda, e me deparei com minha prima reclamando que eles vivem uma vida simples, enquanto eu vivo uma vida de luxo.

- Não é possível.

Reclamou que o seu pai estava com cirrose e eles não tinham nem o meu número de telefone para me avisar, que não tinham dinheiro para o tratamento.

- Bebeu toda a adega do meu pai e todo meu dinheiro até eu fazer 18 anos e agora quer ajuda para o tratamento?

Desliguei a televisão e fui reescrever meu livro que virará filme natalino, para ocupar o meu tempo, pois eu só tenho mais 5 dias para enviar a adaptação para a Alfaflix.

Meu celular começou a tocar desesperadamente parei de digitar  e ao atender os telefonemas, vi que a entrevista da minha prima já estava surtindo efeito, pois vários repórteres me ligavam perguntando se eu não queria me defender das acusações da minha prima. Passei o número do meu advogado e passei para seis canais de TV e mais sete canais da Internet; quando desisti de atender as ligações, vi um rosto conhecido na tela do meu celular.

- Eugène.

Atendi rapidamente, pensando ser alguma informação de Pierre.

- Bonjour Eugène.

- Bonjour Emma, como estão as coisas?

- Se está perguntando, é porque não viu televisão hoje; minha prima está me acusando de não cuidar do meu tio, que adquiriu cirrose bebendo com o dinheiro que era para ser gasto para cuidar de mim quando adolescente. - Bufei. - Sei como é, depois que comecei a aparecer na TV graças ao caso do gárgula, começaram a aparecer parentes do buraco da fechadura, mas não liguei para  conversarmos sobre isso. Liguei para te avisar que passei seu endereço para Pierre, e ele falou que passará aí hoje.

- Muito obrigada pela informação, mas pela sua voz, acho que quer falar mais alguma coisa. - Falei desconfiada.

- Emma, você conviveu mais tempo com a Karen do que eu em todos esses anos... você acha...

- Eugène, matar o Esteban é totalmente diferente de roubar a ideia de um livro. Ela tinha adoração pelo Esteban, mas acho que se tem dúvidas sobre uma coisa como essa, é melhor terminar; o casamento tem que ser baseado na confiança."

A noite...

Tá, eu exagerei um pouco... exagerei muito. Assim que caiu a noite, tomei meu banho e depois fiquei de molho na água morna com óleo corporal de rosas mosqueta com colágeno, me sequei suavemente com uma toalha bem felpuda, vesti uma calcinha de renda branca e uma longa camisola de cetim da cor prata. Tirei as duas tranças dos meus cabelos e separei um vinho que apenas eu iria beber, já que Pierre não bebia, e coloquei uma tábua de frios que apenas eu iria comer pelo mesmo motivo. Por volta da meia-noite, fui para a escuridão, bem onde ficava o começo da plantação. Estaria mentindo se falasse que não estava com medo. Eu havia ouvido um barulho vindo dali, então continuei andando à procura de Pierre, quando senti algo duro e frio me tocar e, em questão de segundos, Pierre estava tapando a minha boca para que eu não gritasse. Pensei em morder seus dedos, mas logo vi que não seria uma boa ideia. Peguei em sua mão gelada e o levei para dentro de minha casa.

- Você está linda, é incrível...

- Eu sei, a semelhança entre mim e Maya, achei que já tivesse superado isso.

- Perdão. - Pierre se abaixou e começou  me dar vários beijos, enquanto seus dedos brincavam com minhas madeixas. Fomos até meu quarto, o único cômodo que eu havia mobiliado, e o clima começou a esquentar.

Pelo que entendi, o feitiço tinha feito com que a parte íntima de Pierre tivesse ficado como a de uma estátuas ( e para minha tristeza não foi a do Davi  de Michelangelo ) ou de bonecos, o membro inexistente na verdade. Porém, isso não me impediu de sentir prazer. Entramos no meu quarto aos beijos e tirei minha camisola e minha calcinha na sequência. Pierre ficou me olhando sem saber onde eu queria chegar. Encostei meu corpo quente no corpo gelado de Pierre( vestido ) e vi que, mesmo sem sua intimidade, ele estava tão excitado quanto eu. Depois de muito nos beijarmos, encaminhei seu dedo indicador até a minha intimidade extremamente úmida e gemi de prazer quando o dedo da gárgula me penetrou. Pierre me pegou em seu braço, como se eu fosse uma pluma, e me colocou em minha cama, enquanto continuava me penetrando com seu dedo indicador. Sua boca foi até meus seios, e eu fiquei inebriada com tudo isso. Claro que eu ansiava por ter seu membro em minha  intimidade , mas sabia que minha relação com Pierre enquanto ele fosse uma gárgula nunca seria normal. Gozei por diversas vezes, e quando paramos, Pierre pegou o edredom e algumas almofadas e colocou no chão, com medo de que seu peso quebrasse minha cama. Deitei-me encostando em Pierre, e ele colocou uma almofada entre nós para que  eu não sentisse  frio.

- Você pode vir para cá todas as noites, é afastado de tudo. É claro, você perderá a vista das falésias, já que durante o dia há muitos turistas aqui, mas à noite fica bem tranquilo.

- Emma, o novo arcebispo... eu não confio nele. Quero que fique longe dele, ele não parece ter ficado muito satisfeito ao saber que alguém me ajudou a quebrar o feitiço da lua. Tenho medo de que ele saiba que você me ajudou e tenha passado a informação ao Vaticano. O Vaticano não costuma ser muito agradável com quem burla as regras deles e tem  um motivo para eles serem tão rigorosos sobre magia, eles não querem que ninguém seja mais poderoso do que eles. Não posso ficar vindo aqui todas as noites, não quero que ninguém desconfie, não quero que você corra perigo. Pierre piscou algumas vezes, o que me deixou impressionada, pois geralmente ele não pisca, e pareceu estar ficando tonto. Meu amor saiu de perto de mim, vestindo sua habitual roupa de couro, e levou uma das mãos  a cabeça.

-Eu não estou me sentindo bem. - Pierre falou antes de sumir diante de meus olhos.

**Na catedral:**

Apareci sem saber como no escritório do arcebispo, enquanto ele tranquilamente assinava alguns documentos.

-Imagino que não deve ter sido muito agradável seu primeiro teletransporte, mas você se acostuma, pelo menos foi isso que eu ouvi dizer. Eu posso fazer isso, aparentemente usando algumas palavras em latim e seu nome, posso te invocar a hora que eu quiser, e você não tem escolha a não ser vir. O Vaticano tem um serviço especial para você: o duque  Hilton  de Gramont reapareceu em Paris. Ele é um carniceiro, um demônio que se alimenta de cadáveres. Até agora, ele está sendo tratado como um ladrão de túmulos. Sua tarefa é matá-lo sem que ninguém tome conhecimento. Tente não destruir muito o corpo do carniceiro; o Vaticano quer estudá-lo.

Eu sei que quando o Vaticano quer estudar algo, é apenas para descobrir como se apoderar do poder e usá-lo contra quem ousar ir contra eles. Virei as costas e fui em direção à torre, eu amo Paris , mas gostaria muito mais de  protegê-la se não fosse obrigado. Sei que se não fizer o que o Vaticano manda, eles me verão como inimigo e arrumarão um jeito de me destruir."

Gárgula ( +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora