Juan de Oliveira Cardoso
04 de março — 08:17
Sábado— Por favor, Juan, o que custa você deixar? — Bruna bateu o pé mais uma vez.
Revirei os olhos enquanto colocava meu pão na sanduicheira. Mais uma vez ela veio com essa história de trabalhar para ajudar em casa.
— Já falei que não, Bruna, não adianta insistir. — Falei. — Você só tem dezesseis anos, não era nem para pensar em trabalhar.
— Mas a nossa realidade é outra, Juan, a mamãe está se matando de trabalhar no salão, você trabalha a semana inteira em dois empregos e as contas não param de chegar, a Julinha precisa estudar, estamos sem opção. — Argumentou. — Você mesmo disse que começou a trabalhar com quatorze.
— Sim, eu disse e olha no que deu, quase não terminei o ensino médio e sou um zé ninguém. — Cruzei os braços olhando em seus olhos. — Você e a Beatriz precisam estudar, Bruna, eu trabalho em dois empregos justamente para que vocês não precisem parar de estudar pra trabalhar. Quero as duas na faculdade, fazendo enem ou seja lá o que tem hoje em dia para vocês serem alguém nessa vida. Ninguém vai a lugar nenhum sem estudar não, Bru.
— Juan...
— Acabou o assunto? Já falei que não e não se fala mais nisso, e não venha me arrumar um emprego escondida, eu sei muito bem por onde vocês andam. — Ela bufou saindo da cozinha.
Beleza, muita gente vai falar que elas já tem idade o suficiente para trabalhar, ajudar em casa, mas eu não quero isso, entendeu? Eu desde muito novo tive que pegar a responsabilidade de uma casa, cuidar da minha mãe e das minhas irmãs. Meu pai faleceu quando as gêmeas tinham dois anos, mesmo muito novo tive que assumir a família, ajudava minha mãe com elas e vendia bala no sinal, com quatorze consegui um emprego na mecânica que trabalho até hoje, eu ficava lavando as coisas por lá mas me dava um dinheiro para ajudar em casa.
A Julinha veio de um relacionamento rápido da minha mãe, o cara é um desgraçado, só acabou com minha mãe e meteu o pé deixando ela grávida. Agora graças a Deus ela se recuperou, começou a trabalhar em um salão e está conseguindo me ajudar em casa.
De segunda a sexta eu trabalho na mecânica das nove até às três da tarde, e na terça, quarta e sábado eu trabalho como entregador em uma pizzaria, fico das sete da noite até uma da manhã, chego acabado mas dá mais uma grana aqui pra casa. Hoje tô indo trabalhar para ajudar o seu Inácio, ele tá cheio de trabalho lá e tem uns que tem prazo curto. Quero que minhas irmãs tenham um futuro diferente do meu para lá na frente não terem que trabalhar igual um maluco igual eu, a noite inteira e chegar acabado.
Elas merecem o mundo.
— Filho, eu estou indo para o salão. — Minha mãe entrou na cozinha mexendo em sua bolsa. — As meninas vão trazer uns amigos aqui para casa, para fazer um trabalho da escola, estou sem dinheiro para deixar um lanche para eles, você tem alguma coisa? — Me olhou. Tirei o meu pão da sanduicheira e peguei um pouco de café.
— Tenho uns trocados aqui, vou comprar um pão e fazer um cachorro quente para eles. — Ela concordou. — Que horas eles vem?
— Três e meia.
— Beleza, vou sair do trabalho e passo no mercado.
— Vou indo, fica com Deus. — Beijou meu rosto.
— A senhora também, mãe, tenha um bom dia. — Ela agradeceu saindo de casa.
Tomei meu café da manhã rápido e fui para o banheiro escovar os dentes, passei no quarto das meninas para me despedir, Bruna e Beatriz estavam deitadas na beliche, mexendo no celular enquanto Júlia dormia na cama ao lado.
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Amor que cura
Romance"Um dia alguém vai chegar, o amor que cura Me abraçar e me segurar, só não me segura Me mostrar que ainda vale amar e cumprir a jura De ficar e não abandonar da forma mais pura..." Depois de ser abandonada por quem mais deveria amá-la e sofrer u...